Você consegue lembrar quando foi a última temporada na qual a McLaren foi realmente competitiva? Eu respondo: 2012, o penúltimo ano dos motores aspirados, e o segundo da Mercedes de volta à F1 como equipe oficial. Desde então, a McLaren amargou uma sequência de oito temporadas sem uma mísera vitória, que só foi quebrada por, vejam só, Daniel Ricciardo em 2021, com os motores Renault.
A parceria entre McLaren e Mercedes foi uma das mais bem-sucedidas da Fórmula 1. Estabelecida em 1995, ela rendeu um título mundial de construtores, dois de pilotos e mais de 70 vitórias em grandes prêmios, estabelecendo a equipe britânica como a outra grande equipe dos anos 1990 e 2000, rivalizando de verdade apenas com a Ferrari de Schumacher, Barrichello, Todt e Montezemolo.
Antes disso, contudo, a McLaren também teve um caminho tortuoso como o que enfrenta atualmente. Graças a uma crise econômica na Europa, a Honda decidiu que não iria mais investir na Fórmula 1 e caiu fora, deixando a McLaren sem motor. A Renault tinha um V10 de primeira, mas o contrato com a Williams a impedia de fornecer a outras equipes. Como a Ferrari não era uma opção e os demais motores disponíveis, como Hart, Judd e Yamaha eram fracos demais, o jeito foi tentar algo com a Cosworth.
O problema é que a Cosworth já tinha um contrato bem-amarrado com a Benetton de Flavio Briatore e Schumacher. Com isso, a McLaren recebeu uma especificação mais antiga do motor Cossie, com cerca de 35 cv a menos. Ron Dennis topou o acordo e entregou o Cosworth ao pessoal da TAG, de quem era sócio, para atualizar o motor antigo. Isso resolveu a questão da potência e permitiu que o McLaren fosse minimamente competitivo naquela temporada.
Para piorar, a Williams, campeã do ano anterior com Nigel Mansell e Riccardo Patrese, havia construído novamente um carro muito superior com ajuda de Adrian Newey e passou a contar com a genialidade de Alain Prost como piloto principal e o talento de Damon Hill no segundo carro.
Por mais que Ayrton Senna fosse um piloto brilhante, seu esforço não era suficiente para fazer frente aos Williams FW15, equipados com o poderoso V10 Renault, cerca de 80 cv mais potente que o Cosworth V8 do McLaren MP4/8. Senna sabia que seria preciso algo bem mais potente para superar Prost e seu carro de outro planeta. Ou um pouco de chuva.
Quem também sabia disso era Bob Lutz, o genial executivo que fez praticamente tudo o que você mais gosta das marcas americanas. Na época, Lutz era chefe de desenvolvimento global do Grupo Chrysler, que por acaso era proprietária da Lamborghini desde 1987. Os italianos logo desenvolveram um V12 para a Fórmula 1, que foi usado a partir de 1989 pela Lotus, e Lola e mais tarde pela Minardi e Larousse.
Mas de que adiantaria colocar seu motor na Fórmula 1 se você não vai ganhar corridas com ele? Bob Lutz então foi atrás de uma equipe de ponta que estivesse precisando de um novo motor, e foi assim que ele encontrou Ron Dennis e a McLaren.
Nos três meses seguintes a McLaren desenvolveu uma modificação do carro daquela temporada para acomodar o motor mais comprido. O carro foi batizado como MP4/8B ou “McLambo”, para aqueles que não decoram códigos e no dia 20 de setembro de 1993 Ayrton Senna sentou-se ao volante do bólido para uma sessão privada de testes em Silverstone.
O V12 fornecido à McLaren era ligeiramente diferente daqueles usados pela Larousse e pela Minardi. Senna pediu ao engenheiro Mauro Forghieri que o motor ficaria melhor com menos pegada em ato giro, e mais torque em médias rotações. As mudanças foram feitas ao gosto do cliente e o V12 acabou com mais de 750 cv — cerca de 70 cv a mais que os Cosworth Ford original.
O novo V12 também tornou o carro mais estável e menos exigente com os pneus e foi pelo menos um segundo mais rápido por volta nos testes de Mikka Häkkinen em Silverstone. Imagine nas mãos de um Senna obcecado em derrotar Prost…
Por isso Senna queria usar o carro no Japão a qualquer custo, mesmo sabendo da baixa confiabilidade do novo motor — ele estava desesperado para superar Alain Prost. Mas Ron Dennis negou — até por que Senna dependia de abandonos de Prost com o melhor carro do grid para ser campeão — e no dia seguinte Prost anunciou sua aposentadoria. A Chrysler também não gostou da decisão, e declarou publicamente sua decepção, pois o carro ficou mais rápido e Ayrton Senna achou que ele tinha potencial.
No fim, Senna correu as duas últimas provas da temporada com o V8 Cosworth — em Suzuka e Adelaide — venceu ambas e conseguiu se aproximar mais da liderança do campeonato, mas não foi suficiente para impedir Prost de faturar seu quarto e último título mundial. No ano seguinte Prost deixou as pistas e Senna foi para a Williams atrás daquele carro de outro planeta.
Há quem diga que a McLaren usou a Lamborghini para pressionar a Cosworth a entregar um motor melhor, mas é apenas especulação, pois ao final daquele ano a Chrysler deixou a Fórmula 1 e logo vendeu a Lamborghini para um grupo indonésio devido à baixa procura pelo Diablo nos EUA.
Para 1994, a McLaren optou pelos motores V10 da Peugeot — talvez acreditando que o segredo estivesse na água dos franceses… — e desenvolveu o MP4/9. O carro foi um verdadeiro fiasco que não conseguiu vitórias, nem poles e ainda enfrentou a tendência explosiva dos motores. Aquele definitivamente não foi um bom ano para ninguém.
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