Nürburgring Nordschleife. Esqueça o zero a 100 km/h, velocidade máxima, pico de aderência lateral, até mesmo a exclusividade: se há uma obsessão no mundo dos esportivos e superesportivos, esta é figurar no topo, ou em torno do topo, dos recordes dos carros de rua produzidos em série.
Ostentar a insígnia de recordista no inferno verde dá a chancela de que este carro provavelmente será mais veloz que seus rivais em praticamente qualquer circuito do mundo, visto a enorme amplitude de relevo, tipos de curvas e mesmo de superfície que o Nordschleife oferece – pouco antes de sua última reforma, os ringmeisters costumavam contabilizar nada menos que 11 tipos diferentes de textura de asfalto. Na prática, se tornou uma ferramenta de marketing poderosa, bem como algo para os proprietários se gabarem em encontros e eventos. Por isso, nunca se quebrou tantos recordes de Nürburgring como se faz hoje em dia.
Diríamos mais: esta obsessão de fato está forçando o desenvolvimento de conjunto dos superesportivos a um novo paradigma. O recorde absolutamente insólito do Porsche 911 GT2 RS que aconteceu no último mês é a maior prova disso: os superesportivos, com pneus de rua, estão invadindo tempos de categorias de GT muito velozes. É inacreditável.
Foram tantos recordes batidos que é fácil ficar confuso. Como está o ranking hoje em dia? Quais carros podemos considerar? Quais valem um biscoitinho de desconfiança? As respostas para estas perguntas têm mudado quase semanalmente nos últimos tempos. Então, decidimos passar tudo a limpo para situar todo mundo em relação ao que anda rolando em Nürburgring Nordschleife — começando pelos dez carros de rua que fizeram os melhores tempos.
Antes, porém, há mais uma pergunta para responder. Dentro do espectro dos recordes de Nürburgring, o que é um carro produzido em série?
É importante fazer esta separação até mesmo para não dar margem para muita polêmica. Os recordes de Nürburgring não são analisados e validados por uma única entidade, como a Guinness World Records ou a FIA (que seria mais propício), por exemplo. Há, contudo, algumas regras informais adotadas por quem se candidata à coroa de King of the ‘Ring, que é consensual entre as fabricantes, preparadoras e engenheiros, e talvez mais importante, pelos entusiastas.
Assim, para efeito de recorde em Nürburgring um carro produzido em série tem ao menos 20 unidades fabricadas e legalizadas para as ruas. Para percorrer o Nordschleife, os carros costumam não ter nenhuma modificação em relação ao que é oferecido ao público – deve estar com os mesmos pneus com os quais é vendido (podem ser os opcionais, por exemplo), não usa recursos de alívio de peso e os ajustes são limitados ao que qualquer um pode fazer com seu próprio exemplar. A carroceria precisa ser 100% original de fábrica, não sendo admitidos painéis de fibra de carbono ou novos apêndices aerodinâmicos, por exemplo.
Em alguns casos, contudo, vimos carros com rollcage não-opcional instalado a fim de oferecer maior segurança ao piloto. Ocasionalmente, por conta disso a fábrica retira alguns itens do interior para compensar o ganho de peso. É uma situação meio va bene, pois ainda que não seja 100% original, com pneus de rua de fato este ganho de rigidez à torção é praticamente inexistente e nos parece mais um caso de disclaimer jurídico. Mas o certo seria não ter nada disso.
O McLaren P1 LM Lanzante “original de fábrica”, sobre o qual vamos falar daqui a pouco
Isto posto, há certas coisas impossíveis de serem fiscalizadas o tempo todo, como painéis de fibra de carbono, ECUs modificadas (fora dos parâmetros que o carro permite para o consumidor comum), combustível de competição e reforços estruturais ocultos. As fabricantes não costumam fraudar tempos por uma razão simples: todos os olhos sempre estão voltados para Nürburgring, onde fotógrafos e cinegrafistas amadores fazem plantão. Um flagra de algo suspeito pode manchar a reputação de uma marca de forma severa.
