Na última parte desta longa série sobre os carros campeões do WRC, falamos sobre a Subaru e seus três títulos em sequência com o Impreza 555 sob o comando de Colin McRae. Acontece que, ao mesmo tempo, um compatriota estava na sua cola — e dando ao finlandês Tommi Mäkinen quatro títulos consecutivos no campeonato de pilotos.
Sendo assim, não há porque definir, aqui e agora, a superioridade de um sobre o outro: o Impreza tem três títulos de construtores no currículo e o Lancer, apenas um, mas o Evo só teve seu recorde de títulos de pilotos em sequência quebrado na última década, com as nove vitórias de Sébastien Loeb. É um debate que nós não vamos resolver hoje. Não vamos resolver nunca.
E nem estamos aqui para isto, e sim para contar como o Lancer Evolution V deu à Mitsubishi o título da temporada de 1998 do WRC.
Os primeiros esforços da Mitsubishi datam ainda da década de 70, com o Lancer 1600 GSR e seu motor de 171 cv disputando provas importantes do WRC, como o Safari Rally — com direito a uma vitória tripla em 1976, em uma história que você pode ler com detalhes aqui. Nos anos 80 o Lancer de segunda geração não conseguiu resultados expressivos na competição. Estes só apareceram no fim da década de 80, com a chegada do Galant VR-4 e suas seis vitórias entre 1988 e 1992.
Para conseguir mais do que isto, a Mitsubishi precisava de um carro menor, mais leve e mais ágil. E assim nasceu o Lancer Evolution, especial de homologação criado especialmente para competir no WRC, fazendo sua estreia em 1993. Naquele ano, o carro disputou apenas sete das 13 etapas do campeonato, culminando um terceiro lugar na Grécia e um segundo lugar no Reino Unido. No ano seguinte, 1994, o Evo II conseguiu dois segundos lugares e um terceiro — no Safari Rally; em Acrópolis, na Grécia; e na Nova Zelândia, respectivamente.
Uma característica marcante do Evo no WRC era sua consistência: apesar da constante evolução (pun intended), sua essência permanecia a mesma — um carro de tração integral com motor turbo de dois litros e cerca de 300 cv. Os Evo II e III disputaram juntos a temporada de 1995 e cada dele um conseguiu uma vitória: o Evo II venceu o Rali da Suécia e o Evo III, na Austrália — com Kenneth Eriksson ao volante nas duas vezes.
Acontece que não foi Eriksson quem entrou para a história por voltar a vencer pela Mitsubishi depois de três anos. Esta honra ficaria com um finlandês que, nos ano seguintes dominaria o Mundial de Rali e acabaria com a alegria da Subaru: Tommi Mäkinen.
Veja bem: o Evo III quase não teve tempo de mostrar serviço nos ralis, visto que entrou para a competição nas últimas etapas. E, apesar de o Evo manter a mesma essência ao longo de quase toda a sua história, mudanças aqui e ali — aerodinâmica, câmbio e sistema de tração integral — o tornavam cada vez melhor. Não foi à toa que, entre 1996 e 1999, Mäkinen não desceu do lugar mais alto do pódio e conquistou nada menos que quatro títulos consecutivos com os Evo III, IV, V e VI. Este último até ganhou uma edição especial com o nome do piloto finlandês!
O fato é que 1998 foi o melhor destes quatro anos. Naquela temporada a Mitsubishi conseguiu seu primeiro e único título no campeonato de construtores.
O carro era o Lancer Evolution V e, francamente, era o melhor de todos os Evo. As diferenças estavam nos detalhes: bitolas mais largas, para-lamas alargados, motor longitudinal, módulo de controle totalmente recalibrado e um novo turbo.
Quatro vezes Mäkinen
Mais uma vez duas gerações do Evo dividiram a tarefa, mas foi o Evo V quem disputou a maior parte das etapas — nove das 13 disputadas. E, começando com uma vitória de Tommi Mäkinen na Espanha, o quinto Lancer Evolution não parou mais de vencer: foram mais cinco vitórias, além de alguns segundos e terceiros lugares com o britânico Richard Burns.
A Subaru de Colin McRae não teve vez em 1998. Contando com a vitória do Evo IV na Suécia, foram seis da Mitsubishi contra três da Subaru.
Assim, o Evo V deu à Mitsubishi os dois canecos em 1998, e o terceiro título de Mäkinen — mesmo que o finlandês nem tenha terminado o Rali da Grã-bretanha, por perder a roda traseira. Mäkinen ainda conquistaria o quarto no ano seguinte, com o Evo VI. Isto deu ainda mais combustível para a disputa entre Subaru e Mitsubishi, rixa que se estende até hoje.