Por Felipe Leonardo da Silva, Project Cars #535
No texto anterior contei sobre o processo de latoaria e o motor AP aumentado de 1.8 para 2.0. Hoje finalizo com o último texto do projeto.
Quanto ao visual do carro, a inspiração sempre foi o Chevy 55 do filme Two Lane Blacktop (como já citado no primeiro texto), e quanto ao interior segui com a ideia de realizar algum alívio de peso.
Em relação aos bancos, fiquei um bom tempo de olho em anúncios de Recaro, e eis que surgiu um par retirado de um Apollo GLS em São Bento do Sul por um preço razoável.
Fiz a viagem de Del Rey para ir buscá-los e depois encaminhei para a tapeçaria. Pessoalmente estavam bem piores do que parece nas fotos, e por uns dias serviu de descanso para os cachorros:
Foi utilizado um veludo cinza na parte central e courvin nas laterais. Aproveitamos para aplicar a mesma padronagem também nos bancos traseiros originais do carro. Os bancos ficaram prontos em dezembro de 2021.
Fiz alguns alívios de peso nas chapas internas utilizando disco de corte e serra copo. Depois pintei o interior todo de preto.
Em relação a pintura externa, fui a uma casa de tintas aqui da cidade e dei uma olhada nas cores de catálogo. A que achei mais próxima ao do Chevy do filme foi o cinza draco (GM). Comprei várias latinhas spray dessa cor (em fosco) e fui fazendo a pintura em casa, do jeito mais simples e tosco possível conforme minha disponibilidade de tempo.
Devo ter levado uns 4 meses para concluir a pintura externa completa. Simplesmente dava uma quebrada na lixa, protegia as partes que não era para pintar e “dálhe” spray.
Aqui alguns registros do processo:
Além das rodas de ferro aro 14 com os pneus ATR, eu queria encontrar um jogo de rodas de liga leve antigas aro 13. Com algumas indicações cheguei ao Alonso de Blumenau/SC. É incrível a quantidade de rodas que ele tem, e é um cara muito gente boa. Negociei com ele um jogo de cinco rodas que me foram entregues polidas em fevereiro de 2022.
Nessa época já utilizava bastante o carro, tanto no dia a dia quanto viagens. Foi uma época de clima bastante favorável para ir a cachoeiras e acampamentos. Cito aqui um acampamento que fomos com vários amigos para um camping em Rios dos Cedros/SC.
A primeira viagem realmente longa que fiz com o carro foi em março de 2022 para Cunha-SP (bem perto de Paraty-RJ). Fiquei alguns dias na cidade para começar a aprender a tocar Sitar indiano, um instrumento que já tinha interesse a bastante tempo, mas ainda não havia conhecido alguém para me ensinar.
O Del Rey fez a viagem de 1.600 km (ida e volta) sem grandes problemas. Posso dizer que ali foi onde realmente criei uma “intimidade” maior com o carro. Afinal, 11h para chegar, mais 11h para voltar…
Em maio fizemos uma viagem à Curitiba-PR, onde conhecemos o Jardim Botânico, Mercado Municipal, Museu Oscar Niemeyer e o Hard Rock Café. O único “problema” foi uma multa por uma lâmpada do farol que queimou no retorno à Jaraguá do Sul-SC.
Posso considerar como uma “conclusão” do projeto minha participação no 3° Track Day organizado para os assinantes do FlatOut no autódromo da Capuava em novembro de 2022.
Foi necessário instalar uma cinta de reboque e um reservatório de óleo ligado no respiro da tampa de válvulas, conforme regulamento do evento.
Reservamos um hotel em Vinhedo-SP e partimos na sexta-feira. Já em terras paranaenses estourou a correia do alternador/bomba d’água. Montamos provisoriamente uma correia de Opala que eu tinha na maleta de ferramentas e seguimos até Embu das Artes/SP, onde conseguimos comprar uma correia nova.
