Sim, você leu certo: colocamos “Mitsubishi”, “AMG” e “Mercedes-Benz” na mesma frase, e este post não fala de um Mercedes-AMG desconhecido (até porque isto provavelmente não existe). Em um belo dia de 1987, a famosa preparadora nº 1 da Mercedes-Benz firmou uma parceria com a japonesa Mitsubishi.
Conhecendo a estupidez (no bom sentido) da AMG e a reputação dos Mitsubishi turbinados de tração integral, temos certeza de que você está imaginando algo espetacular, que unia a força dos V8 alemães com a aderência dos 4×4 da marca dos três diamantes. É… não foi bem assim.
O primeiro deles foi o Mitsubishi Debonair. A não ser que seja fanático pela cultura JDM (Japanese Domestic Market), você provavelmente não conhece este carro de luxo, que foi fabricado por 34 anos — de 1964 a 1998 — e, neste tempo todo, teve apenas três gerações. A primeira durou até 1986, rivalizando com automóveis como o Toyota Crown e o Nissan Cedric pela preferência dos executivos que não queriam ser levados por aí por um chauffeur.
Apesar de não ter motores exatamente potentes, o Debonair tinha tração traseira e visual na medida para atrair aos jovens executivos japoneses, que haviam enriquecido com o chamado “milagre econômico do Japão”, ocorrido entre o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e o fim da Guerra Fria entre Japão e Rússia, em 1991.
Assim, quando a segunda geração chegou, em 1986, muitos deles — que já não eram jovens, porém eram ainda mais ricos — não se importaram quando o Debonair se transformou em um sedã quadradão, com motor V6 e tração dianteira. Eles pensaram “vou comprar um Debonair de novo, dane-se”. E, desse modo, o carro permaneceu à venda, com alterações mínimas, até 1998.
Talvez tenha sido este sucesso o que levou a AMG a firmar uma parceria com a Mitsubishi e dar uma cara mais arrojada ao Debonair de 1986. Usamos “arrojada” quase como um eufemismo porque, sem dúvida, o Debonair AMG não é tão conservador quanto o original, mas também não dá para dizer que ficou uma obra-prima em questão de estética. A verdade, no fim das contas, é que a razão para esta inusitada parceria ficou perdida na história. Ainda mais porque, naquele mesmo 1986, a AMG apresentou um de seus maiores clássicos — o AMG Hammer, um 300E W124 equipado com um V8 de 5,6 litros e 360 cv.
Acontece que o Debonair V3000 Royal AMG não tinha muito a ver com o Hammer, a não ser pelos emblemas em profusão — eles estavam até nos arcos de roda traseiros. Debaixo do capô, estava o mesmo V6 de três litros com comando simples nos cabeçotes, injeção eletrônica e 155 cv a 5.000 rpm. Sendo assim, ele não era nenhum foguete: levava quase 11 segundos para chegar aos 100 km/h e era capaz de continuar acelerando até os 180 km/h, limite imposto pelo governo japonês na época.
Nada disso impediu, contudo, que a AMG desse a ele uma imponente grade de aspecto mais esportivo, novos para-choques, um aerofólio na traseira e rodas mais modernas. Por dentro, as modificações se resumiam ao volante com o emblema da preparadora e… só. Pensando assim, até surpreende que o Debonair AMG tenha sido vendido até 1989.
Por outro lado, na segunda vez em que a AMG colaborou com a Mitsubishi, o resultado foi algo um pouco mais interessante. Era o Galant AMG, que foi apresentado no mesmo ano em que o Debonair AMG saiu de linha.
A base era a sexta geração do sedã. Mais precisamente na versão GTi-16V, equipada com um quatro-cilindros em linha de dois litros com comandos duplo no cabeçote e 146 cv. Com comandos de graduação mais agressiva e um ligeiro aumento na taxa de compressão, o Galant AMG chegava aos 170 cv, ou 24 cv a mais — já é alguma coisa, não?
Visualmente, o carro recebeu um novo body kit — de visual bem mais harmônico, diga-se. Por dentro, interior todo forrado com couro preto. Não existem registros de seu desempenho, mas dá para ter uma noção sabendo que o GTi-16V original chegava aos 100 km/h em 8,8 segundos. Infelizmente para o Galant AMG, porém, naquele mesmo ano a Mitsubishi apresentou o Galant VR-4, especial de homologação para a versão de rali que competiu no WRC.
Com tração integral e um 2.0 turbo de dois litros com comando duplo no cabeçote, 241 cv a 6.000 rpm e 31 mkgf de torque a 3.500 rpm, o Galant VR-4 era capaz de chegar aos 100 km/h em 7,6 segundos — uma marca para lá de respeitável em 1989.
Canibalizado, o Mitsubishi Galant AMG saiu de linha, marcando o fim da parceria entre a fabricante japonesa e a preparadora alemã.