Enzo Ferrari ficou doente na pandemia. Sim, a pandemia de Gripe Espanhola, de 1918. Ele servia o exército italiano, na época, e, por ter contraído a doença, acabou dispensado do combate. Ao chegar em casa, Enzo descobriu que a carpintaria de sua família havia falido e fez o que qualquer homem de 20 anos faz diante desta situação: foi procurar um emprego.
Ferrari estudou pouco por opção. Aos dez anos decidiu que se tornaria piloto de corridas e, além disso, tinha um pequeno negócio familiar que garantia o sustento. Sem o negócio familiar, ele foi atrás de sua velha paixão, os automóveis. Enzo foi parar na pequena CMN, que convertia utilitários usados em carros de passeio e, já no ano seguinte, começou a competir em provas regionais usando os carros que ele mesmo construía e preparava.
O responsável por isso foi um colega de trabalho chamado Ugo Sivocci, apaixonado por carros como Enzo. Mais experiente, Sivocci teve influência o bastante para garantir a Enzo uma posição na equipe da CMN. Em 1920, Enzo Ferrari retribuiu o favor. Quando foi contratado pela Alfa Romeo para preparar e pilotar seus carros de corrida, levou Ugo Sivocci consigo. Foi o momento-chave que daria origem à criação de um dos mais famosos símbolos da história do automobilismo: o Quadrifoglio Verde da Alfa Romeo.
Juntos, os amigos se tornaram parte da equipe de fábrica da Alfa ao lado de Antonio Ascari e Giuseppe Campari. O quarteto conquistaria diversas vitórias importantes nas competições da época, como a Targa Florio e a Coppa Accerbo. Contudo, Ugo Sivocci acabou conquistando uma fama um tanto indesejável: a de um piloto azarado, visto que não conquistava tantas vitórias como seus colegas de equipe.
Para a Targa Florio de 1923, Sivocci decidiu incluir um amuleto em seu carro: um trevo de quatro folhas dentro de um losango branco. Cada um dos lados do losango representava um dos pilotos da equipe, e o desenho ficava bem perto da grade do radiador. O carro era o Alfa Romeo RL TF, que tinha um seis-em-linha de 3,2 litros e 95 cv. Foi o primeiro de todos os Alfa com o trevo da sorte.
O trevo normalmente é uma planta com três folhas (daí o ‘tre’ de seu nome). A quarta folha é uma manifestação do gene recessivo de ocorrência relativamente rara; um trevo a cada 10.000 nascem com a quarta folha. De acordo com a simbologia celta, as três folhas do trevo representam fé, esperança e amor. Como as chances de encontrar um trevo de quatro folhas são pequenas (1:10.000), os celtas acreditavam que isto era um sinal de sorte — que também é o significado da quarta folha.
A história ainda diz que, no Alfa Romeo, o símbolo também servia para ajudar o público das corridas a identificar o carro de Sivocci em meio à poeira e sem capacetes coloridos como hoje em dia. O caso é que Ugo finalmente conseguiu vencer uma corrida naquele ano: a Targa Florio de 1923, até hoje sua maior conquista no automobilismo.
Esta é a origem do trevo nos Alfa Romeo. A história, contudo, tem uma segunda parte que conta a permanência do trevo e a transformação do losango em triângulo — e ela não tem um final feliz como a vitória na Targa Florio.
Ainda com o trevo no carro, Ugo Sivocci levou o novo Alfa Romeo P1 ao autódromo de Monza para uma bateria de testes e acabou sofrendo um gravíssimo acidente. Ele morreu no local e, como consequência da tragédia, a Alfa Romeo retirou seus carros de todas as competições naquele ano.
Em 1924, de volta às pistas, a Alfa Romeo decidiu homenageá-lo mantendo o trevo de quatro folhas em seus carros, porém agora sobre um triângulo branco — com a morte de Sivocci, um dos lados do losango foi removido, simbolizando a perda do piloto. Desde então, praticamente todos os Alfa Romeo de competição inscritos pela fábrica foram decorados com o trevo.
Quando a Alfa Romeo voltou à Fórmula 1 por uma parceria com a equipe Sauber, além do vermelho dos seus carros, ela também trouxe o trevo de quatro folhas, que foi posicionado nas laterais da admissão, sobre o santantônio do carro, porém sem a base triangular — como nos Alfa Romeo de F1 dos anos 1970.
Além dos carros de competição, o Quadrifoglio também indica as versões esportivas dos modelos de rua da marca, que também são batizados com o nome do símbolo — como o atual Giulia Quadrifoglio Verde.
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