Nos EUA o Ford Fusion é considerado um sedã médio, a Chevrolet S10 é considerada uma picape compacta e o copo de refrigerante “pequeno” do McDonalds tem quase 500 ml. Como você pode ver, eles têm um conceito um pouco diferente do nosso em relação a tamanhos e medidas e é por isso que todo americano acha normal circular no dia a dia das grandes cidades com utilitários enormes.
Foi por esse motivo, também, que um dia a Mercedes decidiu criar o ML e a BMW foi atrás com o X5. Hoje, esses dois modelos figuram entre os cinco importados mais vendidos dos EUA. O sucesso da dupla levou a BMW a desenvolver o X3, menor e mais acessível. A Mercedes, lançou como resposta o GLK, mas somente depois de lançar a enorme Classe GL. Nessa mesma época a BMW veio com o X6, com seu visual inusitado de “cupê utilitário” e em seguida com o compacto X1. Este último ganhou um rival no ano passado, o Mercedes GLA, mas o X6 reinou sozinho em sua categoria durante quase oito anos.
Agora, a Mercedes foi a Detroit apresentar o novo GLE Coupe, um SUV em forma de cupê com a mesma silhueta básica do BMW X6 — o que soa como uma declaração explícita de guerra ao modelo bávaro — e suas duas versões esportivas, o GLE 450 AMG Coupe e o GLE 63 AMG Coupe. O sossego do BMW X6 parece ter chegado ao fim.
Tal como o X6 deriva do X5, o GLE Coupe é uma variação do atual Classe ML. Talvez isso não tenha ficado muito claro inicialmente por que ele já o novo sistema de nomenclatura da Mercedes, que dará o nome GLE ao ML quando o modelo receber o facelift previsto para esse ano. É por isso que, contrariando expectativas, o GLE 63 Coupe não usa o novo V8 4.0 da AMG, e sim o mesmo V8 5.5 biturbo que já equipa o ML 63 AMG.
Como nos demais modelos AMG recentes, GLE 63 Coupe terá duas versões — o modelo básico e a versão S, mais potente e com aprimoramentos mecânicos e dinâmicos. No básico, ele produz 465 cv a 5.750 rpm e 71,2 mkgf entre 1.750 e 5.500 rpm. No GLE 63 S, o 5.5 entrega 585 cv a 5.500 rpm e 77,2 mkgf entre 1.750 e 5.250 rpm — suficientes para levar o modelo aos 100 km/h em 4,2 segundos. Tempo de supercarro pequeno e leve — e números maiores que os da concorrência: o V8 4.4 do X6 M produz 571 cv e 76,3 mkgf, enquanto o V8 de 4,8 litros do Porsche Cayenne Turbo entrega 570 cv e 81,4 mkgf.
Todo esse potencial é direcionado para as quatro rodas pelo sistema 4Matic de tração integral e pelo câmbio 7G-Tronic SpeedShift Plus, ambos recalibrados pela AMG. A distribuição de torque é de 40% para a frente e 60% para o eixo traseiro.
Segundo a fábrica, o conjunto leva o GLE 63 AMG de zero a 100 km/h em 4,3 segundos e o GLE 63 S em 4,2 segundos. Comparado aos rivais, novamente, temos um empate técnico, com 4,2 segundos do X6 M e 4,1 segunddos do Cayenne Turbo S. A velocidade máxima para as duas versões do GLE 63 Coupe é limitada eletronicamente aos 250 km/h. Para frear o GLE 63 Coupe, a AMG deu ao modelo discos ventilados de 390 mm na dianteira e 345 mm na traseira.
Como dito antes, o GLE 63 Coupe é baseado na plataforma do atual ML — ou de sua versão AMG, nesse caso — e por isso usa uma versão recalibrada da suspensão a ar “AirMatic” com modos variados de amortecimento, sistema de auto-nivelamento, e um sistema chamado “Active Curve”, que usa motores hidráulicos nas barras estabilizadoras para aumentar o controle sobre a rolagem da carroceria e atingir velocidades maiores em curvas. Claro, tudo isso auxiliado pelas enormes rodas de 21 polegadas com pneus 285/45 na dianteira e 325/40 na traseira (o GLE 63 S ganha rodas de 22 polegadas).
O controle dinâmico do carro continua nos modos de rodagem pré-programados: Comfort, Sport, Sport Plus, Individual e Slippery Transmission — este último, de nome nada intuitivo, foi desenvolvido pela AMG para “otimizar a tração e a estabilidade em condições adversas”.
Por fora, o GLE 63 Coupe se diferencia das demais versões pelo tradicional tratamento esportivo da AMG, como os para-choques dianteiros mais agressivos (com tomadas de ar em forma de A quando vistas de frente), grade de lâmina dupla, farois de eLED, capô com saliência dupla, para-lamas alargados, spoilers e saias, para-choque traseiro com difusores e saídas de escape duplas e cromadas.
