Quando você vai comprar um carro, obrigatoriamente opta por um estilo de carroceria – e terá de abrir mão dos demais. O pai de família sensato e entusiasta provavelmente adoraria uma perua: vão os pais, as crianças, toda a bagagem e ainda sobra espaço. Provavelmente, por pressão da mesma família, ele vai acabar levando um SUV para casa. Há quem prefira os sedãs, ou quem precise de uma picape. Os mais aventureiros vão atrás de um cupê ou conversível. Se quiser algo diferente, você vai ter que trocar de carro.
Não se trata de afirmar o óbvio, apenas. É a constatação de algo que não é um problema. É simplesmente assim que as coisas funcionam. As fabricantes tentam continuamente oferecer mais opções que entreguem “o melhor de dois mundos” – foi assim que surgiram os “SUV cupê”, com caimento suave no teto (e menos espaço para quem vai atrás), e os cupês de quatro portas que geralmente são a versão de quatro portas de um cupê que já era derivado de um sedã (como os BMW Gran Coupé).
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , , e muito mais!
Na década de 1980, porém, a Nissan decidiu dar uma solução mais robusta para esta limitação inerente de todos os carros – um modelo que podia mudar de carroceria quando o dono bem entendesse. Desde que ele comprasse os itens necessários, claro.
Seu nome era Nissan EXA no Japão – ou Nissan Pulsar NX nos EUA. E ele não era um cupê, conversível ou shooting break. Ele era os três.
Você já deve conhecer o Pulsar – seja por Gran Turismo, seja aqui mesmo pelo FlatOut, quando falamos do Pulsar GTI-R (um dos melhores hot hatches do universo).
O EXA era feito sobre a plataforma do Pulsar de segunda geração, o N12. Ambos foram lançados em 1982. Na época o Pulsar um dos menores e mais baratos Nissan que se podia comprar no Japão, desconsiderando os kei cars. Nos Estados Unidos ele era vendido como Datsun 310.
O EXA, por sua vez, tinha uma proposta mais esportiva e sofisticada, apesar da origem humilde. Por isto, ele tinha a carroceria completamente diferente – apenas as portas eram iguais às do hatchback. A dianteira exclusiva tinha faróis escamoteáveis, enquanto a parte de trás tinha um terceiro volume e balanço mais longo. O interior tinha o mesmo design geral, mas tinha bancos com mais apoio e revestimentos de melhor qualidade, com cores mais vibrantes.
Até mesmo a mecânica era a mesma do Pulsar. Nada revolucionário – sempre com motores de quatro cilindros 1.3, 1.5 e 1.6 (o 1.5 era turbinado); câmbio manual ou automático; e apenas com tração dianteira.
A primeira geração era um cupê de três volumes não muito diferente do Toyota MR2 ou do Subaru XT em forma e proporções, com opção por carroceria conversível. No Japão ele só podia ser comprado através da rede de concessionárias Nissan Cherry Store – uma das diferentes submarcas que as fabricantes japonesas criaram naquela época simplesmente porque podiam. Na Cherry Store eram vendidos os carros mais voltados ao público jovem, como o Nissan Cherry, o Sunny Coupé e o próprio EXA.
Vendido por cinco anos, entre 1982 e 1986, o primeiro EXA não se destacava tanto. A potência máxima ficava nos 105 cv da versão 1.5 turbo, e a dinâmica, apesar de correta, não pode ser descrita como genial. A segunda geração, por outro lado, era um carro inconfundível.
O visual não mudou tanto em filosofia: mantinha a silhueta cupê de três volumes, com dianteira baixa, faróis escamoteáveis, e lanternas grandes com formato retangular. Também tinha a mesma plataforma que o Pulsar hatchback, porém agora na geração N13 – um carro mais sofisticado, com motores multiválvulas e até mesmo uma versão com tração integral permanente.
O EXA dispensava a tração integral permanente (o que é uma pena), mas compensava com uma característica muito mais inusitada. Ele era oferecido apenas com uma opção de carroceria por padrão – cupê de três volumes. Contudo, sempre que quisesse, você podia transformá-lo em um cupê, conversível, ou mesmo em uma espécie de picape. Era só brincar com as configurações do teto.
A princípio, eram duas: a configuração com uma porta traseira do tipo hatchback convencional – ainda que, com o terceiro volume, desse ao carro a silhueta de um cupê – e a tampa que transformava o EXA em uma shooting break, com mais espaço para a bagagem e um corte vertical abrupto na traseira. Também era possível rodar com o carro sem a tampa traseira, o que efetivamente dava a ele a mesma funcionalidade de uma picape pequena.
Por fim, os painéis anteriores do teto também eram removíveis, tornando o Nissan EXA de segunda geração um conversível targa – era só guardar o teto no porta-malas. No Japão, o EXA era vendido como cupê ou shooting break, este último com o sobrenome “Canopy”, e você precisava comprar o teto alternativo à parte. Já os americanos, se quisessem, podiam comprar o carro com os dois tetos e o sobrenome “Sportbak”.
Não vá pensando, porém, que era uma operação simples. Não estamos falando de um teto super leve feito de fibra de carbono que podia ser carregado com uma só mão, mas de um teto pesado, de fibra de vidro, que era difícil de encaixar corretamente e cuja instalação/remoção podia levar vários minutos.
O Nissan EXA/Pulsar NX não foi um grande sucesso. Embora tenha sido oferecido por cinco anos, descontinuado em 1990, ele não conquistou o público com sua inovação. Dificilmente encontra-se um exemplar à venda, especialmente fora do Japão, e os que estão disponíveis ou custam muito caro, ou estão em mau estado.
Certamente o baixo desempenho nas vendas tem a ver com o fato de o EXA ser uma solução complexa e cara para algo que não era exatamente um problema – não duvidamos que ele pudesse ter sido melhor recebido se simplesmente tivesse dois tipos diferentes de carroceria que não fossem intercambiáveis. Mais potência também ajudaria: o modelo mais forte usava um motor 1.8 16v de 130 cv.
Era um número respeitável para a configuração mecânica, mas nada que acelerasse o coração. Por sorte o EXA era leve, com apenas 1.070 kg. Mas o desenho que simplesmente implorava por um motor central-traseiro, ou mesmo apenas tração traseira, criava expectativas que o zero a 100 km/h em 12 segundos não era suficiente para satisfazer.
Por outro lado, existe uma certa apreciação do Nissan EXA como clássico cult. Como ele tem a mesma mecânica do Pulsar, sua carroceria modular torna-se atraente para quem quer créditos com a comunidade entusiasta.
Ou você pode jogar com ele nos Gran Turismo a partir de GT4, que é “quase” a mesma coisa.