Depois de levar o carro para o Newton, começaram os trabalhos, e o carro evoluiu muito em pouco tempo, o maior atraso foi a falta de dinheiro em alguns momentos (ou todos eles).
A primeira coisa que fizemos foi remover toda a pintura, deixar na lata e aplicar um fundo protetor, dessa forma saberíamos com o que realmente estávamos lidando.
Na foto o carro já com a tinta removida e sem o saiote inferior, que estava sendo consertado. Remover a pintura por completo é um processo caro, principalmente na questão da pintura posterior, mas é uma garantia e a única forma de saber o estado real do carro antes de repintá-lo.
A parte inferior do carro também foi removida, pois eu queria garantir que estava tudo certo por lá. No detalhe à esquerda está a solda feita do porta-malas novo, que vou falar mais pra frente. A seguir, veremos alguns pontos que me assustaram depois da remoção da tinta.
O primeiro deles é este ponto no teto, próximo à janela do passageiro, onde havia um buraco. Não faço ideia de como isso se criou aí…
… a porta também tinha um buraco:
Entre outras coisas que não cheguei a tirar fotos o porta-malas havia recebido remendos (serviço mal-feito do primeiro funileiro). Acabei substituindo-o por uma peça inteira comprada em ferro-velho. Preciso deixar aqui o agradecimento ao Newton, que foi até lá tirar o porta-malas do carro doador debaixo do sol desgraçado do Nordeste do Brasil.
A traseira foi removida completamente pra receber as correções necessárias. O Adriano, cara que me ajudou nesse processo todo, um dia espiou dentro dos orifícios onde as hastes do para-choque ficam e percebeu que ali dentro estava tudo podre.
Decidimos então por retirar a traseira e remover tudo de podre que havia por ali. Nesse momento também aproveitamos pra soldar o porta-malas novo e soldar uma peça que fica entre a traseira e o porta malas do carro. É uma chapa que aqui chamam de painel interno. Consegui comprar nova na loja de auto peças.
Assoalho novo e soldado no lugar. Tudo um pouco sujo, não dá pra evitar, por isso chegar em casa sujo de graxa, gasolina e/ou ferrugem faz parte do processo!
Aqui já é possível ver os aros de farol no lugar certo, um pouco mais recuados. Por incrível que pareça essas peças foram feitas à mão pelo pai do Newton! Não consegui encontrá-las e ele tinha um par original que ia utilizar no carro dele, daí o pai dele clonou o par original usando um gabarito e fez esses aí. Não dava pra diferenciar o que era original e o que era clone. Fui conversar com o pai dele e descobri que mexer com metal é coisa de família dele faz tempo. O pai dele fabricava até armas para a polícia antigamente.
Mas nem só de funilaria se compõe uma restauração, existem peças, acabamentos, todo o resto.
A primeira coisa que comprei foi o emblema SS, antes mesmo de levar o carro para o primeiro funileiro, o enrolador. Esse emblema eu deixava sempre na mesa que trabalho pra servir de estímulo, e por mais de dois anos ficou lá até ser colocado na grade, que só chegou muito tempo depois.
Nesse intervalo chegaram as máscaras das faixas, um pouco cedo, quase oito meses antes de podermos aplicá-las. Máscaras de ótima qualidade vendidas na Olddesign. Vem até com gabarito para aplicação:
Quanto ao motor, eu queria um seis-cilindros. Apareceu uma oportunidade de pegar um motor de Opala 1992, todo original, com cabeçote novo, coletor e carburador no lugar e tudo o mais. Faltava só o alternador, o radiador e outros acessórios.
Não tenho fotos dele no dia que peguei, mas aqui está ele já pintado de preto fosco. Eu sei que originalmente ele não era pintado nessa cor, mas tomei algumas liberdades quanto a seguir ao pé da letra a questão da originalidade. Coisa que verão principalmente no estágio da pintura com relação às faixas.
Eu tive a sorte de estar com dinheiro na hora que esse motor apareceu. Tive de agarrar a oportunidade! É uma dica que dou: sempre tenha uma reserva de dinheiro durante a restauração, de preferência grana que você não vá precisar, pois oportunidades aparecem e nessas horas é bom você estar pronto para abraçá-la.
Desde então eu sempre tenho algo guardado, caso um item que eu esteja precisando apareça.
Foi exatamente o que aconteceu! Apesar de não acreditar em sorte, ela sorriu para mim novamente. Me apareceu um eixo diferencial Dana 44 tirado de um Maverick V8, com freios à disco e pinças e já adaptado para o Opala.
Não pensei duas vezes. Estava procurando um diferencial pra botar no seis-cilindros e não tinha a menor ideia do que usar. Já estava pensando em usar o Braseixos do quatro-cilindros até quebrar, quando me aparece esse Dana.
Era bom demais pra eu deixar passar.
Aqui o Dana 44 na traseira da Strada do Dyego, o mesmo cara que me ajudou a levar o motor até a oficina do Newton, a uns 20 km de onde moro! O cara faltava aula da faculdade pra me ajudar a levar as peças. Valeu mesmo!
Ele está feio, eu sei, mas a aparência é o que menos importa aqui. Ele estava todo zerado por dentro, com todos os dentes da engrenagem. Só troquei buchas e a junta da tampa.
Mais adiante veremos como ele ficou depois de um trato. Isso e alguns outros trabalhos serão o assunto do próximo post. Até lá!
Por Charles Santos, Project Cars #20