Continuando nossa série sobre temas e sistemas de nomes de carros, chegamos à Ford. A marca americana nem sempre usou um sistema regular para batizar seus carros, mas teve temas recorrentes ao longo dos anos. Um deles são os modelos com o nome iniciado com a letra F: Falcon, Fairlane, Fiesta, Fusion, Focus, Freestyle, Freestar, Flex, Figo e Five Hundred — isso sem contar as picapes F-Series.
Nos últimos 20 anos a marca também vem usando a letra E para batizar seus SUVs e crossovers vendidos no lado de cá do Atlântico: Explorer, Expedition, Excursion, Escape, Everest, Endeavour, Edge, EcoSport.
O tema mais famoso da Ford, contudo, foi a série de carros lançados nos anos 1960 e 1970 que receberam nomes relacionados a cavalos. O primeiro deles também é o mais conhecido e mais duradouro: o Mustang.
Sim: apesar de ter sido influenciado pelo avião North American P-51 Mustang, o nome só foi escolhido após ter sido relacionado aos cavalos. Como o designer John Najjar já explicou em diversas ocasiões, depois de definir o design do carro, chegara a hora de escolher um nome. Mustang foi sugerido como referência ao caça da Segunda Guerra, porém foi rejeitado pelo chefe Bob Maguire por ser “aeronáutico demais”. Mais tarde, Najjar voltou a sugerir o nome porém associado aos cavalos mustangues (escrito assim desse jeito estranho mesmo).
Diferentemente do que se pensa, os mustangues não são cavalos selvagens, mas sim assilvestrados. A diferença é que os cavalos selvagens são animais que jamais foram domesticados, enquanto os assilvestrados são animais domesticados que voltaram a viver em estado selvagem. No caso dos mustangues, eles descendem dos cavalos que os colonizadores espanhóis trouxeram da Europa no período de ocupação da América.
Dois anos mais tarde, em 1966, quando a Ford lançou seu utilitário para rivalizar com o Jeep CJ-5 e com o International Harvester Scout, a temática equina voltou às listas de sugestões. O nome escolhido foi Bronco, que é o jeito que os norte-americanos chamam os cavalos chucros — aqueles cavalos mal-treinados ou difíceis de domar, geralmente por ter origem silvestre ou selvagem.
O tema voltou a ser usado em 1968 no Brasil, quando a Ford comprou a Willys Overland e concluiu o projeto originalmente elaborado entre a Willys e a Renault (que resultaria também no Renault 12). Na hora de batizar o carro a lista de sugestões tinha mais de 400 nomes e o escolhido foi Corcel, que é um termo usado para designar cavalos jovens, musculosos e velozes. Sua origem vem do francês “coursier”, que é nome dos cavalos que diputam corridas (“cheval de course”).
Em 1971 mais um equino da Ford chegou às ruas: o Pinto. O modelo era um subcompacto (para os padrões americanos) com motores de quatro e seis cilindros que ficou famoso por sua tendência à explosão em casos de colisão traseira.
Seu tanque de combustível, posicionado entre o para-choques traseiro e o eixo, ficava vulnerável devido à falta de reforço estrutural adequado e se danificava extensamente, permitindo que seu conteúdo vazasse, dando início a incêndios mesmo em colisões de baixa velocidade. Já o nome era inspirado pelos cavalos malhados, que são mais valorizados em certas raças e linhagens, e são chamados de “pinto” na América do Norte por influência da língua espanhola — “pinto” em espanhol significa “pintado”.
O Maverick, nosso velho conhecido, também foi influenciado por este tema. Seu nome deriva do nome genérico americano para cavalos, vacas e touros assilvestrados, que ficaram assim conhecidos devido à prática do criador de gado Samuel Maverick, que simplesmente não marcava seus animais como os demais criadores e, por isso se tornaram sinômino de animais livres.
O último dos carros batizados com o tema foi a picape Pampa. Embora o nome também se refira à região das planícies pastoris do sul da América do Sul, a inspiração para o nome da picape do Corcel veio da denominação genérica dos cavalos com pelagem malhada de duas cores.
A denominação pode ser aplicada a cavalos de várias raças, exceto os paint horses, que são uma raça específica.
Bonus track: Ranchero
Lançada em 1957, a Ford Ranchero era uma picape compacta derivada do sedã Ford 1957. O nome não deriva dos animais, mas sim de seu criador: “ranchero” é a palavra espanhola para “rancheiro”. Como você sabe, rancho é um nome genérico para as casas rurais onde vivem os pecuaristas e agricultores. Logo, o ranchero é o cara que vive no rancho e cria equinos, bovinos e afins — esse de chapéu preto na caçamba do carro.