Nós, fãs do Fiat Uno, não precisamos que alguém nos pergunte para declarar nossa admiração pelo hatchback – é praticamente irresistível. E, se você é fã de verdade do Uno, nem precisa ser uma das versões esportivas: qualquer Mille mais antigo que esteja inteiro e bem cuidado já arranca suspiros. É quase doença.
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É claro, porém, que um Uno R ou um Turbo fazem o coração bater mais rápido. Especialmente porque as versões esportivas brasileiras têm um tempero tropical diferente – é só lembrar do visual quase tuning do “nosso” Uno Turbo em comparação ao estilo mais elegante e discreto da versão italiana, por exemplo.
Agora, não somos apenas nós, brasileiros, que temos variantes endêmicas do Uno. Nossos hermanos na Argentina também têm algo bem interessante: o radical e desconhecido Uno EF.
Nós já falamos sobre a fantástica cena dos uneros argentinos, que é equivalente ao culto pelo Volkswagen Gol no Brasil – eles investem pesado na preparação do motor Sevel, seja para uso em track days ou arrancadas, e desenvolveram receitas para chegar às 9.000 rpm.
Um dos membros desta cena era o preparador Edgardo Fernández, que decidiu criar um Fiat Uno esportivo mais especializado – um carro que entregasse bons resultados em pista, que fosse capaz de proporcionar uma condução mais animada nas ruas, e que ainda mantivesse um mínimo de usabilidade no dia a dia, sem problemas com superaquecimento ou ruído excessivo.
Seu ponto de partida foi o Fiat Uno SCV, versão mais potente e melhor equipada vendida na Argentina – algo equivalente ao nosso Uno CSL/MPI, incluindo na escolha pelo motor Sevel 1.6, que originalmente entregava 94 cv e 13,7 kgfm de torque. A inspiração de Edgardo foram os Uno de pista usados na Turismo Carretera, o que se traduzia em para-lamas alargados, suspensão preparada e uma nada discreta asa acima do vigia traseiro.
O carro também ganhava novos para-choques de fibra de vidro, com desenho semelhante ao que se via no Uno Turbo brasileiro, porém ainda mais exagerado – e com o detalhe do recesso para a saída de escape central no para-choque traseiro. O interior era mantido bastante original, com alguns toques especiais: revestimento de couro preto, bancos concha, volante Momo e, opcionalmente, um painel digital importado da Itália.
O mais interessante, porém, era a preparação mecânica. O motor Sevel era modificado pelo mecânico Rafael Balestrini, e recebia um novo comando de válvulas, válvulas com maior diâmetro, dutos de admissão polidos e cabeçote rebaixado (para aumentar a taxa de compressão). Com dois carburadores de corpo duplo, entregava 115 cv – sem qualquer tipo de indução forçada. Eram 3 cv a menos que o nosso Uno Turbo, e o desempenho era equivalente: zero a 100 km/h em 9,6 segundos (o Uno Turbo o fazia em 9,2 segundos) e máxima de 180 km/h.
Mas o Uno EF tinha mais vocação para a pista: a suspensão era consideravelmente mais firme, com bitolas mais largas e um subchassi feito sob medida na dianteira, enquanto a traseira perdia o feixe de molas transversal e adotava braços triangulares com amortecedores telescópicos. As rodas de 14 polegadas tinham calotas do tipo turbofan, e abrigavam freios a disco nas quatro rodas – de 240 mm na frente, emprestados do Renault 18, e de 238 mm na traseira.
O resultado era um comportamento totalmente diferente – mais que o motor, a suspensão preparada garantia uma dinâmica muito mais afiada, e proporcionava uma segurança muito maior para “virar tempo” na pista.
O conforto no dia a dia ficava comprometido, claro, mas era um preço pequeno a se pagar – e o Uno EF tornou-se meio que um Santo Graal para los uneros argentinos, especialmente por sua raridade: foram feitas poucas dezenas, e estima-se que agora existam menos de 40 unidades circulando pela Argentina. Bem que um deles poderia se perder aqui pelo Brasil, não?