Em 1969 a Nissan apresentou ao mundo o 240Z, um esportivo de dois lugares inspirado pelos grand tourers britânicos que, na época, eram alguns dos carros mais cobiçados do planeta — especialmente o Jaguar E-Type. Sendo assim, não é difícil deduzir que sua vocação para competições estava nas corridas de turismo.
Contudo, o clássico Z-Car também acabou fazendo história no WRC. Mais precisamente, no East African Safari Rally, prova que foi vencida pelo clássico japonês em 1971 e 1973.
O primeiro Safari Rally aconteceu em 1953, e foi realizado para celebrar a coroação da Rainha Elizabeth II — na época o Quênia, onde é realizado o rali, era uma colônia britânica, daí a homenagem. Desde o início, a prova tem a reputação de ser uma das mais duras e desafiadoras do planeta, passando por dunas, rios e estradas precárias no clima árido da savana africana. Por esta razão, com o tempo o Safari Rally se tornou um dos eventos mais populares do WRC. E não falamos apenas do público, mas dos próprios fabricantes, que dedicavam um esforço especial para vencer o rali africano.
Foi o caso da Datsun que, em 1969, preparou o clássico 510 para competir. O pequeno sedã familiar recebeu suspensão elevada, pneus maiores e uma preparação que levou a potência do motor 1.6 para 130 cv. A vitória, contudo, só veio no ano seguinte, sob o comando de Edgar Herrmann, um queniano nascido na Alemanha contratado pela Datsun depois de uma campanha bem-sucedida pela equipe de fábrica da Porsche no fim dos anos 1960.
Para se ter uma ideia, naquela época o número de participantes que largavam no Safari Rally era 90 carros, e somente 15 terminavam a prova, em média. Só que a vitória do 510 deu à Nissan confiança para, no ano seguinte, estrear um novo carro.
Este carro, como você já deve ter sacado, foi o Nissan Fairlady Z. Contudo, ele competiu como Datsun 240Z – provavelmente pela mesma razão pela qual o nome foi adotado nos EUA: “Fairlady” era feminino demais. De qualquer forma, nomes eram o que menos importava naquele 1971, quando o cupê com nome americano, linhas britânicas e alma japonesa foi correr na África.
Seu motor, um seis-em-linha de 2,4 litros, entregava 151 cv na versão de rua, e foi preparado para render 220 cv sem modificações radicais — apenas um cabeçote retrabalhado, três carburadores Solex 44H e um comando mais agressivo. A suspensão, independente do tipo McPherson com braços inferiores nas quatro rodas, foi elevada e o carro recebeu pneus off-road de medidas 175/70/14.
A principal característica dos Datsun, elogiada por Herrmann, era a confiabilidade mecânica – algo essencial em um percurso de 6.200 km que compreendia os territórios do Quênia, de Uganda e da Tanzânia. Partindo na 11ª posição, o carro de Herrmann e seu navegador Hans Schüller, conseguiu a segunda vitória consecutiva para a Nissan/Datsun em 1971 – com direito a uma dobradinha, com o queniano Shekhar Mehta na segunda posição, com outro 240Z.
O bom desempenho de Herrmann e Mehta, que brigaram pela primeira posição ao longo de toda a prova, garantiu lugares na equipe da Datsun aos dois quenianos para 1972. Infelizmente, porém, eles não tiveram a mesma sorte, e a melhor posição do 240Z foi um quinto lugar naquele ano. Por outro lado, naquele ano o Datsun 240Z conseguiu um terceiro lugar no Rally Monte Carlo.
O ano de 1973 trouxe uma grande mudança à competição: a inauguração do Campeonato Mundial de Rali. Como sabemos, naquele ano o Alpine A110 ficou com o título de construtores (e ainda não havia um campeonato para os pilotos). Contudo, a reputação do Safari Rally era grande o suficiente para que a Datsun concentrasse seus esforços em vencê-lo.
Assim, os 240Z chegaram para a prova com uma vantagem importante: enquanto os carros da maioria das outras equipes precisavam ser versáteis para competir em diferentes tipos de terreno (asfalto, gelo e terra), os Datsun eram preparados especificamente para o Safari Rally. Assim, Shekhar Mehta conseguiu vencer a edição de 1973 e marcar os primeiros pontos da Nissan no Mundial de Rali, e a única vitória do 240Z no WRC.
O 240Z ainda disputou o WRC em 1974 antes de ser substituído pelo 260Z. Ele não chegou a ser campeão e nem voltou a vencer depois de 1973, mas suas vitórias no Safari Rally certamente ajudaram a moldar o nome do esportivo no imaginário entusiastas. Fãs do modelo (que não são poucos) encaram o resultado como uma prova da versatilidade do 240Z: nas ruas, um dos melhores carros que um entusiasta old school pode querer para acelerar. Nos ralis, um prodígio capaz de enfrentar os piores obstáculos à frente de todos os outros.