Dia 6 de janeiro: segundo a tradição, hora de desmontar a árvore de Natal. E também é hora de fazer uma retrospectiva do ano passado. Porque 2017 teve diversos lançamentos importantíssimos, no Brasil e no mundo – tivemos muito o que noticiar, comentar e analisar em termos de carros novos.
Pedimos a ajuda dos leitores. Depois de citar como exemplos o Alpine A110, com sua receita entusiasta old school modernizada na medida certa; o Porsche 911 GT2 RS e sua brutalidade insuperável; e o Polo TSi 200, que veio para renovar a linha da VW e brigar como o Fiat Argo no segmento dos compactos “premium”, que cresce bastante no Brasil já há algum tempo; perguntamos a vocês quais foi o melhor, o mais importante ou mais entusiasta dos lançamentos de 2017 – o seu lançamento favorito.
As sugestões não foram muitas, mas ilustram bem a diversidade de pensamento do nosso público. Não foram poucos os que elegeram o Dodge Demon e seus mais de 800 cv, ou o McLaren Senna e seu desapego à estética em favor da função. Houve quem comemorasse a volta da TVR com o Griffith, e quem preferisse a presença marcante da 812 Superfast. Mas também teve quem lembrasse do segmento dos populares com o Kwid, e dos hot hatches com o Civic Type R. São carros de segmentos totalmente distintos, e alguns sequer têm proposta entusiasta, mas temos de reconhecer sua importância.
Houve também quem concordasse e quem discordasse das nossas três sugestões, mas é aquela história: o que seria do azul se todos gostassem do amarelo?
Enfim: não vamos entregar o jogo todo na introdução. Segue a lista!
Dodge Challenger SRT Demon
É bem possível que o Dodge Challenger SRT Demon seja o último de sua espécie. Não o último muscle car, não o último Dodge (deus me livre) e muito menos o último Challenger. Mas a gente duvida que apareça outro arrancada legalizado para as ruas com motor Hemi 6.2 supercharged de 850 cv capaz de cumprir o quarto-de-milha na casa dos nove segundo sem qualquer preparação aftermarket.
Claro, porque toda esta preparação foi feita pela fabricante. O motor foi completamente retrabalhado e reforçado, o peso foi aliviado, a suspensão foi toda recalibrada para a arrancada e os pneus foram escolhidos a dedo. A Dodge até instalou um bloqueador de transmissão automática de oito marchas, o TransBrake, para dispensar o uso do freio na hora de segurar o carro na largada, o que melhora o tempo de reação em até 30%.
Tudo isto sem abrir mão da combustão interna, do deslocamento, do supercharger, do ronco de motor, da fumaça de pneu. É uma afronta ao mundo moderno, com automóveis queimadores de gasolina cada vez mais perto de se transformarem em vilões irrecuperáveis. O Tesla Roadster promete ser ainda mais rápido, mas conhecemos muita gente que sequer o considera um carro. Não somos radicais, e sabemos que os automóveis estão mudando muito rápido – se o futuro não é elétrico, certamente será híbrido. O que ele definitivamente não será é movido por um motor V8 supercharged de 850 cv.
Se o canto do cisne da combustão interna fosse o Demon, seria um belíssimo canto, por tudo que ele representa.
Ferrari 812 Superfast
São 800 cv, sim, OITOCENTOS CAVALOS, sem qualquer tipo de indução forçada – all motor, como os americanos dizem. E são 800 cv em um carro de quatro lugares com todos os equipamentos necessários para uma longa viagem com conforto. E sem apelar para motores elétricos, por enquanto.
A Ferrari deu à 812 Superfast um nome imaturo, visual agressivo além da conta e uma boa dose de tecnologia, como a adoção de um sistema de esterçamento nas rodas traseiras que reproduz o efeito de um entre-eixos encurtado – o Passo Corto Virtuale. E quem andou na 812 Superfast garante que ela é mesmo super fast como o nome e aparência sugerem. É provável que ela seja o último grand tourer “puro” da Ferrari, o que também aumenta seus pontos com a gente.
