Salve, galera do FlatOut! Como vocês leram na primeira parte e na segunda parte da história do PC #289, o BI havia acabado de sair da funilaria e precisava voltar para a casa para ser remontado. A esposa já estava se incomodando com as peças “espalhadas” (na minha opinião, distribuídas organizadamente) pela casa e eu morrendo de saudade de dar uma banda com ele.
Comecei a organizar a sequência de tarefas, de forma que pudesse contornar a falta de espaço e a certa precariedade da minha residência – eu moro em prédio, não se esqueçam – e por também querer trabalhar com o carro limpo. Um dos meus programas de TV preferidos é o Overhaulin’ do Discovery Turbo, onde me chama a atenção a qualidade e a organização em que a equipe “A” trabalha.
Foi desta forma que retirei o BI da funilaria. Não façam isso em casa.
Primeira tarefa foi providenciar uma ótima limpeza de todas as partes internas e externas. O melhor momento era com o carro ainda desmontado, pois assim poderia tacar sem dó a WAP em todos os cantos. Contei com a providencial garagem da casa dos meus pais, aliás eles e a minha esposa foram grandes companheiros durante todo o processo. Rock na caixa, limpa-motor no pulverizador, taca-lhe pau, Daniel!
Hora da limpeza. Como nas melhores restaurações, o recomeço da minha jornada
Uma ótima ideia para as ferragens e parafusos é mandar zincar ou bicromatizar, dependendo da cor que saía de fábrica. No meu caso, levei em uma metalúrgica para fazer a chamada “zincagem negra”, pois era este o padrão original. Este processo elimina ferrugem superficial e dá uma ótima proteção contra corrosão por anos, além de ser barato.
Peças após a zincagem negra: proteção por anos contra a ferrugem e ótima aparência
Remontagem em curso, as fotos que vocês verão em seguida mostram um trabalho que durou cerca de 8 meses. Eu só tinha os finais de semana, as vezes nem isso, e dependia somente do meu esforço. Em contrapartida, eu já tinha um arsenal de peças novas arrematadas durante anos, aguardando a vez para serem instaladas. Aproveitei e comprei novos parafusos, buchas, arruelas, abraçadeiras, buchas, enfim, detalhes que contribuem para uma ótima aparência final.
Início pela parte elétrica interna e o painel, o XR3 vai ganhando forma
Há de se ter em mente que é um carro de quase 30 anos e que os plásticos e forrações também têm esta idade. É preciso muito cuidado e carinho para que nada se quebre ou rache. O fato de eu ter organizado as peças e parafusos em saquinhos, relacionando-os como cada região do carro (porta direita, traseira esquerda, etc) ajudou muito na velocidade da remontagem. Aqui, o manual do reparador foi fundamental, fornecendo vista explodida das peças, pois sempre aparece aquela dúvida quando algo não se encaixa corretamente. Fotos com zoom em partes complexas ajudam bastante também.
Antes da remontagem, todas as peças foram recuperadas. Detalhe para o tapete Borcol de época
Ahh… e as raridades. Quem restaura um antigo sabe o prazer da descoberta daquela peça difícil, ou mesmo aquele detalhe que há anos estava incomodando sendo ali, preenchido, resolvido definitivamente. Eu tenho muita sorte de ter grandes amigos que me indicaram achados incríveis, assim como tive paciência para garimpar “A” peça. Que valor tem um tampão (bagagito em outras regiões) novo de estoque antigo, ainda na caixa maltrapilha? Qual a emoção de montar no estepe um pneu Pirelli P6 zero km, de época? E aquele pomo do câmbio, quase impossível de encontrar novo, sendo revelado após anos de escuridão em um fundo de estoque? Não tem preço.
Coifa, relógio digital, pomo, tampão e pneu de época: grandes achados que emocionam
Hora de partir para o exterior, comecei pela traseira, depois a dianteira e por fim as laterais. Na traseira, o para-choque e o friso “almofada”, assim como as polainas foram trocados por novos e originais. Fiz questão de colar os emblemas e as faixas seguindo o mesmo padrão da fábrica. Na dianteira, onde eu já tinha colocado muita coisa boa naquele “tapa” visual que contei na parte 2, ganhou apenas uma grade nova. Já nas laterais, vieram dois spoilers novos que há muitos anos estavam aguardando para serem instalados. O funileiro fez um ótimo trabalho trocando as buchas M4 da carroceria, permitindo instalar os spoilers, defletores e aerofólio com a mesma facilidade que faziam na fábrica. O maior desafio aqui foi colar os filetes laterais, trabalho que exigiu muita paciência e um pouquinho de habilidade de quem vos escreve.
Como em um quebra-cabeça, só que em tamanho real
O carro estava quase pronto quando iniciei o trabalho no assoalho. Aqui foram trocados grampos, abraçadeiras, tampões e a chapa de proteção do tanque, novinha e ainda com as etiquetas da Ford.
Onde não se ”vê” também ganhou atenção
Belo dia, não me lembro exatamente qual, ele ficou pronto (mentira, carro antigo nunca fica pronto). Foi uma sensação maravilhosa, de dever cumprido, enorme satisfação de ver seu sonho tomando forma. Passar as marchas no cambio Bordeaux ainda preguiçoso, acordar o CHT depois do seu sono profundo, poder sentir novamente aquela direção e suspensão justinhos. Restaurar um carro deveria entrar na tríade de um homem: tenha um filho – escreva um livro – plante uma árvore.
De volta para o passado sem o Delorean, só restaurando um carro
Ganhando visibilidade: quando o XR3 virou cult
Eu sempre gostei muito de ir a encontros de antigos. Alguns eram claros em relação às regras (acima de 30 anos é a mais comum), mas em outros as regras apenas preveem a participação de carros clássicos em ótimo estado. Certa vez, ao tentar participar de um famoso encontro de São Paulo, lá pelos idos de 2009, fui barrado pela organização sem direito a defesa ou argumentação, com a acusação de que o meu carro não era antigo. Percebi que algo precisava ser feito em relação aos futuros clássicos, principalmente em relação ao XR3.
Bellote, um dos primeiros a apostar na nova geração de clássicos nacionais
Comecei a procurar os maiores formadores de opinião na Internet, oferecendo o XR3 e o meu conhecimento para matérias e reportagens. Felizmente tive guarida de grandes profissionais, entre eles o Renato Bellote e o Flávio Gomes, que acreditaram e fizeram acontecer reportagens totalmente disruptivas em seu tempo. E assim o XR3 alcançou a fama, aparecendo na Garagem três vezes, sendo alvo do Indiana Gomes no extinto programa Limite da ESPN, CarPlace, Webmotors e até no finado Jalopnik.
Não fui pioneiro, mas ajudei a transformar o XR3 de carro velho a novo clássico
Indiana Gomes do Limite, ESPN Brasil
Bellote e a sua Garagem
Na próxima e ultima parte, vou detalhar a retífica e preparação do CHT, acertos finais na suspensão e a maior conquista do XR3: a merecida Placa Preta. Até lá e obrigado!
Por Daniel Bronzatti, Project Cars #289