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Nem sempre os limpadores de para-brisa ficam… no para-brisa

Desde criança, sempre que entrava em um Fiat Uno, uma coisa me incomodava: o limpador de para-brisa único no meio, em vez de um de cada lado, como todos os outros carros. Imaginava o esforço extra que o limpador solitário tinha de fazer para limpar o enorme para-brisa do Uno, enquanto os dois pequenos “rodinhos” do Fusca, por exemplo, pareciam ter muito mais facilidade para varrer a água do pequeno visor dianteiro.

Era questão de custo: um limpador, mesmo maior, custa menos que um par. E, posicionado bem no centro do para-brisa, tinha uma área de atuação bem generosa. E, obviamente, limpadores de para-brisa não precisam fazer esforço – eles são movidos por um motor.

Eu achava esquisito, hoje em dia sei que até faz sentido. E alguns supercarros até utilizam limpadores de para-brisa únicos por questões de estética e aerodinâmica. Veja o McLaren F1 e seu limpador único, por exemplo. Com o motorista sentado no meio, não poderia ser de outro jeito.

O que é esquisito de verdade? Limpadores nas janelas laterais. O pessoal da Road and Track foi quem topou com esta variedade pouco-ortodoxa de limpador, que começou a aparecer no Japão no fim dos anos 80. Depois de dar uma olhada, chegamos à conclusão: só podia ser JDM, mesmo.

O tuíte citado pela Road and Track

Já comentamos a respeito em outros posts, mas não custa relembrar: nos anos 80, a economia japonesa era movida pelo otimismo. As condições financeiras do arquipélago melhoraram sensivelmente depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente entre 1954 e 1972, período que ficou conhecido como “o milagre econômico japonês”. a partir de 1973, o crescimento… diminuiu, mas continuou acontecendo em um ritmo mais lento e estável. Durou até 1992, quando ocorreu o estouro da bolsa de valores japonesa e, como resultado, iniciou-se um período de recessão que durou até o fim da década passada.

O caso é que, no fim dos anos 80, a tendência ainda era gastar dinheiro no Japão. E isto incluía, claro, a indústria de automóveis. Não foi por acaso que foi exatamente nesta época que surgiram alguns dos carros mais ousados da história do Japão, como o Subaru Alcyone SVX, a mini-picape Suzuki Mighty Boy e o Toyota Sera, só para citar três que apareceram recentemente aqui no FlatOut.

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E foi exatamente a Toyota que surgiu com a ideia de colocar limpadores na janelas laterais – os side wipers, oferecidos como opcional no Toyota Cresta de 1988. E a própria existência do Cresta era uma extravagância da época: ele era uma versão de luxo do Toyota Mark II de sexta geração, vendido em uma rede de concessionárias especiais chamada Toyopet, voltada apenas para carros de luxo. Havia também o Toyota Chaser, um Mark II com apelo mais esportivo, comercializada apenas na rede Toyota Auto Store. Como já falamos aqui no FlatOut, nos anos 80 virou moda entre as fabricantes japonesas dividir suas concessionárias submarcas com nomes e apelos de mercado diferente. Tudo porque, na época, havia dinheiro sobrando.

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Pois bem: sendo a versão mais luxuosa do Mark II, era natural que o Cresta recebesse os opcionais mais extravagantes. E, por alguma razão, a Toyota achou que os clientes mais abastados fariam questão de ter seus vidros laterais equipados com limpadores.

Detalhe: o sistema incluía lavadores para os vidros laterais, que ficavam embutidos nos retrovisores externos. E, como podemos ver, funcionava:

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Desconhecíamos tal opção, e descobrimos que o Mark II da geração anterior, também tinha limpadores exóticos em sua versão perua: em vez de apenas um, o vigia traseiro tinha dois limpadores.

 

Agora, se for para incluir exemplos de fora do Japão, a lista de excentricidades cresce bastante. Lembra do limpador de para-brisa único do Fiat Uno e do McLaren F1 (veja só, dois superesportivos)? Pois o Lamborghini Countach tinha um limpador “2-em-1”, com uma palheta principal maior, e uma palheta menor para a parte inferior, aumentando a área de varredura.

Já o Jaguar E-Type, o Austin-Healey Sprite e o Toyota FJ Cruiser não acham “um é pouco, dois é bom e três é demais”. Os esportivos britânicos e o SUV retrô da Toyota possuem uma característica comum: o para-brisa com proporção bastante horizontal entre largura e altura. Para dar conta de varrer uma parte considerável da superfície, levando em consideração o ângulo de atuação, era simplesmente colocar três limpadores, um ao lado do outro.

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Outro exemplo curioso é o Seat Altea, minivan fabricada pela divisão espanhola da Volkswagen entre 2004 e 2015 sobre a plataforma PQ35 – a mesma do Polo da geração passada. Mas seus limpadores só eram estranhos quando desligados: em vez de ficar na base do para-brisa, eles ficavam escondidos sob abas nas colunas “A” do carro. E precisavam ser colocados em “posição de reparo” para que se pudesse trocar as palhetas.

Agora, há uma diferença fundamental entre estes outros exemplos e os limpadores laterais do Toyota Cresta: todos eles são de série, e os do Cresta são opcionais. Um opcional raro, pelo visto, pois é difícil até mesmo encontrar imagens.

Se perguntando o motivo? É que, bem, eles não eram exatamente necessários. Você deve lembrar do post no qual explicamos a (falta de) necessidade dos limpadores traseiros em sedã: por conta da configuração de três volumes, o fluxo aerodinâmico na região do vigia traseiro evita que os respingos obstruam a visão nos sedãs.

Aparentemente a Toyota queria que o condutor do Cresta (e de mais nenhum outro Toyota) não tivesse a visão do retrovisor obstruída por gotículas e sujeira na janela lateral – até porque o desembaçador só lim. Exceto que, pelo fluxo aerodinâmico, os respingos de água logo são varridos daquela área naturalmente. Logo alguém deve ter visto que não era algo tão necessário assim.

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Mais justificável foi a adoção dos limpadores nos retrovisores. Novamente foi um japonês de luxo dos fim dos anos 90 que trouxe a ideia à tona: o Nissan Cima, movido por um V6 de três litros turbo de 200 cv. Seus limpadores de retrovisor, especialmente eficazes contra a neve, até ajudavam os espelhos a não embaçar com a baixa temperatura, o gelo logo era varrido.

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E é claro que não podemos deixar de citar exemplos mais conhecidos, mas que não deixam de ser diferentões: os limpadores de faróis, tão comuns nos Mercedes-Benz e BMW europeus, além dos Saab e Volvo, fabricados na Suécia.

Já alguns utilitários, como o Hummer H1, têm os clássicos limpadores pivotados na parte superior dos para-brisas, e não embaixo:

Falando em utilitários clássicos, os Jeep usados na Segunda Guerra Mundial tinham limpadores manuais: do lado de fora ficava a palheta, e do lado de dentro da cabine ficava uma alavanca que era movida para os lados para atuar os limpadores.

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