AMG Sport
Já falamos algumas vezes por aqui que os alemães estão sempre copiando uns aos outros, vide o caso do ML e do X6 acima. Depois de anos sem uma linha para fazer frente aos modelos Motorsport da BMW e à linha S da Audi, a Mercedes agora terá a AMG Sport, uma linha intermediária não tão comportada como os modelos comuns, e nem tão explosiva quanto os modelos AMG puros.
Por enquanto somente dois modelos receberam a versão AMG Sport, o GLE 450 AMG Coupe, e o C450 AMG Sport — ambos expostos no Salão americano. Os dois são equipados com um motor 3.0 V6 biturbo de 362 cv, câmbio de automático de sete marchas e sistema de tração integral 4Matic. Segundo a Mercedes, o C450 AMG Sport pode chegar aos 100 km/h em 4,9 segundos e acelerar até os 250 km/h, velocidade limitada eletronicamente (os dados do SUV/Crossover não foram divulgados).
O pacote AMG ainda inclui freios, suspensão e sistemas auxiliares recalibrados pela divisão esportiva da marca. Por fora, o C450 AMG ganha para-choques esportivos, faróis escurecidos, escape com quatro saídas, e rodas de 18 polegadas com pneus 225/45 na frente e 245/40 na traseira. Por dentro, ele terá bancos esportivos, acabamento em couro e tecido preto e volante de base achatada. O C450 AMG Sport será oferecido em versões perua e sedã.
Mercedes-Maybach S600
Em 2002 a Mercedes decidiu ressuscitar a marca Maybach para seus modelos de alto luxo, todos baseados no Classe S da época, porém com visual distinto e nível superior de acabamento e equipamentos. A “nova” Maybach durou dez anos, e foi cancelada em 2013 — o que levou muita gente a achar que a Mercedes desistiria do segmento superior, deixando os Rolls-Royce e Bentley sozinhos no mercado.
Mas como descobrimos recentemente, não foi bem assim: eles transformaram a Maybach em uma divisão responsável pelos modelos de alto luxo da Mercedes. Na prática o que mudou foi apenas o nome — agora os milionários não precisam mais explicar que Maybach é uma marca centenária de automóveis que produz os modelos mais luxuosos da Mercedes-Benz etc, basta dizer que têm um Mercedes e todos vão entender.
O primeiro modelo dessa nova fase é o Mercedes-Maybach S600, a versão topo-de-linha do Classe S, que vem recheada de equipamentos e amenidades para transportar milionários como se eles estivessem em seu hotel/spa favorito. Para se tornar um Maybach, o S600 teve sua carroceria alongada em 20 cm em relação ao Classe S de entre-eixos longo, chegando a 5,45 metros de comprimento e insanos 3,36 metros de entre-eixos — quase um Classe A de primeira geração!
Os bancos tras… digo, as poltronas traseiras são individuais e têm ajustes elétricos para os apoios de cabeça, encosto, lombar, distância do banco dianteiro e do apoio para as pernas. Os pés repousam sobre um tapete de lã, grosso e macio como o de uma suíte cinco-estrelas enquanto as poltronas massageiam suas costas.
O motorista tem um nível similar de luxo — exceto pela posição relaxante, obviamente —, e conta com um V12 biturbo de 530 cv para transportar esse hotel sobre rodas. O modelo começará a ser vendido nos EUA em abril deste ano.
O futuro está aí
A Mercedes também aproveitou o Salão para apresentar sua visão de sedã de luxo do futuro, o F015. Trata-se de um carro autônomo com 5,22 m de comprimento e 2m de largura projetado para permitir que o motorista se ausente da direção e interaja com os demais passageiros em seu interior espaçoso com bancos dianteiros giratórios que transformam o habitáculo em uma sala de estar (ou de reuniões, se você estiver com colegas de trabalho no carro).
As portas têm seis telas de alta resolução sensíveis ao toque e ativadas por gestos. Elas são conectadas à internet e, ao ser ativadas, os bancos giram automaticamente em sua direção. Como todo carro autônomo, o F015 usa uma série de sensores capazes de dar ao caro a “sensibilidade de um motorista humano”, podendo até mesmo impedir um atropelamento caso um pedestre passe na frente do carro.
O powertrain do futuro é um conjunto elétrico alimentado por hidrogênio, com autonomia de 1.100 km. Os motores elétricos traseiros (um em cada roda), somam 272 cv e 20,2 mkgf de torque que levam o F015 aos 100 km/h em 6,7 segundos e à velocidade máxima de 200 km/h.