McLaren Senna
Os entusiastas brasileiros ficaram felizes e honrados com o hipercarro “surpresa” que a McLaren apresentou no fim de 2017. A homenagem a Ayrton Senna, que foi tricampeão pela McLaren nos anos 90 (em 2018 completam-se 30 anos de seu primeiro título!), é mais do que justa. Mas… precisava ter um visual tão… diferente?
Sim, sabemos que o que conta é forma sobre função, mas ao mesmo tempo estranhamos o balanço dianteiro tão longo, o balanço traseiro tão curto, e a asa traseira tão alta. Além de todas as entradas e saídas de ar. Agora, naturalmente não recusaríamos umas voltas, mesmo que fosse no banco do carona. Afinal, ainda estamos falando de um hipercarro com motor V8 biturbo de 800 cv e 81,6 mkgf de torque capaz de chegar aos 100 km/h em cerca de 2,5 segundos, com máxima superior a 340 km/h e foco total na pista. Para se ter uma ideia, até mesmo os amortecedores das portas tesoura ficam expostos, pois uma cobertura para cada um deles adicionaria indesejáveis centenas de gramas ao peso final do carro. Que, para quem não lembra, é de 1.198 kg – para se ter uma ideia, um Golf GTi pesa mais de 1.300 kg e é considerado um carro “leve” para os padrões normais.
E só vão fazer 500 deles. Ou seja: prepare-se para ver os preços subirem no mercado de hipercarros seminovos nos próximos anos.
Porsche 911 Carrera T
A próxima geração do Porsche 911, que já está sendo flagrada em testes, vai perder de vez os motores naturalmente aspirados, e pela primeira vez trará versões híbridas. Já notaram como estamos falando bastante nesta transição, não é? Pois, para nós, o 911 Carrera T é um aceno da Porsche aos puristas – que alguns podem encarar como uma despedida, mas nós preferimos dizer que é um ciclo se fechando.
Você lembra do Porsche 911 R e do hype descontrolado que ele causou? Pois o 911 Carrera T é a versão “de série” da edição limitada. Ou seja: ele tem um flat-six turbinado de três litros e 370 cv, câmbio manual de seis marchas e tração traseira. Ele vai de zero a 100 km/h em 4,3 segundos e é capaz de chegar até os 293 km/h. Honestamente: é preciso mais do que isto para curtir um Porsche 911?
Claro, é possível comprá-lo com câmbio PDK como opcional, arredondando o 0-100 km/h para quatro segundos cravados. Mas aí o carro perde seu propósito.
Honda Civic Type R
O Honda Civit Type R é a famosa aposta certa: a Honda dominou a arte de fazer bons carros de tração dianteira nos anos 80 e só melhorou desde então. Quer dizer, há quem ache que o primeiro Type R, com seu motor naturalmente aspirado de 1,6 litro e 185 cv a 8.200 rpm, insuperável. Mas ele já deixou de ser fabricado há 18 anos (foi produzido de 1997 a 2000). É preciso superar.
A décima geração do Honda Civic foi aclamada por seu design, e o Type R se beneficiou disto: o carro ganhou uma carroceria fastback com uma postura muito mais agressiva e assentada no chão. Já o motor permanece um 2.0 turbo com 316 cv a 6.500 rpm e 40,8 mkgf a 2.500 rpm, acoplado a um câmbio manual de seis marchas que despeja a força toda nas rodas dianteiras. Some a isto um visual bastante agressivo, temperado com bom acabamento, bons equipamentos e um ronco surpreendentemente silencioso em altas rotações, e o que se tem é o template do hot hatch pau-para-toda obra. É pedir muito um desses por aqui?
Renault Kwid
Este foi um lançamento bastante relevante no mercado brasileiro. Ele não é um esportivo, não é um carro para entusiastas, mas conseguiu ser um dos poucos automóveis que custam menos de R$ 30.000 à venda atualmente, graças a diversas medidas para reduzir custos – eliminação do comando variável no motor 1.0, simplicidade no lado de dentro, três parafusos nas rodas (como nos antigos Ford dos anos 70 e 80, como o Corcel e o Del Rey, que têm origem Renault) e poucos itens de série. Apesar disso, é um carro de visual atraente, usa uma plataforma moderna e tem três estrelas nos testes de colisão do Latin NCAP.
