Motor turbo, tração integral e um visual apaixonante. É esta a receita dos melhores hot hatches, e o Lancia Delta HF Integrale, lançado em 1987, certamente está entre eles — para muita gente, no topo da lista. Suspeitamos até que, se ele fosse o último da série sobre os melhores hot hatches do universo, boa parte dos leitores não até nos perdoaria. Último ou não, hoje é o dia dele.
O Delta nasceu em 1979 e, diferentemente do que muitos pensam, não é um derivado do Fiat Tipo — este só viria a estrear a plataforma Tipo Due em 1988, quase dez anos depois. O Fiat que compartilha plataforma com o Delta é o Ritmo, e o parentesco do Tipo é com o Delta de segunda geração.
De qualquer forma, nomes à parte, o Delta era um hatchback padrão na época: motor transversal, tração dianteira, quatro portas e um interior que aproveitava o espaço da melhor forma possível. Suas formas quadradas, marca registrada do designer Giorgetto Giugiaro, eram elegantes e funcionais, e o carro foi um grande sucesso comercial logo em seus primeiros anos, sendo vendido até mesmo pela Saab (então em parceria com o grupo Fiat) como Saab-Lancia 600.
A primeira versão apimentada do Delta surgiu relativamente tarde — o Delta HF Turbo foi lançado em 1983 e vinha com um motor turbinado — o onipresente quatro-cilindros projetado por Aurelio Lampredi que, aqui, deslocava 1,6 litro e entregava 142 cv a 5.500 rpm e 19,5 mkgf de torque a 3.500 rpm, moderado por um câmbio manual de cinco marchas. Pesando cerca de 1.000 kg, o Delta HF Turbo era capaz de acelerar até os 100 km/h em 8,5 segundos e chegar aos 203 km/h.
Mas ainda faltava uma coisa — a que tornaria o Delta um vencedor nos ralis, mas também um dos carros mais incríveis nas ruas: a tração integral. Ou melhor, integrale.
Isto seria resolvido três anos depois, com o lançamento do Delta HF 4WD em 1986. O sistema de tração integral usava um diferencial central planetário, um acoplamento viscoso Fergusen para dividir o torque entre os dois eixos, e um diferencial traseiro Torsen. Normalmente, 56% do torque ia para as rodas dianteiras e 44% para as traseiras mas, dependendo das condições, o diferencial podia enviar 70% do torque para um ou outro eixo.
Mas o motor também mudou: agora, deslocava dois litros e entregava 165 cv às mesmas 5.500 rpm, com torque de 29,1 mkgf a baixos 2.750 rpm. Visualmente, ele foi o primeiro a adotar os quatro faróis redondos que se tornaram a marca do Integrale mas, de resto, era bastante semelhante ao Turbo em aparência. As formas robustas que conquistaram admiradores no mundo todo surgiram na atualização seguinte.
Além da introdução do Delta HF 4WD, o ano de 1986 marcou o fim do Grupo B de rali. No ano seguinte, todas as fabricantes se voltariam para o Grupo A, que tinha carros menos extremos, mas ainda assim bastante potentes, e a Lancia apresentou seu especial de homologação em 1987: o Delta HF Integrale.
Para o Integrale, a Lancia apostou em um visual mais agressivo, com para-lamas alargados e rodas maiores. Mas a maior mudança estava no motor, que recebeu um intercooler, árvores de balanceamento no cabeçote de 8 válvulas e um novo sistema de injeção eletrônica. Com isso, a potência subiu para 185 cv a 5.300 rpm e o torque, para 31 mkgf a 3.500 rpm. Foi o suficiente para um desempenho sem precedentes — 0-100 km/h em 6,6 segundos e velocidade máxima de 215 km/h.
Em especificação de corrida, os números eram ainda mais impressionantes: a potência era de 295 cv e o torque, de 41 mkgf. Com este carro, a Lancia conseguiu o título de construtores do WRC naquele ano.
Dois anos depois, o Lancia Delta HF Integrale chegava a sua reta final, mas o fazia em grande estilo: a adoção de um cabeçote de 16 válvulas elevou a potência para exatos 200 cv a 5.500 rpm, enquanto o torque subiu para 30,4 mkgf a 3.000 rpm — suficiente para ir de 0 a 100 km/h em 6,1 segundos. As frenagens também melhoraram graças ao sistema ABS. O carro de corrida, claro, era ainda mais potente, com 365 cv — e chegava aos 100 km/h em 5,7 segundos. Com ele, a Lancia deu sequência a sua dominância no WRC, que vinha desde 1987, vencendo as seis primeiras provas da temporada.
O último dos especiais de homologação foi o Lancia Delta Integrale Evoluzione. De fato uma evolução, o carro ganhou pequenas mudanças no motor para garantir um aumento de 10 cv na potência. O visual ficou mais imponente graças à adoção de bitolas maiores na dianteira e na traseira, bem como uma dianteira mais agressiva. Suspensões dianteira e traseira também foram modificadas, bem como os freios e o sistema de direção, que foram revisados. O 0-100 era feito nos seis segundos cravados.
Mas esta ainda não havia sido a morte do Lancia Delta Integrale — em 1993, o Evoluzione II foi apresentado, com modificações importantes no motor para atingir 215 cv 32 mkgf de torque. Entre elas, injeção multiponto sequencial, um remapeamento completo no sistema de ignição e um novo turbocompressor com controle eletrônico de pressão e arrefecimento líquido. Além disso, o carro adotou rodas de 16 polegadas, bancos Recaro forrados em Alcantara bege e um volante de couro Momo.
A segunda geração do Delta — esta, sim, baseada no Fiat Tipo, não teve a mesma tradição nos ralis. Na verdade, não teve nenhuma grande participação no WRC, que passou a ser dominado pelos japoneses da Subaru, da Toyota e da Mitsubishi. Hoje em dia, o Delta — que compartilha sua plataforma com o Bravo — é um carro bem mais careta e, embora não seja ruim, definitivamente não carrega o mesmo carisma de seus ancestrais. Uma pena.
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