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Técnica

O segredo do desempenho absurdo dos Mercedes nesta temporada da Fórmula 1

Desde a primeira volta dos primeiros testes livres desta temporada da Fórmula 1, as novas flechas de prata da Mercedes saltaram na frente de todo mundo e por ali ficaram. Claro, ajuda muito o fato de ter um bom piloto racional (Rosberg) e um dos maiores talentos de sua geração ao volante (Hamilton) dos dois carros, mas você sabe como é a Fórmula 1 hoje em dia — um carro bem nascido é tudo o que alguém precisa para dominar a temporada (ou as temporadas, como fizeram Newey, Vettel e companhia).

Aqui entra o segredo do W05, o carro da Mercedes para esta temporada. Como já explicamos antes, os carros da F1 agora usam um sistema híbrido composto por um motor V6 de 1,6 litro e dois motores elétricos que recuperam energia térmica e cinética para produzir boost e minimizar o lag do turbo nas saídas de curvas. O conjunto é padrão para todos, mas isso não significa que você não pode montar tudo isso do seu jeito. A Fórmula 1 tem controles e medidas sobre absolutamente cada elemento de um motor, e parte do trabalho dos engenheiros é analisar todos esses números para extrair o máximo possível sem ultrapassar os limites do regulamento.

Às vezes a solução é algo absolutamente nerd, como o difusor soprado e o escape aerodinâmico de Adrian Newey, mas às vezes é algo ridiculamente simples e óbvio. O que os engenheiros da Mercedes fizeram, foi dividir o turbo ao meio. Veja só que bela sacada.

Embora você tenha lido várias vezes por aqui que os turbos funcionam por mágica, na verdade eles são algo bem mais simples e mundanos. A função dos caracóis é pressurizar o ar para alimentar os cilindros com o maior volume possível. Quanto mais ar, mais combustível e quando essa mistura aumentada explode, era gera mais potência. Para pressurizar o ar e despejá-lo nos cilindros, os turbos usam duas hélices: a primeira delas é movida pelos gases do escape, que passam por ela e vão embora. Esse movimento gerado pelos gases de escape também movimentam a segunda hélice da turbina. A função dessa segunda hélice é pressurizar o ar que será admitido pelo motor, misturado à gasolina e explodido com a ajuda das velas.

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Acontece que, como toda máquina, esse sistema tem um pequeno inconveniente. Os gases de escape produzem muito calor, afinal, são produtos de uma explosão, e o calor não é bom para a produção de potência pois aquece o ar admitido, tornando-o menos denso e resultando em menos potência. É por isso que quando as pessoas instalam um “Cold Air Intake” no motor do carro, o rendimento é sensivelmente maior — ele “puxa” ar mais frio e denso para o motor, permitindo uma compressão sensivelmente maior que irá gerar mais potência.

Só que você não pode simplesmente colocar a turbina perto da admissão, pois ela esquentaria o ar admitido, e também não adianta colocá-la  longe do escape, pois isso iria acabar com a eficiência do sistema, que terá uma tubulação maior e mais pesada. O ideal seria ter uma parte perto do escape e a outra perto da admissão, mas para isso você precisaria fabricar sua própria turbina. 

Foi exatamente o que a Mercedes AMG fez. Segundo Mark Hughes, o guru técnico do canal britânico Sky Sports, o FW05 usa uma turbina “dividida ao meio”. Na traseira do motor fica a hélice do escape, e na frente vai a da admissão (ou o compressor). O eixo que conecta as duas passa pelo meio das bancadas de cilindros, e assim evita que o escape quente aqueça o ar admitido.

E tem mais: esse esquema de montagem do turbo permite que os componentes do drivetrain fiquem mais próximos do centro do carro, melhorando o equilíbrio dinâmico do Silver Arrow. Hughes estima que a turbina dividida da Mercedes produza 50 cv a mais que os demais carros, o que explica a corrida à parte feita pela dupla estrelada no GP do Bahrein neste último domingo (06).

A melhor parte (ou pior, depende do ponto de vista) é que o desenvolvimento dos motores é absurdamente limitado durante a temporada, e com isso só as equipes que usam motores Mercedes poderão tentar copiar a ideia – Williams, Force India e McLaren. Mas é pouco provável que isso aconteça, afinal, quem arriscaria a temporada tentando implementar algo que pode não dar certo? Ainda mais levando-se em consideração as especulações de que a Mercedes tenha trabalhado nesse motor em segredo nos últimos dois anos, dificilmente alguém conseguirá desenvolver algo parecido com tanta eficácia.

No fim das contas, teremos novamente um carro predominante nesta temporada, mas desta vez há dois pilotos travando suas batalhas no braço e na pista, sem interferência dos chefes. Ao menos até agora.

 [ Foto: Portal Grande Prêmio ]