Observação importante: todos os recordes são medidos no circuito de 20.600 metros. Importante frisar que, como já explicamos aqui, não se trata de uma volta completa: entre a largada, que fica no quilômetro zero de Nürburgring Nordschleife, e a chegada, há uma distância de 190 metros. É neste espaço que ficam os mini-boxes usados pelas equipes de engenharia das fabricantes, permitindo que que o piloto entre pela “contramão” do pit em vez de fazer uma volta completa de retorno. A visão aérea abaixo vai te ajudar a compreender melhor.
Com isto em mente, vamos ao ranking dos 10 mais velozes carros produzidos em série a percorrer Nürburgring. Depois, vamos fazer algumas considerações importantes.
1. Porsche 911 GT2 RS – 6:47,25 (setembro/2017)
O rei absoluto do Inferno Verde, recém-coroado, é uma versão extrema do 911 Turbo. Seu flat-six biturbo de 3,8 litros entrega 700 cv, é moderado pela velocíssima caixa de dupla embreagem e sete marchas da Porsche e ajudou o nine-eleven destruiu o recorde anterior: quase cinco segundos a menos que o tempo do Lamborghini Huracán Performante. Truques como o eixo traseiro auto-esterçante e os amortecedores magnéticos também fazem dele o carro de tração traseira mais veloz em Nürburgring. Ainda está fresco na nossa memória o quanto este carro é rápido, especialmente nas entradas de curva. A Porsche quebrou um paradigma com o GT2 RS 991: de 2018 em diante, a brincadeira começa aqui, com tempos compatíveis com o meio do grid de um carro da categoria GT3.
Pneu usado: Michelin Pilot Sport Cup 2
2. Lamborghini Huracán Performante – 6:52,01 (outubro/2016)
O superesportivo ítalo-germânico causou frisson ao superar o recorde do Porsche 918 Spyder por cinco segundos. Com um V10 naturalmente aspirado de 640 cv, transmissão de dupla embreagem, tração nas quatro rodas e 1.382 kg, o touro selvagem deixou bem para trás um hipercarro híbrido de quase 900 cv. Acontece que o vídeo onboard acima levantou muitas suspeitas de muitos insiders de Nürburgring, como Dale Lomas e Misha Charoudin, que colocaram em cheque a legitimidade do registro e afirmaram que a Lamborghini acelerou a taxa de quadros por segundo do vídeo. Além disso, há evidências de que o carro tinha o interior aliviado e de que os pneus não eram de rua do tipo R-compound, mas sim slicks riscados. No FlatOut, não consideramos este tempo como válido. Fique livre para considerá-lo.
Pneu usado: Pirelli P-Zero Corsa customizado
3. Porsche 918 Spyder – 6:57 (setembro/2013)
Não dá para não ficar impressionado ao saber que um carro de 1.634 kg com tração nas quatro rodas e três motores elétricos percorreu o Nürburgring Nordschleife em menos de sete minutos, mesmo que ele tenha 887 cv. Vale lembrar sempre que o Porsche 918 Spyder foi representante, ao lado do McLaren P1 e da LaFerrari, pioneiro da atual onda dos “hiperesportivos” – os híbridos que elevaram o patamar para a casa dos 1.000 cv nas casas tradicionais, mais até mesmo do que o Bugatti Veyron. Dito isto, considerando que a própria Porsche baixou tempo do 918 Spyder em dez segundos com o 911 GT2 RS 991, um carro de quase 200 cv a menos diz muita coisa sobre o que realmente faz a diferença na hora de baixar os tempos em um cicuito de mais de 20 km: baixo peso e dinâmica refinada.
