AFun Casino Online

FlatOut!
Image default
Car Culture

McLaren Artura vs. Ferrari 296 GTB: de que lado você está?

Em meio à urgência com a qual a transição para os carros elétricos vem sendo tratada, a Ferrari apresentou em junho um novo supercarro com um novo motor a combustão – a 296 GTB, que recebeu um V6 biturbo de três litros com tecnologia híbrida e 830 cv.

A nova Ferrari, a princípio, não substitui ninguém, de acordo com a própria fabricante. Mas a tendência é que, com o cerco cada vez mais fechado aos veículos não-eletrificados (ao menos na Europa), a F8 Tributo – que, afinal, ainda tem raízes na 458 Italia de 2009 – saia de cena nos próximos anos. Híbrida ou não, a 296 GTB parece uma substituta digna.

Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , ,  e muito mais!

 

FLATOUTER

O plano mais especial. Convite para o nosso grupo secreto no Facebook, com interação direta com todos da equipe FlatOut. Convites para encontros exclusivos em SP. Acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Direito a expor ou anunciar até sete carros no GT402 e descontos em oficinas e lojas parceiras*!

R$ 26,90 / mês

ou

Ganhe R$ 53,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

*Benefícios sujeitos ao único e exclusivo critério do FlatOut, bem como a eventual disponibilidade do parceiro. Todo e qualquer benefício poderá ser alterado ou extinto, sem que seja necessário qualquer aviso prévio.

CLÁSSICO

Plano de assinatura básico, voltado somente ao conteúdo1. Com o Clássico, você terá acesso livre a todas as matérias da revista digital FlatOut, incluindo vídeos e podcasts exclusivos a assinantes. Além disso, você poderá expor ou anunciar até três carros no GT402.

R$ 14,90 / mês

ou

Ganhe R$ 29,80 de
desconto no plano anual
(pague só 10 dos 12 meses)

1Não há convite para participar do grupo secreto do FlatOut nem há descontos em oficinas ou lojas parceiras.
2A quantidade de carros veiculados poderá ser alterada a qualquer momento pelo FlatOut, ao seu único e exclusivo critério.

Mas não estamos aqui para falar só da 296 GTB – até porque já fizemos uma análise dela no lançamento. A questão é que, há poucos meses, outro superesportivo tecnicamente muito semelhante à nova Ferrari foi apresentado: o McLaren Artura.

O motor é um pouco maior, com três litros, mas também é um V6 biturbo com sistema híbrido, totalmente novo, lançado em uma época de transição para os carros elétricos. Sinceramente, só esses fatos são animadores para quem tem gasolina correndo nas veias. Mas é interessante colocar as duas lado a lado e ver o que elas têm em comu e também suas diferenças. Que não são tantas, na verdade, mas são importantes e relevantes.

Então, vamos fazer um exercício de comparação entre os dois mais novos supercarros com motor V6 biturbo híbrido do momento – uma configuração que pode muito bem ser a última antes de todos os supercarros novos do mundo se tornarem totalmente elétricos.

Antes de começar a falar de números e dados técnicos, porém, que tal algo mais subjetivo?

 

Razão vs. emoção?

Quando se fala em carros italianos, é difícil evitar clichês como “alma” e “paixão” – ainda mais se for um esportivo, e ainda mais se for uma Ferrari. E nem me refiro à fama de “temperamentais” que os carros italianos têm – é algo mais profundo e abstrato. E a Ferrari 296 GTB é um exemplo perfeito. Ela tem um legado para seguir, olhando para o futuro com inspiração latente no passado.

Não é um carro de visual retrô – ao contrário, é a primeira Ferrari intermediária totalmente nova e isso fica evidente em cada detalhe. Mas há elementos que conversam com a história da marca, como as entradas de ar nas laterais que lembram a 250 LM, as proporções harmônicas, os faróis de desenho mais comedido, as lanternas quádruplas. As linhas mais limpas, a dianteira que não lembra um inseto (desculpem os fãs das outras Ferrari modernas, mas nem fui em quem criou essa analogia). O nome, como falei mais acima. É um carro que exala “Ferrari” como qualquer outra. Não tem o mesmo V8 girador de uma 458 ou o câmbio manual com grelha que já foi uma das características mais simbólicas dos esportivos de Maranello (claro, os Lamborghini também tinham, mas o ponto não é esse). Mas é possível traçar uma linha do tempo repleta de modelos lendários e posicionar a 296 GTB nesta linha com muita propriedade.

