A maioria dos entusiastas considera os automóveis uma forma de arte. E por que não? Um paralelo fácil de fazer é o dos carros construídos à mão por verdadeiros artesãos que, especialmente nas décadas de 1950 e 1960, criavam carrocerias que, honestamente, só podiam ser consideradas arte.
No entanto, há quem use carros para fazer arte. E, claro, a gente sempre fala deles aqui. Seja os utilizando como uma tela — caso dos Art Cars da BMW, que já existem há décadas e se tornaram uma tradição (falamos todos eles em um especial com duas partes, aqui e aqui) — ou os transformando em arte em si. Às vezes, de um jeito fatal — como aconteceu com aquele Rolls-Royce que foi explodido em um deserto “em nome da arte”. Lembra dele?
Aliás, nós temos uma lista de obras de arte feitas usando carros que você faria muito bem em conferir agora mesmo!
O caso é que um artista britânico chamado Chris Labrooy faz exatamente isto: pega automóveis e os transforma em algo diferente — no caso, curiosas esculturas elásticas. Só há um detalhe: ele o faz virtualmente, usando modelos tridimensionais. O que é bom, porque a gente sabe de muita gente que não iria gostar muito de ver um Nissan Skyline GT-R “Hakosuka” ou um Honda NSX distorcidos e transformados em arte moderna.
Tales of Auto Elasticity (algo como “Contos de Elasticidade Automotiva”) é o nome da série de ilustrações em 3D de Labrooy, que aposta em um estilo que mistura realismo nas formas e surrealismo nos cenários e situações. E o resultado é tão inesperado que não conseguimos tirar os olhos.
É como se os carros estivessem praticando yoga ou fossem contorcionistas, e os cenários coloridos só aumentam a psicodelia das obras. É óbvio que o cara sabe os carros que escolhe: em seus primeiros trabalhos, datados de 2014, Labrooy usou o Pontiac Bonneville como objeto. Em seu site, ele conta como foi que surgiu a ideia — como acontece com muitas obras, foi quase por acaso.
Caminhar pelo Brooklyn, em Nova York, durante uma noite de inverno, é uma experiência verdadeiramente memorável que me motivou a construir um modelo em 3D que capturasse os vários detalhes e texturas do lugar. O Pontiac seria só um elemento do cenário, estacionado na calçada. No entanto, mais tarde eu decidi criar um tema paralelo para a série, e comecei a tornar as formas do carro abstratas ao fazer um buraco no meio deles, esticar as proporções e brincar com a quantidade. Com o tempo, o resultado foi ficando extraordinário.
É bacana ver um artista apreciando seu próprio trabalho, não é mesmo? E dá asas para a imaginação. Ficamos pensando em um universo paralelo onde o planeta terra foi completamente desabitado por seres humanos e os carros são elásticos, ou algo assim. Não dá para saber exatamente o que Labrooy imaginou quando criou as modelagens em 3D, mas a arte não serve para ser interpretada à nossa própria maneira?
Um dos aspectos mais bacanas da arte em 3D é poder explorar vários ângulos da mesma obra
Depois dos Pontiac, foi a vez das picapes Ford F-Series em um estacionamento típico dos filmes americanos — desta vez, parece que elas estão em uma dança estranha de acasalamento ou algo assim, até porque são picapes de gerações diferentes.
A mais recente adição à série mostra que, de fato, Labrooy é um car guy. Inspirado por uma viagem ao Japão, ele pegou modelos clássicos como o Honda NSX, o Skyline GT-R “Hakosuka” (em um belo tom de azul) e o Toyota AE86 (este, famoso pela cultura drifter de Initial D) e os esticou, distorceu e transformou nas mais estranhas esculturas virtuais automotivas que já vimos. E, como em um aceno para a cultura pop japonesa, Labrooy colocou um Pikachu e um Sonic no vão aberto no Toyota.
E fica tudo ainda mais esquisito em movimento, como mostra o vídeo abaixo. A cena é quase distópica e pós apocalíptica: em um futuro não muito distante, vão sobrar apenas carros autônomos, cidades desertas e figuras de personagens de jogos eletrônicos. Dá até medo, apesar das cores alegres e vibrantes…
[vimeo id=”154856650″ width=”620″ height=”350″]
Aliás, a estética colorida dos trabalhos de Labrooy é reflexo daquilo que ele faz para viver: campanhas publicitárias em 3D exatamente nesta pegada — um realismo cartunesco que consegue, ao mesmo tempo, ser divertido e um tanto perturbador. Como toda arte, no fim das contas, procura ser.