Filmes de ação costumam ser criticados por quem não gosta deles por causa do exagero em alguns momentos – mas também são adorados por uma legião de pessoas exatamente pelo mesmo motivo. Mas quando uma cena de filme de ação acontece na vida real, sem efeitos especiais ou orçamento multimilionário, é ainda mais impressionante.
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Foi o que aconteceu com Leo Prinsloo, um ex-policial sul-africano que, hoje em dia, ganha a vida como instrutor de tiro e manejo de armas pesadas. Nas horas vagas, Prinsloo coloca seu treinamento em prática transportando cargas de alto valor – daquelas que exigem carros blindados e guardas armados para proteger o conteúdo do veículo. E foi em uma dessas expedições “por fora” que o veterano viveu momentos que, para pessoas comuns, seriam desesperadores – mas, para ele, foram apenas uma chance perdida de ter um pouco mais de emoção.
Prinsloo fazia parte das Forças Especiais da polícia de Pretória, capital executiva da África do Sul, e especializou-se como sniper – um atirador de alta precisão, especializado em armas de grosso calibre, daqueles que ficam em torres de vigilância nos filmes. Faz sentido, portanto, que ele aproveite todo o conhecimento que adquiriu em sua antiga profissão, dividindo-o com outras pessoas e sendo pago para isso. Mas sua experiência também garante que, nas horas vagas, ele possa oferecer serviços de transporte e escolta, e que consiga lidar com eventuais imprevistos, grandes e pequenos.
O mais recente desses imprevistos aconteceu no último dia 22 de abril, mas só agora veio à tona. Prinsloo e outro guarda transportavam uma carga valiosa em um Land Cruiser J70. Que é carro bem diferente do Land Cruiser vendido atualmente pela Toyota, o utilitário está entre os veículos produzidos em série mais longevos de todos os tempos: a atual geração foi lançada em 1984 para suceder o J40 – aquele que, por aqui, conhecemos como Toyota Bandeirante. O J70 é produzido no Japão para abastecer o mercado local e também países de mão inglesa, como o Reino Unido, a Austrália e, claro, a África do Sul.
Em todos os lugares onde é vendido, o Land Cruiser J70 é um daqueles carros que simplesmente não podem mudar, pois seu público-alvo – composto principalmente por frotistas, incluindo muitas vezes o próprio governo, mas também firmas de segurança e entusiastas do off-road – exige exatamente o que eles oferecem: resistência, manutenção simples e abundância de peças de reposição. Na África do Sul, atualmente ele é vendido com motor V8 a gasolina ou seis-cilindros a diesel.
O carro usado por Prinsloo e seu colega, Lloyd Mtombeni, estava à paisana. Ainda não se sabe exatamente como aconteceu, mas o fato é que, enquanto estavam na rodovia N4, nos arredores da capital, os dois foram alvejados pelos ocupantes de outros dois carros. Por sorte, o Land Cruiser tinha blindagem pesada, evitando que ambos fossem atingidos pelos projéteis. O momento e toda a ação subsequente foram gravados por uma câmera onboard voltada para o interior do carro – presente justamente para esse tipo de situação. Os primeiros tiros acontecem logo após a marca de 1:00 no vídeo.
Assim que se dá conta do que está acontecendo, Prinsloo diz ao colega para sacar sua arma e ficar a postos. O ex-policial mantém a calma e segue dirigindo sob os disparos, que deixam marcas nos vidros blindados. Em nenhum momento ele se desespera ou perde o controle.
Depois de vários disparos com o Land Cruiser em fuga, os ladrões percebem que não conseguirão nada com chumbo e partem para o plano B: tentar tirar o Toyota de circulação na base da força bruta. Mas a habilidade de Prinsloo e sua capacidade de continuar no controle da situação – e também o peso extra do veículo – tornam impossível desviá-lo de sua trajetória.
Menos de dois minutos depois, o Prinsloo faz um retorno e para o carro, presumivelmente alguns metros à frente do carro usado pelos bandidos. Ele pega a arma, desce do Toyota e se ajoelha para mirar nos meliantes – que, nesse momento, percebem que não estão lidando com um motorista qualquer, desistem do assalto e batem em retirada. Um dos carros, um Audi A5 Sportback, fica para trás.
Em uma matéria publicada ontem no jornal britânico Metro, Prinsloo explica que a investigação ainda está em curso e que, por isso, os detalhes sobre o trajeto e a carga não podem ser divulgados. O que ele diz, por ora, é que provavelmente a informação sobre a carga e o veículo usado foi vazada aos criminosos – eles só não contavam que o Land Cruiser fosse praticamente um carro-forte à paisana.
Também não há detalhes sobre o carro em si, mas a espessura das janelas (veja na foto abaixo) indica que se trata de um nível alto de proteção. Embora as informações ainda sejam confidenciais, aparentemente o Land Cruiser resistiu a tiros de fuzil – o que indica um nível de proteção B6 ou superior, correspondente a proteção contra munição calibre 7.62×39 (como os projéteis usados pelo famoso Kalashnikov AK-47).
Embora não fique claro quem foi o responsável pela blindagem, empresas sediadas nos Emirados Árabes Unidos, como a Mahindra Armored e a Artan Armored Vehicles, oferecem unidades do Land Cruiser 70 com proteção balística B6. Além de vidros e painéis da carroceria blindados, eles também passam por modificações na suspensão, que visam reforçar os componentes e compensar o ganho de peso (que, no caso da blindagem B6, pode passar dos 700 kg).
Usuários do Reddit, onde o vídeo viralizou primeiro, dizem que o Toyota transportava celulares, e não dinheiro – e que a alta criminalidade na África do Sul justifica o uso de um veículo blindado tão especializado no transporte de uma carga aparentemente banal. A informação ainda não foi confirmada pelas autoridades.
O que se sabe, porém, é o que o próprio Prinsloo diz: foi só mais um dia no trabalho. “Eu e meu colega fizemos exatamente o que era esperado de nós. Eles precisavam nos tirar do caminho para levar o veículo de carga”, contou o guarda ao Metro. “Mas eu jamais deixaria isso acontecer, e infelizmente não tive a chance de devolver os tiros.”
Nada, absolutamente nada abala esse cara.