O Toyobaru é um carro incompreendido. A Toyota e a Subaru o desenvolveram em parceria como um esportivo a là Mazda MX-5 Miata: leve, com tração traseira, motor naturalmente aspirado e delicioso de guiar. Bem acertado nas curvas e desprovido de frescuras, ele só precisa de 200 cv (ou 205 cv depois da reestilização de 2016) para divertir – nós andamos nele, e sabemos disto muito bem.
Agora, por mais que tenha sido concebido com o aftermarket em mente, muitos entusiastas sentem que uma versão mais potente, com turbocompressor é exatamente o que o Toyobaru precisa para se tornar um carro realmente desejável. Seria benéfico até mesmo para sua imagem futura.
E não seria complicado: a própria Subaru tem alguns motores flat-four turbinados que não dariam tanto trabalho para ser adaptados no cofre do 86/BRZ – mesmo o FA 2.0 de 270 cv do Subaru WRX não-STIseria muito bem vindo. E todo mundo esperava que algo do tipo fosse acontecer quando a Subaru mostrou a foto de uma asa traseira com o emblema da divisão STI montada em um BRZ há algumas semanas.
Não foi o caso: o que a Subaru preparava era o BRZ tS (tuned by STI), que conta com aparatos aerodinâmicos da STI e melhorias na suspensão, mas nenhum cv a mais no motor, e muito menos um turbocompressor. Nós entendemos que, por mais que tecnicamente o carro já esteja “pronto” para um motor como este, é provável que os custos de desenvolvimento e homologação de uma versão turbinada não justifiquem sua produção, por mais que os fãs peçam. Além disso, não tem como não admirar um motor naturalmente aspirado de dois litros e 205 cv – mais de 100 cv/L, caras.
Só que também entendemos o apelo de uma base tão promissora sendo “desperdiçada” com “apenas” 200 cv. E é por isso que curtimos quando alguém faz um belo engine swap usando o Toyobaru como base. E decidimos separar alguns dos transplantes de motor mais sensacionais já feitos com ele neste post!
O GT4586 de Ryan Tuerck
O piloto de drift profissional Ryan Tuerck às vezes parece passar muito mais tempo nas redes sociais do que ao volante, mas ele sabe o que está fazendo e tem ideias deliciosamente insanas de tempos em tempos. A última delas foi especialmente brilhante: colocar um motor V8 da Ferrari 458 Italia no GT86 que usa para competir na elite do drift americano.
Foi uma adaptação complicadíssima por causa da configuração do motor: um V8 de 4,5 litros com virabrequim de plano simples, comando duplo nos cabeçotes e 90° entre as bancadas de cilindros, bastante largo, com um enorme coletor de admissão no topo. Perfeito para um supercarro de motor central-traseiro, bastante difícil de acomodar no cofre feito para um boxer 2.0 de quatro cilindros naturalmente aspirado.
Foi preciso cortar a base do para-brisa para acomodar as entradas de ar do coletor de admissão, alimentados por dutos no para-lama. Isto mesmo: o motor foi montado “invertido”, com os coletores de escape instalado no espaço reservado ao radiador, e os radiadores lá atrás, alimentados por um duto no teto. A transmissão é uma caixa sequencial de cinco marchas da Tilton, e um capô feito sob medida foi confeccionado para cobrir a usina.
WTF-86, o GT86 com motor de Nissan GT-R
Apropriadamente batizado como WTF-86, este carro pertence à equipe australiana Street FX. O carro foi comprado por eles em 2012 e, até o fim de 2015, estava com seu motor de fábrica equipado com dois turbos para entregar 550 cv. Para conseguir elevar este patamar, os caras decidiram por um transplante radical: instalar no GT86 o motor VR38DETT do Nissan GT-R.
Só que o motor do WTF 86 não é totalmente stock: ele recebeu um kit stroker de 4,1 litros HKS GT1000, completo com um kit de turbocompressores simétricos HKS GT1000. O kit inclui pistões forjados (80g mais leves que os originais), bielas forjadas e um novo virabrequim billet, responsável pelo aumento do curso, que vai de 88,4 mm para 95,5 mm. O diâmetro original dos cilindros, de 95,5 mm, é mantido.
Foi possível instalar o V6 biturbo sem maiores dificuldades além da adaptação do cofre – só não era possível fechar o capô, pois o motor do GT-R é muito mais alto que o flat-four do GT86. Para resolver esta questão, adotou-se um novo sistema de lubrificação por cárter seco e o diferencial dianteiro foi eliminado. O WTF 86 só tem tração traseira, com um diferencial Ford de 8,8 polegadas montado em suportes feitos sob medida.
O câmbio também teve de ser trocado, pois o transeixo original do GT-R não suportaria a força do novo motor – ainda mais com o plano de conseguir mais de 1.000 cv nas rodas. Assim, os caras descolaram uma caixa sequencial de seis marchas da Albins (a mesma fabricante das transmissões usadas na V8 Supercar australiana), com uma carcaça fabricada especialmente para o projeto. O novo câmbio tem cerca de metade do comprimento do câmbio manual de seis marchas original do GT 86. As trocas são feitas por um sistema pneumático, com aletas atrás do volante, e o pedal de embreagem ainda é utilizado para engatar a marcha ré.