Com seu preço competitivo, o Kwid forçou os rivais a reajustarem seus preços e reaqueceu o segmento dos compactos de entrada – não dá mais para chamá-los de populares. Só não dá para chamá-lo de mini-SUV…
Chevrolet Corvette ZR-1
É um Corvette de 765 cv capaz de chegar aos 340 km/h. Precisa mais? O novo Chevrolet Corvette ZR1 só virá no fim deste ano, mas foi apresentado em 2017 e, por isso, merece estar nesta lista. Ele virá equipado com o novo motor LT5 – um V8 de 6,2 litros com comando no bloco e supercharger, cujos 765 cv chegam Às 6.300 rpm, com torque de 98,85 mkgf. O câmbio de série é manual de sete marchas (com a opção por uma caixa automática oito marchas).
Aerodinâmica agressiva, o supercharger com cobertura de fibra de carbono que fica exposta na abertura do capô e o fato de ter 120 cv a mais que o ZR1 anterior fazem do novo ZR-1 um dos carros mais bacanas desta década. E ele é um dos poucos que têm chances reais de cravar um tempo sub-7 em Nürburgring Nordschleife, agora que a Porsche tomou para si a coroa do circuito alemão.
Renault Sandero RS Racing Spirit
Não é segredo para ninguém que a gente curte o Renault Sandero RS: o esportivo desenvolvido no Brasil com a ajuda de técnicos franceses da RenaultSport foi feito à moda antiga, usando peças de prateleira e aproveitando ao máximo o potencial da plataforma. O resultado é um Sandero com visual mais agressivo, inspirado pelos hot hatches que a Renault vende na Europa e equipado com o motor 2.0 emprestado do Duster, com 150 cv e capacidade para levar o hatch até os 100 km/h em 8 segundos com máxima de 202 km/h.
O barato da versão Racing Spirit, lançada neste ano em uma série limitada a 1.500 unidades, é dar ao Sandero RS novos pneus – em vez dos Continental ContiSportContact3 usados normalmente, o Racing Spirit vem com um jogo de Michelin Pilot Sport 4. As medidas são as mesmas – 205/45 R17 – mas a pegada dos Michelin é muito mais esportiva, com sulcos menores, flancos mais rígidos e carcaça mais firme. O fato de ter uma versão especial com foco nos pneus, em vez de mais potência ou de penduricalhos visuais (embora existam mais detalhes em vermelho) ajudam a entender por que o Sandero RS caiu nas graças do pessoal rato de pista.
TVR Griffith
O TV Griffith foi outro esportivo revelado em 2017, e sem dúvida era um dos carros mais aguardados do ano. Marcando a volta de uma das companhias mais cultuadas de todos os tempos, o Griffith foi desenvolvido com a ajuda de Gordon Murray e traz debaixo do capô um V8 Ford Coyote de cinco litros emprestado do Mustang, preparado pela Cosworth para entregar 500 cv que vão para as rodas de trás moderados por uma caixa manual de seis marchas da Tremec, única disponível.
A carroceria e a estrutura de fibra de carbono garantem que o peso fique em 1.250 kg, relativamente leve para um automóvel do porte do Griffith. O visual dividiu opiniões, mas no fim das contas todo TVR que se preze tem de ser meio polarizador no quesito estético – lembra do Sagaris? Ele era bonito, mas não no sentido tradicional da palavra. E tudo bem! Agora, só falta começarem as vendas.
Jeep Wrangler
O novo Wrangler chegou no fim do ano e, olhando rápido, não dá para perceber muita diferença em relação à geração anterior. Com um pouco mais de calma, porém, dá para notar que a Jeep decidiu ser mais fiel às raízes, dando ao SUV um visual mais robusto e utilitário, ao mesmo tempo em que injetou uma dose de agressividade.
Pela primeira vez o Wrangler adota um motor turbo – um quatro-cilindros de dois litros e 270 cv, e a Jeep fez melhorias à plataforma com aço de alta resistência e componentes de magnésio para deixar a estrutura mais rígida e o veículo, 90 kg mais leve. Isto sem falar nas portas, teto e para-brisas, que ficara mais fáceis de ser removidos para tornar a condução mais envolvente e garantir a experiência a céu aberto que o Jeep clássico proporcionava nos anos 40, e tornou-se marca registrada também do Wrangler. Viva a evolução!