Você deve lembrar de como todo mundo ficou boquiaberto quando o piloto Ryan Tuerck decidiu colocar um V8 Ferrari em seu Toyota 86, criando um dos carros de drift mais insanos do planeta. Pois que tal então colocar uma Ferrari inteira para andar de lado na pista? E se esta Ferrari for uma 599 com motor V12 e não um, mas dois superchargers? Foi exatamente isto que o piloto italiano da Fórmula Drift Federico Sceriffo fez. E o resultado é mesmo de deixar embasbacado.
Sceriffo já participou do D1 Grand Prix no Japão, já foi membro da equipe de drift da Red Bull na China e, mais recentemente, pilotava um Toyota 86 e um Nissan Silvia em provas no Japão e na Europa. Agora ele decidiu fazer um upgrade em sua máquina.
A Ferrari 599 foi o grand tourer da Ferrari antes da F12berlinetta, que foi lançada em 2012 e substituída pela 812 Superfast em 2017. Ela foi uma das últimas Ferrari a oferecer a opção pelo câmbio manual com grelha e foi feita para equilibrar desempenho na pista com conforto, espaço e… desempenho para longas viagens. Ela definitivamente não foi pensada para derrapagens controladas em circuitos apertados, mas é exatamente disto que se trata a Fórmula Drift. O bacana do drift é que, além da competição em si, os carros que competem têm a chance de ser atrações a parte, dependendo do visual e da inventividade do projeto. E fica difícil passar incólume com um grand tourer italiano de 12 cilindros totalmente modificado.
O caso é que a primeira vez em que uma Ferrari 599 preparada para drift apareceu foi em agosto de 2016, quando algumas fotos de um exemplar com rodas verdes, alargadores de para-lamas recém-instalados e aparentemente um subchassi dianteiro feito sob medida. As imagens foram associadas a outro piloto de drift, o japonês Daigo Saito – o cara que, meses antes, havia revelado ao mundo seu Lamborghini Murciélago preparado para a divisão D1 da Fórmula Drift japonesa. Depois disto, rolaram algumas imagens de uma Ferrari 599 com um body kit muito parecido.
Há quem especule que a Ferrari 599 amarela de Federico Sceriffo é exatamente este carro. De fato, as linhas do body kit, com para-lamas alargados e recortados, presos com rebites, e a tampa traseira com fendas para os suportes da asa batem com as outas fotos. De qualquer forma, isto é apenas um detalhe. O que importa é que a máquina de Maranello foi mesmo preparada para drift, e será usada por Sceriffo ao longo de toda a temporada de 2018.
Sua primeira aparição pública aconteceu durante o Salão do Automóvel de Bologna em setembro de 2017, na Itália, e teve direito à primeira exibição de suas capacidades na pista. Se você curte o som de um V12 italiano naturalmente aspirado, bem… vai ter uma surpresinha.
Ela não é naturalmente aspirada, usando não apenas um, mas dois superchargers centrífugos Rotrex. Para quem não está muito familiarizado, trata-se de uma espécie de híbrido entre um supercharger convencional e um turbo, usando um compressor centrífugo acionado por uma polia. Como explicamos neste post, o Rotrex fica no meio termpo entre um blower, por conta de sua atuação mais linear, e um turbo, por sua eficiência de compressão. Ou seja: eles rendem melhor em baixas rotações do que um turbo, e entregam sua força de forma mais progressiva.
Com dois superchargers Rotrex, o motor V12 de seis litros passou de 620 cv e 62 mkgf para 930 cv e 118,3 mkgf – 310 cv a mais na potência, quase o dobro do torque. O motor foi acoplado a uma nova caixa sequencial de seis marchas, com alavanca de engate rápido e embreagem de carbono-cerâmica. Zero a 100 km/h e velocidade máxima não foram revelados, naturalmente, porque no drift isto não importa.
Importa muito mais a dirigibilidade. Para aumentar o ângulo de esterçamento das rodas dianteiras foram feitas novas mangas de eixo sob medida e a suspensão teve a geometria completamente retrabalhada, com molas e amortecedores ajustáveis e um ângulo de cambagem mais negativo na dianteira. A direção também ganhou uma relação mais direta, naturalmente.
Aliás, como a dianteira foi totalmente retrabalhada, com um subchassi feito sob medida e os dois compressores, foi preciso realocar o sistema de arrefecimento para a traseira: ao remover a tampa do porta-malas, vê-se que ele agora é um “porta-radiador”, com duas ventoinhas elétricas à mostra.
Já o interior tem uma gaiola de proteção completa, novos bancos do tipo concha e perdeu boa parte dos acabamentos, mas ainda conserva alguns elementos de design da Ferrari 599, como a o revestimento superior do painel e as saídas de ar. No mais, é tipicamente racecar.
Talvez os fãs mais ferrenhos da Ferrari queiram mandar Federico se ferrar, e a própria Ferrari parece não curtir muito modificações extremas em seus carros. Mas eu, pessoalmente, curto quando uma Ferrari é desconstruída e transformada em algo que não foi pensada para ser. Para mim, só deixa claro o quanto elas são competentes e versáteis enquanto peças de engenharia. Além disso, é legal demais ver uma 599 dando derrapagens controladas.