É bacana ser pego de surpresa nestes tempos de tanta dificuldade para manter segredo. Quer dizer, a gente já sabia que a McLaren estava trabalhando em um novo hipercarro, mas para nós ele iria se chamar P15, seguindo a nomenclatura atual da marca. Só que o novo McLaren se chama Senna. McLaren Senna. Para nós, brasileiros, a escolha tem um significado ainda mais especial, e quase chama mais a nossa atenção do que o restante do carro. Mas só por um momento, porque… bom, dá uma olhada nele!
O McLaren Senna foi apresentado na noite de ontem (9) durante um evento na sede da fabricante, em Woking, no Reino Unido, e promete ser o McLaren mais rápido, veloz e extremo de todos. A companhia britânica é bem clara: o McLaren Senna pode até ser legalizado para as ruas, mas não foi feito para elas.
Segundo a McLaren, esta é a principal diferença de conceito entre o P1 e o Senna: o primeiro foi concebido para ser o melhor carro possível nas ruas e nas pistas; o segundo, para ser o melhor carro de pista que se pode conduzir nas ruas.
Isto quer dizer que, fora o carpete, o revestimento do teto e as almofadas dos bancos concha (que podem ser de couro ou Alcantara), não há qualquer tipo de forração no interior – é tudo fibra de carbono nua. Há espaço para dois ocupantes, mas não há qualquer tipo de compartimento de bagagem: o espaço atrás dos bancos é reservado para dois capacetes e dois macacões. Talvez caibam dois pares de sapatilhas de pilotagem ali, mas a McLaren não confirma nada. Você não vai querer ir com ele para qualquer outro lugar que não seja o circuito, e ponto final.
A McLaren também diz que o exterior do McLaren Senna é um perfeito exemplo de “forma seguindo função” e, bem, não podemos discordar: é um carro… único. O parentesco com o 720S fica visível nos faróis e na silhueta geral, mas todo o restante da carroceria é bem diferente. Se o hipercarro não é bonito no sentido tradicional da palavra, também não conseguimos dizer que ele é feio: se você é como nós, não tem dificuldade alguma em enxergar a beleza funcional de sua construção. Embora as proporções sejam meio esquisitas – especialmente a proporção (ou a falta dela) entre os balanços dianteiro e traseiro.
O monocoque Monocage III, estrutura que o McLaren Senna compartilha com o 720S, recebe aqui painéis de carroceria que parecem “flutuar” sobre a estrutura, formando entradas e saídas de ar que parecem não ter fim. O McLaren Senna é um carro que parece leve e de fato é: pesa 1.198 kg em ordem de marcha. Um Golf GTI, para efeito de comparação, pesa 1.317 kg. É o carro mais leve já feito pela McLaren depois do F1, que tinha 1.138 kg. Uma diferença pequena, diga-se, e um grande feito do engenheiros ingleses.
A McLaren diz que é impossível seguir qualquer linha do carro de ponta a ponta sem ser interrompido por uma passagem de ar. Na dianteira, elas estão embaixo dos faróis, com uma boca generosa abaixo do bico do carro, que também tem duas entradas. Há aberturas no capô, vãos sob os para-lamas, uma gigantesca tomada de cada lado na lateral traseira, mais uma pequena entrada de ar na soleira das portas e saídas de ar nos pés da asa traseira. Também há uma tela sob as lanternas traseiras (que são duas finas lâminas de LED), um obsceno difusor na parte inferior da face traseira e um scoop no teto.
É um visual carregado e agressivo, mas isto não nos impede de enxergar elementos interessantes, como a opção por uma cobertura de vidro em vez de fibra de carbono nas portas; as próprias portas inspiradas pelo McLaren F1; ou o console acima da cabeça do piloto onde ficam o botão de partida e os comandos das travas e vidros. É visível que há um propósito e que as formas foram esculpidas pela necessidade de encontrar o sweet spot entre redução de arrasto e aumento de downforce. Além disso, o McLaren Senna conta com elementos ativos no conjunto aerodinâmico, que também desempenham algumas funções extras. A asa traseira é dupla e controlada por um sistema hidráulico. Seu ponto mais alto fica a 1.219 mm do chão quando o carro está parado, e a peça se reposiciona constantemente para melhorar os núveis de downforce e equilíbrio aerodinâmico, além de funcionar como air brake em frenagens mais pesadas.
O scoop no teto, por sua vez, ajuda a direcionar ar frio para o coletor de admissão, mas foi projetado também para amplificar o ruído do ar sendo sugado e contribuir para a experiência de pilotagem. Já as saídas de ar nos suportes da asa traseira ajustável direcionam o ar para longe do deque traseiro e para as laterais do carro, criando assim uma zona de baixa pressão que “suga” o ar quente de dentro do cofre, ao mesmo tempo em que não deixam que este ar interfira na função aerodinâmica da asa. Os gigantesco difusor e as saídas de escape também ajudam neste processo, assim como as finas lanternas traseiras.
O motor é simplesmente o mais potente já usado por um McLaren. O V8 de 3,8 litros do P1 tinha 737 cv e recebia a ajuda de mais 178 cv do conjunto elétrico. No caso do McLaren Senna, são 800 cv vindos do V8 biturbo de quatro litros, derivado daquele utilizado no 720S, que tem 720 cv. O torque é de 81,6 kgfm. Chamado M840TR, o V8 do McLaren Senna tem virabrequim plano, cárter seco, componentes mais leves no interior, turbos retrabalhados e wastegates controladas eletronicamente. Um detalhe bacana: até mesmo os coxins do motor foram desenhados de forma a projetar o ronco para dentro do habitáculo.
Até mesmo os amortecedores das portas são expostos para reduzir peso
Sua força é moderada por uma caixa de dupla embreagem e sete marchas com modo automático ou manual. O conjunto mecânico possui diferentes ajustes, selecionáveis ao toque de um botão – Comfort, Sport e Track. Em todos eles, a McLaren garante que as respostas do motor e do câmbio são imediatas e violentas. Curiosamente, a McLaren não deu dados de aceleração ou velocidade máxima, mas nos parece evidente que ele irá de zero a 100 km/h na casa dos 2,5 segundos ou menos, e irá muito além dos 340 km/h.
Talvez a ausência de dados de desempenho seja proposital porque o foco do carro não é a aceleração bruta, e sim o desempenho como um todo. Para fazer curvas bem feitas, o McLaren Senna usa o mesmo sistema de suspensão por braços sobrepostos do 720S, que traz o mesmo sistema RaceActive Chassis Control II (RCC II): os quatro amortecedores são interconectados por um conjunto de dutos hidráulicos que atuam no lugar das barras estabilizadoras originais, oferecendo ajustes contínuos de resistência à rolagem e carga. É exclusivo do McLaren Senna o modo “Race” mode, que reduz a distância do solo, abaixa o centro de gravidade e aumenta a rigidez da suspensão.
O carro usa pneus P Zero Trofeo R com composto feito pela Pirelli sob medida para o McLaren Senna, calçando rodas de cubo rápido que são as únicas disponíveis para o carro. Os freios usam discos de carbono-cerâmica.
A McLaren diz que a produção do McLaren Senna será limitada a 500 exemplares. O preço não foi revelado, mas estima-se que fique acima de US$ 1 milhão. De qualquer forma, esta informação já não seria muito útil, caso a tivéssemos: todos os carros já estão reservados.