Em 2013 o britânico David Holmes, de 38 anos, ligou uma GoPro presa ao seu capacete e saiu para um passeio de moto. Como qualquer pessoa jovem e saudável, ele jamais poderia imaginar que aquele seria seu último passeio. Ele estava a 160 km/h quando bateu em um carro que cortou sua frente ao fazer uma conversão permitida.
David morreu no local, mas o acidente que lhe tirou a vida ficou registrado no cartão da câmera. Agora, sua mãe cedeu as imagens às autoridades para conscientizar motoristas e motociclistas sobre os perigos de se acelerar demais em lugares impróprios. É um vídeo psicologicamente pesado, e retrata sem edições o ato que causou a morte de uma pessoa. O resultado é um misto de reality show macabro com publicidade e com o mesmo impacto de um soco no estômago.
Esqueça o erro de cálculo do motorista que cortou a frente de Holmes e concentre-se apenas nos fatos apresentados pelo vídeo: Holmes pilota a 160 km/h, ultrapassa vários carros em zona proibida, e fatalmente ignora o aviso de reduzir a velocidade pintado no asfalto. Quando ele vê o carro é tarde demais: não há tempo para desviar ou frear. Ele atinge a dianteira do Renault e é lançado para longe. Cai morto.
O motorista do Renault que o atingiu disse que não viu a moto se aproximando — na Inglaterra a lei não obriga usar faróis acesos durante o dia, apenas recomenda da mesma forma que recomenda cautela pois “outros motoristas podem não te ver ou podem julgar sua distância e velocidade corretamente, especialmente em interseções“. O motorista foi processado em abril.
A mãe de David, Brenda Holmes (a senhorinha melancólica que aparece no vídeo) diz que sua vida acabou com a morte do filho e que seu coração nunca vai parar de doer. Mas ela foi corajosa o suficiente para ceder as imagens da morte do filho para a campanha.
No Brasil os acidentes com motos correspondem a 41% das mortes no trânsito e as causas podem ser atribuídas principalmente a dois fatores: a preparação insuficiente nos centros de “formação” de condutores e à falta de prudência na condução (um resultado da preparação inadequada).
Assim como David, milhares de motociclistas usam suas GoPro para filmar seus passeios — alguns usam como forma de gerar provas documentais em casos de acidente, mas também para filmar suas peripécias no trânsito ou na estrada, como comprova qualquer busca no YouTube.
A principal regra para se manter vivo sobre uma moto é desconfiar sempre de tudo e de todos. A capacidade humana de fazer besteira é imensurável — especialmente no comando de máquinas motorizadas. Por isso, acelerar forte entre veículos maiores e mais pesados é praticamente um ato suicida encarado como algo corriqueiro e até necessário para a “vencer a correria do dia a dia”.
Mas não é. E isso não somos nós, de uma comunidade apaixonada por carros, que estamos falando: procure ler os manifestos The Pace e The Pace 2.0 de Nick Ienatsch ou o que têm a dizer: pilotar bem é manter-se vivo e voltar para casa no final do dia, e isso inclui respeitar sua desvantagem de estar exposto e solto sobre uma máquina potente.
Da mesma forma, dirigir bem não é andar forte e fugir do trânsito intenso com a destreza, agilidade e velocidade dos Mini Coopers de “Uma Saída de Mestre” (The Italian Job – 2003). Se você faz o suficiente para não atrapalhar os outros, não criar (e evitar) uma situação de risco, e acima de tudo age com respeito aos demais, pode se considerar um bom motorista.