Não dá para fazer o mesmo com o McLaren Artura. Não dá para dizer que ele carrega nos ombros um legado tão grandioso quanto o da 296 GTB.

Embora a McLaren possa gabar-se de já ter feito aquele que, para muitos, ainda é o supercarro definitivo, na definição mais crua do termo: o McLaren F1, que na década de 1990 foi o automóvel mais rápido e avançado do planeta sem turbos, motores elétricos, aletas atrás do volante ou assistências eletrônicas, é difícil livrar-se da impressão que o McLaren Artura é um carro mais estéril, mais quadrado que a Ferrari 296 GTB. Um carro que, com certeza tem muitos segredos técnicos impressionantes, mas não pode olhar para trás e espelhar-se em dezenas de outros esportivos clássicos. A McLaren não pode dizer que seu nome é uma referência a um veículo icônico dos anos 1960, feito por um engenheiro apaixonado por sua profissão e dono de um temperamento forte que o tornaria uma das figuras mais emblemáticas da história do automóvel. (Claro, a McLaren tem uma tradição enorme no automobilismo, não só na Fórmula 1 mas também nas corridas de longa duração, mas a relação com os carros de rua não tem a mesma intensidade que na Scuderia Ferrari).

Aliás, o nome ironicamente soa italiano, mas a McLaren nunca disse seu significado – especula-se que a inspiração possa ter sido o famoso Rei Arthur, mas fora isso não há qualquer indicação do porquê. Estranhamente, o nome alfanumérico da Ferrari 296 GTB carrega mais força.

Quanto ao visual, não dá para dizer que o Artura é feio – não há nada que comprometa a harmonia das linhas, nem algum elemento que se sobressaia negativemente (né, BMW?). Mas dá para perdoar quem confundir com qualquer outro McLaren recente, especialmente o 570S ou o McLaren GT. A fabricante de Woking pode até mexer nos elementos aerodinâmicos e nos detalhes finos, mas a identidade visual é praticamente a mesma desde o 650S, apresentado lá em 2014.

É uma comparação subjetiva, claro, mas é inegável que o McLaren Artura, apesar de bonito, pode ser considerado menos memorável por muita gente.

 

V6 vs. V6

Os motores de seis cilindros em V de ambos os carros são muito parecidos, tecnicamente falando. Os dois trazem deslocamento praticamente idêntico – 2.993 cm³ no McLaren e 2.992 cm³ na Ferrari (ou seja, o “296” é mais uma licença poética) e exatamente o mesmo ângulo de 120° entre as bancadas de cilindros. E as razões técnicas para isso são as mesmas: essa configuração permite o arranjo denominado “hot V”, no qual os turbos ficam entre as bancadas de cilindros – resultando em um fluxo mais “direto” dos gases de escape, e também permitindo um conjunto mais compacto e posicionado mais baixo no cofre, o que deixa o centro de gravidade mais perto do chão.

Motor da Ferrari 296 GTB

Vamos aos números: na Ferrari, o motor entrega sozinho 663 cv e a 8.000 rpm – são 221 cv por litro, o que a fabricante diz ser um recorde. O McLaren, por sua vez, desenvolve 585 cv a 7.500 rpm. Os dois motores são ligados a transmissões de dupla embreagem e oito marchas, e ambos usam sistemas híbridos plug-in com baterias de 7,4 kWh.

Motor do McLaren Artura

Mais interessante, porém, é ver o que os dois carros têm de diferente. No caso da Ferrari, estamos falando de um sistema híbrido mais potente – o na Ferrari são 167 cv. Combinados, ambos os motores entregam 830 cv e 75,3 kgfm de torque. No Artura, o motor elétrico tem 95 cv – somado ao motor a combustão, temos 680 cv e 73,4 kgfm de torque. Curiosamente, o câmbio do McLaren não tem marcha à ré: em vez disso, o motor elétrico trata de mover o carro para trás quando desejado. Com isso, a McLaren conseguiu eliminar alguns quilos do câmbio.