Pneu usado: Michelin Pilot Sport Cup “1”
4. Lamborghini Aventador LP 750-4 Superveloce – 6:59,73 (maio/2015)
O Lamborghini Aventador LP 750-4 Superveloce foi o segundo carro a quebrar a barreira dos 7 minutos e surpreendeu por fazer isso sem metade da tecnologia do 918 Spyder. Ele não tem um motor elétrico para o eixo dianteiro, nem vetorização de torque, nem aerodinâmica ativa. Sua receita é um V12 naturalmente aspirado de 6,5 litros e 750 cv, amortecedores magnéticos, transmissão semi-automática de sete marchas recalibrada e reforços estruturais. Ao contrário do Porsche 918, que tinha a obrigação de quebrar a barreira dos 7 minutos, o tempo do Aventador SV parecia improvável na época. E por isso ele ainda é impressionante.
Pneu usado: Pirelli P-Zero Corsa customizado
5. Dodge Viper ACR GTS-R – 7:01,3 (setembro/2017)
Mais impressionante ainda foi o feito recente do Dodge Viper ACR GTS-R. O carro foi levado até Nürburgring por um equipe independente, sem compromisso algum com a FCA, simplesmente para provar que a nova geração do antigo rei de Nürburgring ainda tinha muita lenha pra queimar. Com pouca grana, pouco tempo e recursos limitados, ele conseguiu virar 7:01,3 com um V10 naturalmente aspirado de 654 cv, câmbio manual de seis marchas e tração traseira – ainda que a versão ACR tenha foco nas pistas, com aerodinâmica bastante agressiva. Olha esse spoiler frontal! Ao menos ele pode ser removido para uso nas ruas.
A equipe visava um tempo abaixo dos sete minutos, talvez até mais rápido que o do Lamborghini Huracán Performante, porém na última tentativa problemas nos pneus dos dois carros acabaram limitando o seu tempo a 7:01,3. O que foi histórico, de qualquer forma. Ao fazer tudo isto contando apenas com o dinheiro de uma campanha de crowdfunding, sem apoio da FCA (o que teria tornado as coisas bem mais fáceis), o Viper mostrou que os carros à moda antiga ainda têm muito o que entregar, mesmo remando contra a maré. Amém.
Pneu utilizado: Kumho Ecsta V720
6. Nissan GT-R Nismo – 7:08,679 (setembro/2013)
Tudo bem que o recorde do Viper ACR só foi registrado há algumas semanas, mas isto não muda o fato de ele ser sete segundos inteiros mais rápido que o Nissan GT-R Nismo, esportivo japonês que é praticamente seu oposto filosoficamente falando e tecnicamente muito mais avançado, com tração integral com distribuição eletrônica de torque, motor V6 biturbo de 3,8 litros e 600 cv e transmissão de dupla embreagem. O recorde do Nissan foi estabelecido em 2013 com um exemplar equipado com o N Attack Package, que consiste em um jogo de pneus Dunlop Sport Maxx GT 600 DSST, amortecedores e molas exclusivos e um conjunto aerodinâmico maior e mais agressivo com splitter frontal, dive planes e uma asa traseira maior que a original. É importante lembrar que foi o Nissan GT-R o responsável pelo uso agressivo do recorde em Nürburgring como chancela de performance absoluta, ao cravar em abril de 2008 o tempo de 7:29, na época três segundos mais veloz que o 911 GT2 e usar isso ostensivamente na comunicação e marketing da marca. Até então, tempos em Nürburgring não despertavam o interesse mundial desta forma.
Pneu utilizado: Dunlop Sport Maxx GT 600 DSST
7. Mercedes-AMG GT R – 7:10,92 (dezembro/2016)
Por mais que não seja um recorde, a Mercedes-Benz teve orgulho do desempenho do AMG GT R em Nürburgring: quando a versão com motor de 585 cv de seu superesportivo foi lançada, ganhou até uma cor especial chamada “Green Hell Magno” em homenagem ao circuito alemão. A expectativa foi confirmada em dezembro de 2016, quando a revista alemã Sport Auto (que conduz a maioria dos testes independentes no Nordschleife) conseguiu marcar 7:10,92 com um exemplar original de fábrica. O tempo o tornou temporariamente o carro de tração traseira mais rápido em Nürburgring. Note também que ele é o segundo menos potente do Top 10.