Toda a experiência no evento foi realmente muito boa. Ao chegarmos, o Juliano, Léo e MAO estavam bem na entrada, e foi bacana poder cumprimentá-los pessoalmente. Afinal, são anos acompanhando o conteúdo aqui no site e no canal do YouTube.
Já no início do dia fizemos amizade com o Luciano, que veio de MG com seu Sandero RS, e ele me indicou fazer as primeiras voltas já com instrutor para “pegar o esquema”.
Quando parei próximo a mesa dos instrutores, o Rafael Paschoalin estava disponível e foi dirigindo o Del Rey logo de cara.
A experiência foi uma mistura de surpresa, prazer, entusiasmo e alegria! Em resumo, estava atento as orientações do Rafael, mas ao mesmo tempo não me saía da cabeça a frase “Cacete, esse carro faz isso?!?!”. Nunca tinha andado com o Del Rey tão rápido em curvas, sentir a aceleração lateral ali é muito legal mesmo! Acho que foram três voltas com ele dirigindo, mais três com ele de carona.
Quando parti para a primeira volta sem instrutor, após uma curva o carro simplesmente apaga. Pelo número no leitor de sonda WB-O2, aparentemente havia falta de combustível. Tivemos que ser guinchados para fora da pista, e ao abrir o capô já apareceram alguns para nos ajudar, em especial o Carlos.
Identificamos que o problema estava na bomba de combustível (utilizo uma bomba mecânica original mesmo), mas eu não tinha uma reserva… eis que surge o Luciano e se dispõe a nos levar de Sandero RS até alguma autopeças ali por Indaiatuba-SP para comprar uma nova (Valeu Luciano!).
Fomos lá, compramos a bomba, voltamos, montamos e partimos à pista:
Relembrando do evento como um todo, foi realmente muito bom! Você aí leitor que já pensou em ir e acabou não indo, vá!
Minha sensação é de que, até esse dia eu ainda não havia “andado de carro”. Por mais que as vezes damos algumas “esticadas” por aí, a experiência que o autódromo proporciona é muito mais intensa. Cheguei até perder a traseira e rodar em uma das curvas (pena que não estava filmando).
Além disso, é muito organizado e o pessoal que estava no evento era gente boa demais, disposto a ajudar, trocar ideias e experiências… andei de carona no Sandero RS do Luciano e no Corsa do Rogério Batata, simplesmente incrível.
Aproveitando que estávamos em SP, acabamos nos hospedando em Guarulhos (minha cidade natal), e no domingo fomos à Av. Paulista para rever uns amigos e dar um passeio antes de retornar à SC.
Retornamos sem grandes problemas, chegando em casa pelas 00:30 da segunda-feira.
O interessante de escrever esses textos é justamente a retrospectiva. Através dela é possível pensar sobre tudo o que me aconteceu nesse período, e como um carro velho pode enriquecer a experiência da vida.
Uma simples inspiração em um filme se tornou algo real, me trazendo experiências diversas que me fazem efetivamente viver e sentir coisas boas.
Gostaria de aproveitar o espaço para agradecer minha esposa Emiliana (que de alguma maneira aceita essas minhas loucuras), meus pais Edmilson e Nadia (que na medida do possível também me ajudaram nesse processo), o amigo Luiz (que já na época da compra do carro me deu uma força), o amigo Lucas (que na época do amaciamento do motor fez algumas viagens comigo), e o amigo Jhonatan (que topou fazer a viagem para SP e andar de carona no trackday do FlatOut, além de também viabilizar diversos serviços na Auto elétrica São Luiz aqui em Jaraguá do Sul-SC para resolver alguns problemas que foram surgindo no caminho).
A todos os outros que também me ajudaram nesse processo, meus agradecimentos!
E claro, ao FlatOut que presta esse excelente trabalho em prol da cultura automotiva no Brasil e disponibiliza esse espaço para o compartilhamento dos mais diversos projetos, meu obrigado!
Espero que a leitura tenha sido agradável e que meu projeto possa mostrar que é possível aprender e se divertir com qualquer carro, basta querer e se esforçar para que aconteça!