A diferença em potência é considerável – a Ferrari tem 150 cv a mais. No torque os dois estão quase empatados. E o empate técnico também ocorre no desempenho: apesar da potência extra, a Ferrari vai de zero a 100 km/h nos mesmos 2,9 segundos que o McLaren. E a velocidade máxima de 338 km/h da Ferrari é apenas 8 km/h mais alta que no McLaren. Como uma Ferrari que tem 150 cv a mais que um McLaren pode ter praticamente o mesmo desempenho? Você começará a entender no próximo tópico.

 

Dimensões e suspensão

O peso dos dois carros pode ajudar a explicar a diferença mínima em desempenho. A McLaren se orgulha – e deve mesmo se orgulhar – de ter conseguido reduzir o peso seco do carro a 1.395 kg, sendo apenas 46 kg a mais que seu antecessor, o 570S. Boa parte do mérito está na nova estrutura monocoque que, sozinha, pesa parcos 82 kg (menos que este que vos escreve, para se ter ideia). Mas o sistema híbrido também é muito leve – motor e bateria, juntos, pesam só 130 kg. Com fluidos, em ordem de marcha, o Artura tem saudáveis 1.498 kg.

No caso da Ferrari, o peso seco é de 1.470 kg. A Ferrari não costuma divulgar o peso em ordem de marcha mas, usando como parâmetro o Artura, a 296 GTB deve ficar na ordem dos 1.550 a 1.600 kg. É uma diferença considerável que praticamente anula a potência extra — veja só: o McLaren pronto para andar pesa apenas 28 kg a mais que a Ferrari com todos os reservatórios vazios, incluindo o tanque de combustível.

Nas demais dimensões, porém, os dois carros são mais próximos. Confira na tabela abaixo:

Perceba que a o McLaren Artura tem 4 cm a mais no entre-eixos – uma diferença mínima. Por outro lado, a maior largura da Ferrari permite bitolas maiores. Estes dois fatores combinados levam a crer que as eventuais diferenças no comportamento dinâmico poderão ser creditadas aos diferentes arranjos de suspensão.

No McLaren Artura, a dianteira utiliza um eixo multilink, enquanto a traseira traz braços triangulares superiores e braços de controle inferiores e um novo diferencial de deslizamento limitado eletrônico (novidade para a McLaren). Já a Ferrari aposta em braços triangulares sobrepostos nos quatro cantos, com amortecedores magnéticos de série e, no pacote Assetto Fiorano, amortecedores pressurizados Multimatic (os mesmos usados nas Ferrari 488 GT3 e GTE).

 

Fechando a conta

Se você estava esperando uma conclusão categórica, sinto decepcioná-los – não dá para dizer qual dos dois é melhor sem ter andado no McLaren Artura e na Ferrari 296 GTB. O que dá para dizer, porém, é que a diferença de potência parece considerável em um primeiro momento, mas tem tudo para ser apenas mais um entre vários fatores a se levar em conta na hora de colocar os dois lado a lado na pista

E, reforçando: ver dois novos supercarros, com dois motores totalmente novos, sendo lançados em pleno 2021 praticamente juntos é animador. Independentemente do lado que você escolher.

Só que a McLaren tem uma carta na manga, e ela está no preço: o Artura custa US$ 225.000 (R$ 1,16 milhão em conversão direta, julho de 2021) – o que dá quase US$ 100.000 a menos que a Ferrari 296 GTB, que sai por US$ 321.000 (R$ 1,65 milhão). Mesmo com 150 cv a menos, o McLaren anda junto da Ferrari por pouco mais de 2/3 do valor.

Assim, objetivamente e matematicamente, dá para dizer que o McLaren Artura é um melhor negócio.

Só que… estamos falando de carros que carros cuja compra costuma ser grandemente emocional. E, nesse caso, acredito que o cara que sai de casa para comprar uma Ferrari voltará para casa de Ferrari. Ele não vai comparar preços e decidir que o McLaren Artura é um melhor negócio que a 296 GTB só porque ela custa US$ 100.000 a menos. Na verdade, em algumas situações, pode até ser o oposto. Prestígio é algo pelo qual não se barganha.