Se você acompanha o FlatOut há tempos, certamente já leu várias vezes o quanto Gran Turismo 2 é um game legal, clássico, icônico e formador de entusiastas. Não é segredo nenhum: eu gosto bastante deste jogo, acho a seleção de carros e pistas impecável, a jogabilidade perfeita gráe a trilha sonora matadora. Claro, é um game datado, mas isto é normal: o primeiro Gran Turismo foi lançado há vinte anos, e os jogos evoluíram de forma espantosa nos últimos vinte anos.
Hoje em dia os gráficos são ultra-realistas, a quantidade de carros para escolher é muito maior, os circuitos são recriações perfeitas da realidade (com direito a escaneamento a laser) e, no caso dos simuladores, a experiência é tão completa que alguns são usados para ajudar treinar pilotos de verdade. No entanto, há um apelo nostálgico muito forte na experiência de jogar um jogo mais antigo, com gráficos 3D cheios de polígonos enormes, jogabilidade mais simples e menos perfumaria. E há muito mais neste universo do que GT2, eu sei. Muitas joias escondidas.
Uma delas é a série Option Tuning Car Battle, que você talvez conheça se for vidrado na cultura automotiva japonesa dos anos 1990, especialmente no que diz respeito às preparadora mais emblemáticas, como Top Secret, Amuse e Mine’s. Há, porém, mais chance de você não conhecer – os games foram lançado apenas no Japão, em japonês, em uma época sem internet e sites de compartilhamento de arquivos.
Aliás, a tecnologia é algo bem bacana: graças a um joystick bluetooth, é possível jogar clássicos do PSOne no celular através de um emulador – eu diria que a performance é praticamente perfeita, sem lags ou erros de processamento gráfico, e que o controle tem precisão suficiente para jogar qualquer coisa sem passar raiva. Até desisti de comprar um PlayStation recondicionado, desses que vendem no Mercado Livre.
O envolvimento na experiência não é o mesmo (especialmente para quem sempre foi ligado no ritual de ligar a TV, abrir a tampa do console, colocar o CD lá dentro e torcer para o jogo rodar), mas a praticidade fala mais alto. Além disso, você provavelmente vai concordar comigo: a rotina de hoje é diferente da rotina do fim dos anos 1990, e torna bem mais difícil o ato de sentar no sofá, ligar a TV e passar algumas horas no videogame. O lance é mais casual.
E, sem querer, estas acabam sendo as circunstâncias ideais para curtir um game dos anos 90 – eles são mais simples, antiquados e podem acabar irritando a quem está mais acostumado com jogos modernos, bonitinhos e cheios de side quests, achievements e rankings. Há quem já não tenha mais paciência de se dedicar plenamente a um game antigo, mas dá para passar alguns dias se divertindo nas horas vagas.
Especialmente porque é um game bem bacana, para a época. É totalmente voltado para fãs da revista Option, fundada no Japão em 1981 e uma das principais publicações dedicadas à cena de carros modificados no Japão desde então.
Em seus primeiros anos, a Option não cobria apenas eventos fechados na pista, mas também corridas de rua – incluindo disputas organizadas pelo lendário Mid Night Club –, dando detalhes da preparação usada em cada um dos carros. A prática, então, começou a ser proibida, pois era vista como uma forma de apoiar os rachas nas ruas. A Option, então, começou a levar os carros das ruas para circuitos fechados e trajetos isolados nas montanhas do Japão, as famosas touges.
Na década de 90 a Option começou a fazer comparativos em vídeo, na mesma veia das produções da Best Motoring International, com pilotos profissionais apresentando os carros e depois sentando a bota.
Os games da série Option Tuning Car Battle foram feitos com base nestes programas, utilizando imagens pré-renderizadas dos apresentadores para apresentar os diferentes desafios e colocando o jogador para participar de duelos e corridas em pistas fechadas e trajetos em vias públicas, sempre baseados em locações reais do Japão. No PlayStation, são três títulos: Option Tuning Car Battle, Option Tuning Car Battle 2 e Option Tuning Car Battle Spec-R. Em essência, os três são iguais, trazendo dois modos e jogo (arcade e carreira), a mesma tipografia noventista dos programas e carros inspirados em ícones do mundo real, porém sem utilizar exatamente os mesmos nomes. Por exemplo, o Toyota Corolla Levin AE86 virou só “T-L86”, o Honda Civic Type R EK9 virou apenas “H-CVR” e o Mazda RX-7 da geração FD passou a se chamar “M-FD”. Uma boa forma de evitar problemas de copyright.
No modo Arcade, todos os carros estão liberados, assim como kits de preparação básicos para todos eles. O Toyota Supra, por exemplo (ou melhor, o o T-80), pode ser equipado com kits da VeilSide ou da Top Secret.
A jogabilidade é a de um arcade com toques de simulação: é preciso frear bastante antes das curvas, ou o subesterço vai te fazer sair da pista e bater no muro, e não dá para “cortar caminho” pelo canteiro, pois o carro não passa de 50 km/h fora do asfalto. Mas não é preciso se importar tanto com a dinâmica do carro, pois colisões em velocidade muito alta simplesmente fazem seu carro voltar para a pista sozinho com o rebote. Não é um jogo difícil, neste aspecto.
No modo carreira as coisas são um pouco mais complexas: você começa o jogo com uma certa quantia em dinheiro e, com ela, precisa comprar seu primeiro carro e prepará-lo para disputar duelos contra donos de outros carros preparados. Você tem uma garagem 3D com pôsteres e pode customizar seus carros (de forma limitada claro) com adesivos e conjuntos de rodas, além de melhorar o motor, os freios e a suspensão. Novamente, nada muito fiel à realidade, mas o fato de usar preparadoras reais e imagens de componentes de verdade torna tudo bastante autêntico.
A direção dos carros é meio travada e os gráficos meio quadrados, mas o design dos circuitos é criativo e a ambientação, especialmente nos trajetos noturnos como o Wangan, é convincente. A comparação com Gran Turismo é inevitável: o clássico a Polyphony é mais refinado e, de certa forma, traz estética e jogabilidade mais atemporais, com gráficos melhores e uma trilha sonora mais interessante. No entanto, Option Tuning Car Battle vale a experiência, especialmente para quem quer algo mais fácil de jogar e não se importa tanto com conteúdo licenciado.
Você pode tentar jogar os outros games da série caso queira um jogo mais bonito, mas a essência é praticamente a mesma. Dá uma olhada em Option Tuning Car Battle 2…
… e também em Spec-R:
Não é uma experiência para todo mundo – se você está acostumado com a complexidade de Forza ou os títulos mais recentes da série Gran Turismo, ou prefere os gráficos bonitos e a jogabilidade simplificada dos títulos modernos para celular, como Asphalt ou Real Racing, talvez seja melhor continuar assim. Se você está nostálgico ou simplesmente quer conhecer um game de corrida antigo diferente dos medalhões, Option Tuning Car Battle é uma ótima pedida.