Pneu utilizado: Michelin Pilot Sport Cup 2
8. Porsche 911 GT3 – 7:12,7 (maio/2017)
Eis um recorde que até passou despercebido: em maio deste ano, a versão GT3 do Porsche 991 percorreu os 20.600 metros de Nürburgring em 7:12,7. De acordo com a Porsche, o carro tinha um banco concha e cinto de competição para o motorista, freios de carbono-cerâmica, transmissão PDK e não tinha sistema de som – e, claro, o flat-six naturalmente aspirado de quatro litros e 500 cv a 8.250 rpm (!). A fabricante frisa que quem quiser comprar um 911 GT3 exatamente assim, pode. Se há um carro capaz de tirar cada gota do suco de 500 cv e entregar uma dinâmica absolutamente limítrofe e visceral, é este aqui.
Pneu utilizado: Michelin Pilot Sport Cup 2
9. Dodge Viper ACR – 7:12,13 (setembro/2011)
Este recorde, atualmente um dos últimos da lista, já esteve no topo por muito tempo. Em 2009, o Dodge Viper ACR já era o rei de Nürburgring, com o tempo de 7:22,1, mas dois anos depois, ele ainda foi além e baixou a marca para 7:12,13. Nenhum superesportivo europeu tinha chances de sequer chegar perto desta marca na época, o que causou enorme incômodo nas casas mais tradicionais. Pior: logo atrás dele havia outro ianque, o Corvette ZR1, com 7:22,4. Nesta época, os americanos deixaram uma mensagem muito clara: os dias de barcas incapazes dinamicamente se foram. O ACR de geração anterior já tinha componentes de fibra de carbono na carroceria, aerodinâmica totalmente retrabalhada, suspensão regulável e um V10 de 8,3 litros preparado para entregar mais de 600 cv. E, ao estabelecer este recorde, a víbora superou o Lexus LFA, com seu V10 de 571 cv e 9.500 rpm e transmissão sequencial de seis marchas, em dois segundos inteiros.
Pneu utilizado: Michelin Pilot Sport Cup
10. Chevrolet Corvette Z06 – 7:13,9 (abril/2017)
Um mês antes do 911 GT3, o Corvette Z06 com motor V8 supercharged de 6,2 litros e 658 cv, mais uma caixa manual Tremec de seis marchas (igual à do Dodge Viper, diga-se), havia cumprido uma volta em Nürburgring em 7:13,9 segundos – um pacote relativamente old school, com tração traseira e três pedais. Considerando que ele não goza de recursos como o eixo traseiro auto-esterçante, porém traz itens aerodinâmicos como um splitter frontal mais pronunciado e uma asa traseira mais alta. Além, é claro, de 158 cv a mais que o Porsche.
Pneu utilizado: Michelin Pilot Sport Cup 2
E o que significa isto tudo?
O recorde mais antigo desta lista é o do Dodge Viper ACR, estabelecido em 2011: 7:12,13. São nada menos que 25 segundos de distância entre o recorde do Viper e o atual recorde do Porsche 911 GT2. Isto só mostra que, por mais que de seis anos para cá os naturalmente aspirados tenham quase desaparecido, o câmbio manual tenha se tornado item de nicho e os híbridos e elétricos estejam dando a letra de que não vão embora nunca mais, os supercarros de rua evoluíram tremendamente, ainda que toda a sociedade conspire contra eles. E se você acha que o Porsche 911 GT2 RS ainda é tecnológico demais, é só lembrar que do Dodge Viper ACR GTS-R que estava em Nürburgring há algumas semanas superou seu antepassado por 11 segundos.
