Você já sonhou em usar seu carro para mais do que ir ao trabalho ou viajar com a família? Pegar seu “poisé” velho de guerra e sair em uma aventura com ele? Pois saiba que você não precisa necessariamente transformá-lo em um track day toy. Existem outras opções. Opções como o Mongol Rally, que apesar do nome é uma competição séria, desafiadora e – talvez mais importante – realizada com uma boa causa.
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O Mongol Rally é um rally raid – uma prova cross-country na veia do Rally Dakar ou da Baja 1000, por exemplo – criada especialmente para carros pequenos e populares. Há três exigências básicas: o carro não pode ter motor de mais de 1.200 cm³, a equipe não pode ter um time de apoio, e cada inscrito deve levantar pelo menos £ 1.000 (cerca de R$ 6.000 em conversão direta) para a caridade. Acho que encontrei o rali perfeito para mim!
Quer dizer, evidentemente não é tão simples: o Mongol Rally acontece do outro lado do Atlântico – a largada acontece no Circuito de Goodwood, no Reino Unido (mostrando que esta é uma competição séria) e a linha de chegada fica em Ulan-Ude, no sul da Rússia. Originalmente o destino era Ulan Bator, na Mongólia, justificando o nome do evento. Mas, por questões de custo, o percurso foi alterado.
O Mongol Rally foi idealizado em 2001, e a história de sua criação tem uma aura meio mítica. Conta-se que dois amigos, chamados Tom e Joolz, descolaram um pequeno Fiat 126 e decidiram simplesmente partir em uma aventura – sair do Reino Unido e dirigir 16.000 km até a Mongólia equipados com nada além de uma faca e um pacote de charutos baratos. Nem mesmo mudas de roupa foram levadas. Eles só não chegaram à Mongólia por problemas com seus passaportes, mas ainda assim se divertiram um bocado e prometeram a si mesmos que tentariam de novo.
E assim foi feito: em 2004 a dupla organizou a primeira edição do Mongol Rally. Ainda era uma aventura entre amigos – apenas seis equipes, das quais só quatro terminaram o percurso. Na base do boca-a-boca, porém, a competição foi ficando conhecida ao longo dos meses. E assim, em 2005 o Mongol Rally contou com 43 carros, dos quais apenas 18 chegaram ao final. Em 2006, o número de equipes passou a 167 – e, na primeira edição na qual a arrecadação para a caridade foi obrigatória, mais de £ 200.000 foram levantadas. Foi a partir de 2007 que a prova ficou mais séria. Uma empresa chamada The Adventurists foi aberta para cuidar da organização, e o regulamento para o deslocamento máximo do motor foi definido.
A é oferecer aos participantes uma experiência crua e desafiadora, acessível e com liberdade. Assim, o custo de inscrição de £ 250 é destinado exclusivamente aos custos organização do evento, e não cobre despesas de viagem, hospedagem e alimentação, muito menos custos de rodagem como manutenção e combustível. A rota é livre, desde que se chegue aos pontos de checagem no tempo estipulado.
Os organizadores recomendam que os participantes respeitem os limites de velocidade em vias públicas e que sempre viajem com seguranança. Isto posto, eles também encorajam os competidores a tomar rotas alternativas e a explorar os caminhos mais difíceis – afinal, o objetivo é se aventurar. Eles ressaltam que quebras, desvios inesperados e até mesmo furtos (dependendo do trecho) são comuns e de inteira responsabilidade dos competidores.
Existem, de fato, algumas rotas sugeridas. Para começar, algumas concessões são feitas – quem não pode deslocar-se até o Reino Unido, para o ponto de largada em Goodwood, pode partir da França, da Itália, da Espanha ou de algum outro país que for conveniente. De lá, os competidores seguem para a cidade de Praga, na República Tcheca, onde ocorre uma confraternização. De lá os caminhos se dividem: alguns vão para Moscou, na Rússia; outros partem para Kiev, na Ucrânia; e alguns vão para Istanbul, na Turquia. O passo seguinte é a convergência para Samarkand, no Usbequistão, antes de rumar para a fronteira da Mongólia em direção à linha de chegada em Ulan Ude.
No entanto, este roteiro não é obrigatório – em edições passadas, houve equipes que foram até o Círculo Polar Ártico simplesmente porque era possível. Uma das equipes, a australiana “Destined to Flail”, estabeleceu o recorde de países visitados durante a edição de 2018: foram nada menos que 41 em um período de quatro semanas.
O regulamento do Mongol Rally contribui não apenas para reduzir custos, mas para aumentar o desafio – afinal, o deslocamento máximo de 1.200 cm³ acaba limitando a escolha de carros basicamente a modelos populares como o Fiat Uno (que é a escolha de muitos, aliás), o Ford Ka, vans pequenas como os modelos da Kia e da Asia, clássicos como o Mini e até mesmo kei cars com motor de 660 cm³. Não há limite, porém, para modificações e adaptações para ambientes hostis, como pneus de uso misto, guinchos, suspensão levantada e conversões para motorhome.
Quando um carro não consegue concluir a prova, seus donos têm a opção de pagar uma taxa aos organizadores ou dar um jeito de recolhê-lo para vender ou consertar e levá-lo de volta para casa. Quando a quebra ocorre dentro da Mongólia, existe a possibilidade de doá-lo para alguma instituição de caridade local, mediante um acordo entre a organização e o governo do país. Por vezes os carros sequer são vendidos, e sim utilizados por tais instituições em seus afazeres administrativos – por isto, os organizadores do Mongol Rally exigem que cada veículo seja mantido com um mínimo de usabilidade.
É uma abordagem interessante, e uma forma de dar aos entusiastas a chance de participar de um rali sem um investimento muito alto, seja com o que tem na garagem ou comprando um carro só para isto. Atualmente cerca de 300 equipes inscrevem-se todos os anos, o que significa que £ 300.000 são doados a cada edição.
Vendo os carros que participam, não consigo deixar de imaginar como meu Uninho se sairia…
Sugestão do leitor Gian Fedalto