Muscle cars australianos são carros para conhecedores – eles são mais obscuros e menos mainstream que os americanos, e são igualmente matadores. Existe um deles, porém, que se tornou um ícone no mundo todo: o Ford Falcon GT “Pursuit Special V8 Interceptor” de Mad Max, o clássico distópico de 1979 dirigido por George Miller e estrelado por Mel Gibson. E agora, o carro usado nas filmagens será colocado à venda.
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , , e muito mais!
É interessante falar de Mad Max porque, diferente das produções hollywoodianas multimilionárias dos EUA, o filme teve um orçamento relativamente baixo – US$ 270.000 dólares, e teve uma produção bem mais humilde. Por exemplo, foi utilizado apenas um carro para fazer o Interceptor de Max Rockatansky: um Ford Falcon XB 1973. Mais precisamente, um exemplar da série especial GT351, que só foi vendida entre 1973 e 1976.
O Ford Falcon GT351 tinha este nome por causa do motor V8 Cleveland 351 (5,8 litros) de origem americana debaixo do capô – e ele também vinha com freios a disco nas quatro rodas e barras estabilizadoras nos dois eixos. Era um carro raro: foram feitos apenas 2.899 unidades, sendo 1.950 sedãs de quatro pordas e 949 cupês.
Mesmo assim, na época o Falcon GT estava longe de ser um colecionável valioso e, por isso, pouco depois da produção de Mad Max 2 (1981), o Interceptor foi simplesmente largado em um ferro-velho – e salvo por um milagre.
O carro começou a ser transformado em 1977, quando a produção do filme enviou o carro para a empresa de customização de Ray Beckerley, a Graf-X International, em Brisbane. O veículo chegou junto com um briefing escrito pelo diretor de arte de Mad Max, Jon Dowding, no qual ele explicava a estética pós-apocalíptica do carro e ressaltava a importância do blower brotando para fora do capô. As modificações, como explicamos neste post, incluíram a instalação de um nose cone “Concorde” na dianteira – peça aerodinâmica projetada pelo designer Peter Arcadipane; e a inclusão de um spoiler no teto e outro na tampa do porta-malas, ambos vindos do Holden Monaro (heresia!) de corrida de Bob Jane. O blower foi apenas aparafusado no topo do motor, e sua carcaça na verdade abrigava o carburador. A polia era acionada por um motor elétrico instalado especialmente para este fim.
Após concluir seu trabalho na frente das câmeras, o carro foi colocado à venda pela produtora por US$ 7.500 – valor que não foi atingido, apesar do sucesso do filme e de suas subsequentes aparições em eventos de divulgação. Então, como forma de pagamento por seus serviços, o Falcon foi dado (assim, de graça) a um dos mecânicos envolvidos nas modificações, Murray Smith. E ele ainda saiu ganhando pois, quando a produção de Mad Max 2 começou, conseguiu vender o carro de volta à equipe.
De todo modo, depois que a produção de Mad Max 2 foi concluída, o Falcon foi levado para um ferro-velho em Adelaide, onde ficou largado por alguns anos, escondido sob uma capa de lona – apenas com os canos de escape para fora. E só os fãs mais hardcore de Mad Max e do Falcon GT desconfiavam que, debaixo daquela lona, estava um ícone da telona.
Foi só em 1985 que um fã chamado Bob Fursenko rastreou o Interceptor até o ferro-velho, fez uma oferta e o levou para cada, iniciando em seguida um trabalho de restauração que juntou o nose cone do primeiro filme e os tanques de combustível na traseira usados apenas no segundo filme.
Depois de capitalizar sobre a fama de seu Interceptor – e, esperamos, de curti-lo bastante pelas estradas do deserto australiano – Fursenko decidiu vender o Falcon para o museu britânico Cars of the Stars, no Reino Unido.
O museu funcionou entre 1989 e 2011 e, depois que fechou as portas, o Interceptor foi transferido par os Estados Unidos, onde ficou exposto até agora em um museu em Denver, na Flórida – o Dezer Museum, aberto em 2012 pelo colecionador Michael Dezer.
É bem possível que Dezer tenha decidido vender o Interceptor depois da repercussão do Ford Mustang de Bullitt, que tornou-se recentemente o Mustang mais caro da história ao ser arrematado por US$ 3,74 milhões (cerca de R$ 16,1 milhões em conversão direta). Talvez o fato de ele ser um carro mais underground que o Mustang o impeça de atingir uma cifra tão grande, mas certamente haverá muitos interessados.