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O francês esquecido: o renascimento do Matra M630S depois de 40 anos

Hoje, quando falamos em carros franceses no automobilismo, o que vem à cabeça são os Peugeot e Citroën de rali e os motores Renault de Fórmula 1. Mas essa história era bem diferente nos anos 1960, quando estas três marcas estavam mais ocupadas em produzir carros de passeio do que colocá-os para correr nas pistas.

Quem colocava as cores da França nas pistas daquela época, eram a Gordini, a Alpine e a Matra. Todas eram independentes, mas a Matra era uma grande corporação com atuação nos ramos de defesa, armamento, e aeroespacial, além da sua divisão de automóveis e competições. Por isso, ela também foi a mais bem sucedida das três, chegando a levantar o caneco de construtores da Fórmula 1 em 1969, quando Jackie Stewart faturou seu primeiro título de pilotos a bordo dos MS10, MS80 e MS84 (sim, as equipes podiam usar mais de um modelo de carro durante a temporada).

Em paralelo à Fórmula 1, a Matra também participava do Mundial de Carros Esporte, o antecessor do atual WEC. Os carros pilotados por caras do calibre de Jean-Pierre Beltoise e Henri Pescarolo tinham resultados satisfatórios no campeonato usando a típica combinação de chassi próprio e motor de fornecedores, algo que acontece até hoje.

No caso dos Matra, os motores eram os V8 BRM de origem britânica, mas o presidente da França, o general Charles de Gaulle, disse que era vergonhoso que um carro francês usasse um motor estrangeiro. Assim, o primeiro-ministro Georges Pompidou conseguiu uma verba de 6 milhões de francos para a Matra desenvolver um motor próprio e tão francês quanto uma caixa de queijo camembert.

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Enquanto isso, a Matra desenvolvia um novo carro para a temporada de 1967. Batizado M630S, ele usava chassi tubular com carroceria em poliéster, mas como o motor francês ainda não estava pronto, a primeiras unidades produzida recebeu o V8 BRM de dois litros e assim foi inscrita nas 24 Horas de Le Mans daquele ano.

Infelizmente, o carro se mostrou instável e acabou envolvido em um acidente que matou seu piloto Roby Weber. Ainda naquele ano outros dois chassis do M630S ficaram prontos: o chassi número 3 foi equipado com o antigo motor BRM 2.0, enquanto o chassi número 2 recebeu um Ford V8 4.7 idêntico ao usado no GT40 (acima). Este último venceu algumas corridas nacionais entre 1967 e 1968.

No começo de 1968 o motor Matra finalmente ficou pronto. Ele era um V12 3.0 de apenas 173 kg inspirado diretamente na Fórmula 1 e produzia 430 cv a 12.000 rpm. Esse motor equipou o chassi número quatro, que disputou a temporada de 1968 e brigou na ponta das 24 Horas de Le Mans daquele ano, até ser abatido por um incêndio que o obrigou a abandonar a prova. Ele também tem um dos roncos mais incríveis da história:

A Matra construiu apenas estes quatro chassis do M630S e logo em seguida o substituiu pelo M650S. Dos quatro modelos, um deles acabou destruído, outro pertence à Matra — que hoje faz parte do  e não usa mais seu antigo nome —, e os outros dois estão escondidos em coleções particulares e nunca mais foram vistos em público.

Contudo, em 2007 alguém com muito bom gosto e dinheiro de sobra, decidiu construir uma recriação do valente protótipo francês. E não foi apenas uma brincadeira de milionário: o exemplar do século 21 foi construído com base nos projetos originais da Matra mediante autorização da própria empresa — o que garantiu a certificação de originalidade e a numeração de chassi seriada, fazendo dele o Matra M630S #5.

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Só isso já faria desta recriação oficial um carro valiosíssimo em termos financeiros e históricos, mas a história não para por aqui. Quando o motor V12 ficou pronto, o chassi número 2 teve o Ford V8 trocado pelo novo motor, o que significa que ele é o único Matra M630 com motor Ford ainda existente. A autorização da Matra também permitiu que ele recebesse a certificação de veículo histórico da FIA para disputar as provas de clássicos.

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Em 2013 ele disputou a Master Series em Barcelona e Dijon, e mostrou tempos de volta mais rápidos que os marcados pelo Ford GT40. O segredo? O francês pesa apenas 820 kg, enquanto os GT40 levam o ponteiro da balança aos 910 kg.

Apesar desse renascimento glorioso, a brincadeira de menino rico parece ter cansado seu proprietário, e agora o protótipo está à venda na galeria Arts & Revs de Luxemburgo por € 535.000 (R$ 1,67 milhões). Uma pequena fortuna, sim, mas considerando que este é elo perdido entre os famosos M620 e M650, e um dos mais raros protótipos da história a cifra não parece absurda. Só esperamos que o comprador não seja um daqueles dois caras que esconderam seus carros.

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