Lançado há exatos 50 anos, o Nissan Fairlady S30, também conhecido como Datsun 240Z, não envelheceu um dia sequer em termos de diversão ao volante – em uma das primeiras avaliações do FlatOut, constatamos que poucos esportivos são tão divertidos de dirigir quanto o cupê com motor seis-em-linha, tração traseira e proporções clássicas de grand tourer.
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Não que tenha sido uma surpresa – afinal, não deve ser à toa que o S30 ainda é extremamente popular entre os entusiastas que embarcam em projetos radicais, para a rua ou para as pistas. O Fugu-Z, de Sung Kang – o Han de “Velozes e Furiosos” – é só um dos vários exemplos que já vimos nos últimos anos. E ele também inspirou um dos carros mais bacanas da ficção, o Devil Z de Wangan Midnight.
Um dos projetos mais incríveis com o, foi feito em 2014: um Nissan S30 shooting brake – uma versão perua de duas portas do icônico esportivo. Melhor ainda: o carro foi feito com a ajuda do designer do 240Z em pessoa, o senhor Yoshihiko Matsuo.
Quando estava definindo as linhas do Nissan S30, o Sr. Matsuo não imaginava apenas o cupê que chegou às ruas: ele também desenhou um conversível, com teto targa, e uma station wagon de duas portas. Na época do lançamento, chegou a ser divulgada em algumas revistas uma foto de Matsuo trabalhando em sua mesa e, na parede ao fundo, um rascunho da perua.
Esta imagem mexeu com a imaginação de Jay Ataka, um dos nomes mais conhecidos entre os fãs dos Z-cars da Nissan. Sua oficina, a JDM Car Parts, que fica na Califórnia, é especializada nos clássicos da fabricante, fornecendo serviços de manutenção e restauração, e também fabricando componentes mecânicos e estéticos novos – algumas peças originais são extremamente difíceis de encontrar.
Sempre que acontece algum encontro de carros japoneses na Califórnia, a JDM Car Parts está lá, com alguns project cars, peças e outras atrações em seu estande. Eles são referência no meio.
Tal reputação rendeu a Ataka certa proximidade com Matsuo, que presta consultoria à JDM Car Parts de tempos em tempos. Os dois se tornaram amigos. E foi durante um passeio de carro, em meados 2012, que Ataka perguntou ao Sr. Matsuo o que havia acontecido com a perua do Nissan S30 que ele havia projetado.
O que aconteceu foi que a perua nunca saiu do papel – a Nissan preferiu concentrar-se em apenas um tipo de carroceria, reforçando a imagem de esportivo do S30. Assim, o conceito jamais saiu do papel, e sequer ganhou um protótipo. Naquele momento, Ataka teve um estalo, e fez uma proposta a Matsuo: com sua ajuda, ele transformaria aquele conceito em realidade.
O que se seguiu foi um trabalho de cerca de dois anos que envolveu a compra de três exemplares do Nissan S30, que seriam transformados em um único carro, inúmeras viagens ao Japão e longas sessões de tentativa e erro.
As formas do carro foram definidas com a ajuda do próprio Matsuo, que fez diversos esboços para ajudar Ataka na empreitada – incluindo um desenho em tamanho real, em uma enorme folha de papel, que foi colocado sobre a carroceria de um 240Z para servir como referência. Era um excelente ponto de partida: seguir as instruções do designer do S30 em pessoa.
Transformar linhas desenhadas a tinta e grafite em um teto longo de verdade, porém, foi um desafio bem maior: era preciso integrar as linhas do novo teto às formas já existentes da carroceria, de modo a transmitir da melhor forma possível a ideia original de Matsuo. Para tal, Ataka construiu alguns mock-ups de papelão e, posteriormente, usando uma chapa de metal – ao todo, ele tentou mais de 20 silhuetas diferentes antes de chegar ao formato definitivo que o projeto teria.
A traseira foi feita adaptando a tampa do porta-malas de um 280Z 2+2, cupê de quatro lugares com teto mais vertical. Os vidros, tanto os laterais quanto o vigia, foram feitos sob medida, em metal – em um projeto como este, concebido em pareceria com o próprio criador do 240Z, seria um sacrilégio utilizar fibra de vidro.
O carro foi pintado em um tom de azul metálico customizado, criado para ser o mais fiel possível ao esboço original de Matsuo. Detalhes como faróis, lanternas, frisos e emblemas externos são uma mistura de peças new-old stock (NOS) e itens fabricados sob medida, como os respiros atrás das rodas dianteiras, que possuem o nome Sport Wagon gravado em letra cursiva, e o emblema com a assinatura de Matsuo mais acima, perto da linha de cintura.
Da mesma forma, os componentes internos que puderam ser substituídos por peças originais, assim foram. Os que não puderam, foram fabricados do zero pela própria JDM Car Parts. No fim das contas, o carro serve não apenas como uma senhora homenagem a Yoshihiko Matsuo, mas também como vitrine para os serviços de restauração da oficina de Ataka.
Aliás, é por isso que, em algumas fotos, o carro está sobre um espelho no chão: por ele, é possível ver o assoalho impecável do Phantom Z Sport Wagon.
O mesmo vale, aliás, para o conjunto mecânico. Ataka optou por manter o motor L20A nas especificações originais – mas, claro, tudo nele é novo. O câmbio manual de cinco marchas foi substituído por uma caixa automática de quatro marchas, que era opcional para o S30 e, na visão de Ataka, mais adequado a uma perua.
O carro recebeu este nome, Phantom Z, porque, segundo Ataka, ele era apenas um “fantasma” – uma ideia que passou quase cinco décadas adormecida. O que a JDM Car Parts fez foi transformar o fantasma em um objeto físico, real e funcional.
Depois que ficou pronto, em agosto de 2014, o Phantom Z foi exposto na ZCON, encontro anual realizado pelo Z Car Club dos Estados Unidos desde 1987. É o principal evento do ano para os entusiastas norte-americanos dos Z-cars da Nissan, e o Phantom Z teve lugar de destaque, com uma cerimônia de revelação que contou, claro, com a presença de Yoshihiko Matsuo.
De lá para cá, o Phantom Z Sport Wagon foi exibido em outros eventos de antigos. E ele certamente vai estar na ZCON 2019, que está marcada para o próximo mês de julho, entre os dias 16 e 21, na cidade de Branson, Missouri.
Sugestão do leitor Manoel Cintra