O Lotus 98T talvez seja um dos carros de corrida mais reconhecidos pelo público brasileiro, não somente por sua bela pintura preta e dourada, que marcou época e frequentemente é considerada a mais bela de todos os tempos. Também porque foi o carro que levou Ayrton Senna a nada menos do que sete poles, duas vitórias e oito pódios em uma temporada de 16 corridas.
Mas ele tem como ficar ainda melhor: quando tira a roupa e mostra toda a sua beleza mecânica desenvolvida em um dos períodos mais insanos (e saudosos) da Fórmula 1.
Quando a volta dos motores turbo à categoria foi anunciada, com motores V6 de 1,6 litro como nos anos 1980, por um instante parte do público imaginou que os bons tempos estavam de volta, mas você sabe… os tempos mudaram. Dizem que a gasolina vai acabar em um futuro próximo e para ser o laboratório de novas tecnologias, agora as corridas de F1 visam também a eficiência, e não apenas potência e velocidade pura.
Isso tornou os carros turbo de hoje bem diferentes dos antigos — e não só porque eles têm sistemas híbridos de recuperação de energia. Os atuais motores turbo usam apenas uma turbina, instalada em posição padronizada pelo regulamento e com pressão máxima limitada em 3,5 bar (também conhecido como treskilimei) e para minimizar o lag do turbo os carros agora têm um motor elétrico que mantém a rotação da turbina com o acelerador aliviado.
No Lotus 98T o motor também é um V6 de baixa cilindrada (1,5 litro), mas as semelhanças param por aí. Em vez de uma turbina, o motor Renault Gordini EF15B usava duas, uma para cada bancada de cilindros. E o modo de combater o lag da turbina era modificando o ponto de ignição para produzir backfire, que sozinho era uma atração à parte. As duas turbinas produziam até 5,5 bar de pressão para produzir mais de 1.000 cv em configuração de classificação. Na foto abaixo é possível ver as turbinas, os enormes intercoolers, os dutos de admissão de ar para as turbinas e o coletor de admissão do motor.
Outra boa diferença — e que interfere diretamente no ronco dos carros — é o escape. Nos F1 desta temporada o regulamento obriga o uso de uma saída simples centralizada. No Lotus 98T, havia um tubo com canal duplo em cada turbina, e ainda outros dois tubos de escape da válvula wastegate. Na foto abaixo o carro teve a transmissão removida para melhor visualização do sistema:
Ainda nessa foto acima, é possível ver o volante do motor, praticamente do mesmo tamanho que o volante de um motor de rua (embora muito mais leve), porém é uma peça enorme perto das usadas atualmente. O câmbio também era um componente maior, considerando que os atuais têm oito marchas e o Lotus 98T começou a temporada com um de cinco marchas feito em parceria com a Hewland. Na foto abaixo podemos ver detalhadamente os semi-eixos saindo direto da caixa, assim como os pontos de fixação dos braços triangulares da suspensão traseira pullrod e o radiador do óleo da trasmissão, logo acima da luz de freio. Aquela ponta metálica abaixo da luz de freio é onde o auxiliar de partida se encaixa para girar o motor na hora de ligar o carro.
Nesta outra imagem é possível ver como ficam as saídas de escape com a transmissão montada, uma parte dos amortecedores inboard, e o fundo plano sob o monocoque.
Por último, uma visão geral do conjunto:
E como não poderia faltar, Ayrton Senna mostrando todo o potencial do Lotus 98T do jeito que só ele sabia fazer: