Se me perguntarem qual é meu país de origem favorito quando se trata de automóveis, não terei dúvidas em responder: a Itália. Talvez porque o primeiro carro que tive na vida foi um Fiat Uno que, embora fabricado no Brasil, tinha design assinado por Giorgetto Giugiaro. E sim, a estética de um carro é um fator bastante importante para mim na hora de decidir se gosto ou não de determinado modelo de automóvel.
O design dos carros italianos, aliás, é algo que tem muito apelo sobre a minha pessoa. Não faltam exemplos de carros italianos que têm reputações ruins, como os Alfa Romeo ou os Maserati da década de 80, e mesmo alguns modelos da Fiat – problemas com corrosão, manutenção complicada, alta desvalorização, por exemplo –, mas que são belíssimos e adorados por entusiastas no mundo todo justamente por seu design e pelo modo como andam (quando andam). Mas o que realmente me atrai são os carros italianos com desenho ousado, que podem não ser considerados bonitos no sentido tradicional e socialmente aceito da palavra, mas me agradam pela ousadia e pelo exotismo. Carros como o Alfa Romeo SZ, por exemplo – um cupê projetado pelo estúdio Zagato e construído sobre o Alfa Romeo 75. Este tem a peculiaridade de ser o último Alfa com o câmbio acoplado ao eixo traseiro (transeixo), de modo a melhorar a distribuição de massas – o que contribui para o equilíbrio dinâmico nas curvas.
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Fabricado entre 1989 e 1991, o Alfa Romeo SZ (de Sprint Zagato) não é um carro que todos acham bonito – ele tem proporções curiosas, com uma traseira curta e elevada, capô baixo, três pequenos faróis quadrados e uma lanterna traseira baixa que tem a mesma largura do carro. Mas é justamente seu desenho pouco usual que me atrai nele.
Dito isto, a Zagato colaborou com outra companhia naquela época: a Autech, que em 1987 queria colocar no mercado japonês um grand tourer exclusivo, com desenho que se destacasse na multidão. O resultado foi o curioso e interessantíssimo Autech Zagato Stelvio AZ1 – um carro japonês, com plataforma e conjunto mecânico Nissan, porém com todo o charme exótico de um GT italiano da época.
A Autech é uma subsidiária da Nissan fundada em 1986 exatamente para cuidar dos projetos especiais da marca, como edições limitadas, conceitos e modelos experimentais. Foi a Autech, por exemplo, que em 1998 fez o Skyline GT-R Autech Version 40th Anniversary Edition – um Skyline R33 sedã com o mesmo conjunto mecânico da versão GT-R, criado para comemorar os 40 anos do primeiro Skyline.
O Zagato Stelvio AZ1, por sua vez, foi o primeiro projeto da Autech. Ele era feito com base no Nissan Leopard F31, um cupê grand tourer que dividia sua plataforma com o Skyline R31 e era movido por um motor VG30DET – V6 de três litros turbo com comando duplo no cabeçote que, além do Leopard, também aparecia no Nissan 300ZX das gerações Z31 e Z32. Geralmente ele entregava 255 cv e bons 39,1 mkgf de torque. No caso do Stelvio AZ1, porém, eram 320 cv e 40,9 mkgf de torque – embora, por conta do acordo de cavalheiros entre as fabricantes japonesas que estava em vigor naquela época, a potência declarada fosse de 280 cv.
Mencionei o Alfa Romeo SZ mais acima porque é evidente a ligação estética entre ele e o Autech Zagato Stelvio AZ1. E era examente esta a ideia: oferecer um carro com a mecânica confiável da Nissan, porém com o design ousado típico dos carros italianos.
As proporções do carro lembram o Alfa Romeo SZ – o capô relativamente longo e baixo, a traseira alta e relativamente curta, a área envidraçada generosa e o caimento suave do teto estão presentes, bem como a postura imponente e “musculosa”. Isto posto, não podemos dizer que o Stelvio AZ1 é uma cópia: ele tem personalidade própria e elementos de design que não seriam vistos em nenhum outro carro.
Em especial, a fenda em forma de ferradura sobre o emblema da Autech na dianteira e as “abas” integradas ao capô, que serviam como coberturas – que, respeitando a tradição dos automóveis japoneses, ficavam nos para-lamas dianteiros.
Elas também tinham outras funções: ao lado dos retrovisores ficavam respiros que escoavam o ar quente de dentro do cofre e o direcionavam por sobre a carroceria. Além de ajudar a resfriar a área do motor, elas contribuíam para a eficiência aerodinâmica do carro em movimento.
O interior, por sua vez, era praticamente idêntico ao do Nissan Leopard, exceto pelo acabamento em couro e imitação de nogueira instalado pela Zagato e pelo volante Momo.
Embora seja um carro indiscutivelmente datado em termos de visual, o Nissan Autech Zagato Stelvio AZ1 era mais do que decente quando levado para uma estrada sinuosa – não foi por acaso que a fabricante resolveu batizá-lo com o nome de uma das estradas mais famosas da Europa, o Passo Stelvio, considerado um dos melhores trechos do planeta para quem gosta de curvas. Vale lembrar que, coincidentemente, foi o nome que a Alfa escolheu para seu primeiro SUV – se me perguntarem, porém, direi que prefiro o Nissan antes do Alfa…
Feito para viajar, o Zagato Stelvio tinha um bom porta-malas e câmbio automático de quatro marchas da ZF, mas também era potente o bastante para ir de zero a 100 km/h na casa dos seis segundos e seguir acelerando até os 248 km/h. Ele também tinha ar-condicionado, freios ABS e overdrive acionado por um botão.
A Autech e a Zagato fizeram 104 exemplares do Stelvio AZ1, fazendo dele um automóvel bastante raro e desconhecido por boa parte dos entusiastas. O que, claro, faz com que eu goste dele ainda mais.