Analisando mais a fundo o ranking, podemos fazer algumas outras observações interessantes.
Os únicos carros que superam o Porsche 911 GT2 RS atualmente não podem ser considerados carros produzidos em série – e mal chamados de carros de rua –, por diversos motivos. No caso mais recente, há os 6:43,22 do McLaren P1 LM Lanzante, em maio de 2017. O carro começou sua vida como um P1 GTR, que é a versão de pista do McLaren P1 e equipado com um V8 biturbo mais motores elétricos para entregar 1.000 cv, mas a Lanzante o converteu de volta para uso nas ruas. É algo muito específico.
É preciso deixar claro: o P1 LM é apoiado pela McLaren, mas não é oficial. E só fizeram apenas cinco exemplares dele, o que automaticamente já o elimina da disputa dos produzidos em série, mesmo que ele tenha uma placa e possa rodar nas ruas normalmente.
E tem outra questão, também. Olha esse carro:
Ele é tão “street legal” quanto os especiais de track day da Radical, por exemplo. Não dá para usar normalmente nas ruas um carro com um splitter frontal tão grande e uma asa traseira tão projetada para trás. Aliás, é por isso que a gente e muitos veículos e entusiastas também não consideram os track day specials da britânica Radical nesta lista: eles só podem rodar por aí caso sejam modificados e passem por uma inspeção, sendo liberada uma licença especial depois de uma análise caso a caso. A exceção acaba ficando dentro da própria Inglaterra, que tem uma regulamentação bastante confortável para protótipos deste tipo.
Pouco antes, em abril, o espetacular conceito elétrico NIO EP9, com quatro motores elétricos gerando 1.360 cv (1 megawatt) despejados nas quatro rodas, marcou 6:45,9. Ele usava pneus slick (este, o principal ponto para não considerarmos seu tempo no ranking de rua), tinha a suspensão recalibrada especialmente para trabalhar com estes pneus e… bem, estamos falando de um carro que supostamente teve outros seis ou sete exemplares fabricados, já não podendo ser considerado um carro produzido em série por conta disto. E, veja bem: o Porsche 911 GT2 RS está só dois segundos atrás do NIO.
Sem os pneus slick, o NIO EP9 não faria um tempo tão bom. O que nos leva a nosso próximo ponto: os pneus contam demais. James Glickenhaus, um dos caras que mais entendem de Nürburgring, acredita que eles são o principal fator de performance, e que um bom jogo de slicks traz uma diferença de 20 a 30 segundos no Nordschleife. Os pneus de rua melhoraram muito nos últimos anos, e os R-compound usados nos recordes de Nürburgring são melhores do que os slicks de antigamente. Contudo, não há comparação com os slicks atuais, claro.
Se olharmos mais para trás ainda, veremos que o 911 GT2 RS da geração 997 levou 7:32 para percorrer Nürburgring com Walter Röhrl ao volante. Ou seja: 45 segundos a menos. E ainda estamos falando de um carro absurdamente potente, com 620 cv. Sozinhos, os 80 cv a mais do 911 GT2 RS 991 conseguiriam uma vantagem de quase um minuto? Provavelmente não. Mas coloque os pneus do GT2 RS 991 no modelo antigo e ajuste sua carga de suspensão e geometria de forma condizente: nosso palpite é que esta diferença cairia pra lá da metade.
E agora? Bem, James Glickenhaus diz que, com os pneus que se tem hoje, não vai demorar muito para vermos carros fechando o Nürburgring na casa dos 6:30. Estamos bem perto disto, medindo pela velocidade com que os tempos estão baixando. Mais do que isso, carros esportivos mais “mundo real”, como hatches, SUVs, sedãs e afins, estão chegando nos tempos dos superesportivos de pouquíssimo tempo atrás. E nós vamos falar deles em breve.