Subaru BRZ com um V8 Synergy
Você sabe o que é um V8 Synergy? Trata-se de um motor V8 feito com dois motores V4 de 1.200 cm³ da Kawasaki Ninja enfileirados, unidos pelo virabrequim. A Synergy, empresa neozelandesa que desenvolveu o motor, usou um virabraquim plano de aço billet e pistões forjados para criar um monstrinho de 367 cv a 10.680 rpm e 27,3 mkgf de torque a 7.970 rpm, com corte de giro a estratosféricos 11.600 rpm.
Para melhorar as coisas, este motor possibilita um swap do tipo plug and play para o BRZ/GT86, com todos os pontos de encaixe compatíveis com o cofre do Toyobaru e um módulo MoTec M150 calibrado para trabalhar automaticamente em conjunto com os sistemas eletrônicos originais do carro, incluindo controle de tração, estabilidade e freios ABS. O motor é minúsculo, tem o centro de gravidade mais baixo e, claro, tem 167 cv a mais do que o original do Toyobaru.
Eles desenvolveram até uma flange, que é incluída no pacote, para acoplar o motor à transmissão manual original do BRZ sem problemas — só é preciso alterar as relações para trabalhar com o alto regime de rotações do motor.
Os primeiros a aproveitar o motor Synergy V8 “Toyobaru Edition” foram os caras da equipe japonesa JUN Motorsport. Eles também deram a seu GT86 s freios maiores, com discos ventilados e slotados na dianteira e na traseira; um kit de suspensão ajustável da Zeal; e pneus Yokohama Advan A050 de medidas 265/35, calçando rodas Advan Racing GT de 18×9,5 pol nos quatro cantos — conjunto ajustado para disputar provas de time attack nos circuitos de Fuji e Tsukuba, no Japão.
Scion FR-S com motor 2JZ
Talvez você não lembre mas, de 2012 até 2016 os americanos não podiam comprar o Toyota 86 oficialmente. Em seu lugar era vendido o Scion FR-S, aproveitando a imagem de marca “jovem e descolada” que a divisão da Toyota tinha por lá. E foi um Scion FR-S que a galera da oficina americana Pure Automotive Performance usou em seu projeto de engine swap… colocando um seis-em-linha do Toyota Supra nele.
Se o Toyobaru foi pensado para o aftermaket, o aftermarket respondeu bem: o swap foi possibilitado por um kit de suportes desenvolvido por uma empresa chamada Xcessive Manufacturing especialmente para adaptar o 2JZ do Toyota Supra no carro, tornando tudo bem menos complicado.
É claro que o motor também foi preparado. Em vez de dois turbos, ele agora só tem um Borg Warner S400SX de 67 mm. Todos os componentes internos foram reforçados para que o seis-em-linha seja capaz de entregar quase 2.000 cv!
E existem outros GT86 com o motor 2JZ por aí: Ryan Tuerck tem um…
E este outro aqui tem um kit widebody da Rocket Bunny e cerca de 1.000 cv em seu 2JZ preparado:
O onipresente V8 Chevrolet LS
Não há “um” Toyobaru com o motor V8 LS, tem vários deles por aí. O motor small block da Chevrolet é a primeira opção de uma legião de entusiastas quando o assunto é engine swap em qualquer carro. Isto é especialmente verdadeiro nos Estados Unidos, onde o V8 LS é um motor bastante acessível, dotado de um vasto catálogo de peças de preparação e com mão de obra especializada abundante – mais ou menos como o Volkswagen AP aqui no Brasil.
Apesar de ter o dobro de cilindros, o motor LS não é muito maior que o flat-four original do BRZ/86, com seus 73 cm de comprimento, 68 cm de largura e 72 cm de altura, e também existem kits para facilitar o trabalho dos graxeiros de plantão.
O que todo mundo quer: um “BRZ STI original de fábrica”
Não foi desta vez que a Subaru nos deu o BRZ com motor turbo que a gente queria, mas isto não significa que eles nunca fizeram um carro assim. O Subaru BRZ STI Performance Concept, foi revelado no Salão de Nova York em abril de 2015, com tudo a que tinha direito: body kit mais agressivo, detalhes vermelhos na carroceria e no interior, e o motor 2.0 turbo usado no BRZ GT300, carro de turismo que compete pela equipe de fábrica da Subaru no Japão.
É um motor impressionante, com 350 cv declarados, porém cerca de 450 cv na prática. O conceito ainda recebeu uma boa quantidade de modificações: suspensão mais firme, rodas de 18 polegadas, freios Brembo, reforços no monobloco e uma strut bar flexível no cofre do motor. Já o interior recebeu um novo volante de Alcantara, bancos Recaro e novos mostradores no painel.
A má notícia? Já faz mais de dois anos que este carro apareceu pela primeira vez e, desde então, nunca mais a Subaru apresentou planos concretos de dar um motor turbinado ao BRZ. E assim a espera continua.