A Porsche mostrou na noite de ontem (17) os novos 718 Boxster e Cayman GT4 – trazendo de volta o motor flat-six, abandonado na atual geração, a 982, em favor de um flat-four turbinado. É como dizem: o downsizing é pop, e o pop não poupa ninguém.
O bem-vindo retorno do flat-six ao 718 acabou nos lembrando de outra ocasião em que um carro de quatro cilindros do grupo VW foi equipado com um motor de seis cilindros. Estranhamante, nunca falamos a seu respeito aqui no FlatOut, mas isto muda hoje: o Volkswagen New Beetle RSi.
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Eu era totalmente obcecado pelo Fusca na infância e na pré-adolescência – a ponto de praticamente todas as minhas miniaturas serem do Besouro. Quando foi anunciado o “novo Fusca”, fiz questão de devorar qualquer informação a seu respeito – e ainda hoje, em momentos de devaneio, penso em comprar um. No Brasil, o New Beetle só foi oferecido com motor 2.0 8v de 116 cv, que podia ser acoplado a uma caixa manual de cinco marchas ou automática de quatro marchas (adotando o câmbio Tiptronic de seis marchas a partir de 2008).
Lá fora, tanto nos EUA quanto na Europa, houve uma variedade muito maior de versões – a Volks ofereceu no New Beetle um motor 1.4 de 75 cv; o motor 1.8 turbo 20v do Golf GTI, com 150 ou 180 cv; o cinco-cilindros 2.5 de 150 cv encontrado no Jetta Mk5; e até mesmo um turbodiesel de 1,9 litro. O mais potente e raro dos New Beetle, porém, tinha um motor VR6 de 3,2 litros debaixo do capô.
A origem do New Beetle RSi é comum à de muitos projetos entusiastas das fabricantes. Há exatos 20 anos, em 1999, a Volkswagen apresentou uma versão conceitual no Salão de Detroit.
Com para-choques exclusivos, saias laterais maiores e uma enorme asa traseira, o conceito do New Beetle RSi não era mais que um excercício de design. Porém, pela excelente recepção do carro entre os presentes, e após inúmeros questionamentos da imprensa, perguntando se havia planos para colocá-lo nas ruas, a Volks resolveu ceder. Pouco tempo depois, foi anunciada a produção limitada do carro.
Coloque limitada nisto: apenas 250 carros, todos numerados, foram fabricados entre 2001 e 2003 – todos eles na cor prata, exceto pelo exemplar de nº 002, feito especialmente para o presidente da VW na época, Ferdinand Piëch. Outros exemplares foram pintados de outras cores por seus donos, no entanto.
Sendo um carro fabricado em baixa quantidade – um projeto irracional, voltado exclusivamente para a manutenção da imagem da Volks entre os entusiastas – o New Beetle RSi não fazia concessões em nome da economia.
As modificações do lado de fora eram os para-choques, exclusivos da versão, com desenho bem mais agressivo e entradas de ar maiores; e o conjunto aerodinâmico traseiro. Este era composto por duas peças: um spoiler acima do vigia, que direcionava o ar para uma nada discreta asa na tampa do porta-malas e ajudava a manter a traseira colada no chão.
O interior era igualmente radical, ou talvez até mais. Os revestimentos das portas eram de fibra de carbono nua, bem com as forrações laterais traseiras e a face do painel de instrumentos – que, diferentemente dos outros New Beetle, tinha dois elementos principais. O rádio ficava no teto, entre os para-sóis, e havia uma alça de segurança à frente do carona feita de billet de alumínio, como também eram os puxadores das portas e as manivelas dos vidros (o acionamento elétrico foi dispensado para reduzir peso). O teto e as colunas eram revestidos de Alcantara, e os bancos Recaro do tipo concha, feitos de fibra, eram cobertos de couro.
Um ponto a favor: o cofre do Beetle não precisou de grandes adaptações para receber o motor VR6 (um V6 de ângulo estreito, com apenas 15° entre as bancadas de cilindros e um único cabeçote), pois a Volks já havia colocado nele o motor VR5 – que, na prática, era um VR6 com um cilindro a menos. O motor de 3,2 litros, usado também no Golf R32 contemporâneo, entregava 225 cv a 6.500 rpm e 32,6 kgfm de torque a 3.000 rpm.
Também do Golf R32, o New Beetle RSi pegava emprestado o sistema de tração 4Motion nas quatro rodas. Com câmbio manual de seis marchas – o único disponível – o Besouro atômico ia de zero a 100 km/h em 7,2 segundos, com máxima de 225 km/h. Como trilha sonora, havia o ronco matador do VR6 naturalmente aspirado:
Além do conjunto mecânico exclusivo, o Beetle RSi tinha outras modificações importantes para seu desempenho. A suspensão, do tipo MacPherson na dianteira com eixo de torção atrás, tinha uma geometria muito mais agressiva e voltada para as pistas, com molas e amortecedores muito mais firmes e uma barra estabilizadora na traseira.
O New Beetle RSi usava rodas de 18 polegadas calçadas com pneus 235/40. Abrigados sob elas, vinham discos ventilados nas quatro rodas, com 334 mm de diâmetro à frente e 256 mm na traseira. Com rodas mais largas, os para-lamas também eram mais avantajados – o que, por sua vez, também exigia saias laterais maiores.
Avaliações da época e posteriores observavam que a suspensão dura priorizava o comportamento em curvas muito antes do conforto – quase não havia rolagem da carroceria e o RSi atacava curvas de forma urgente e precisa em pista. Nas ruas, o preço a se pagar era um rodar desconfortável e seco que não surpreendia, e provavelmente não incomodava seus proprietários.
Ironicamente, apesar de ter nascido no Salão de Detroit, o New Beetle RSi nunca foi vendido oficialmente fora da Europa. Sabe-se, porém, de pelo menos um exemplar no Brasil – o carro da foto abaixo, flagrado em 2012 no interior de São Paulo. A imagem, de Gustavo Campos, foi publicada no blog New Beetle Club, mas não há muito mais informações a seu respeito.
Alguém sabe onde este carro foi parar?