A virada dos anos 2000 trouxe um tipo bem específico de carro: os modelos retrô. Sempre lembro primeiro do New Beetle porque fiquei absurdamente empolgado com ele quando tinha meus seis anos de idade e era um fã incondicional do Fusca, mas houve outros: o Mini Hatch, lançado pela BMW em 2000; o Ford Thunderbird, que começou a ser vendido em 2002; o Plymouth Prowler, de 1997; e o Ford Mustang em 2004 – fora os carros que eu posso ter esquecido. Embora a febre já tenha passado, ainda temos carros retrô sendo vendidos, como os Fiat 500 e 124 Spyder, o Chevrolet Camaro e o Dodge Challenger. Mas… quem começou esta tendência?
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Uma forte candidata, veja só, é a Nissan. Já no fim da década de 1980 – ou seja, uma década inteira à frente das demais – eles colocaram no mercado três carros inspirados em modelos mais antigos. Falo do Nissan Pao, do Be-1, da S-Cargo e do Figaro.
Estes quatro carros foram lançados em sequência entre 1987 e 1991, todos feitos com base na mesma plataforma – o Nissan March de primeira geração, vendido no Japão como Micra. Seu objetivo era renovar o interesse do público jovem pela marca, que estava passando maus bocados pela concorrência da Honda. Mais precisamente, por causa do Honda City, que não era um sedã compacto como hoje, mas sim um simpático hatchback. E a versão mais esportiva, o City Turbo, vinha até com uma motoneta no porta-malas!
O Nissan March de primeira geração tinha todas as qualidades de um bom compacto – tinha desenho agradável, era leve, econômico e fácil de estacionar, mas simplesmente não tinha charme para encarar o Honda City.
Para resolver esta questão, a Nissan criou contratou um jovem designer chamado Naoki Sakai, que na década de 1960 ganhou uma pequena fortuna vendendo camisetas inspiradas nas tatuagens da Yakuza, a máfia japonesa, em São Francisco. Sakai projetou quatro carros, todos diferentes entre si, porém com um objetivo em comum: atrair o público mais jovem que queria um carro barato e confiável como o March, porém com mais estilo e exclusividade.
O primeiro deles foi o Be-1, apresentado em 1987. Com seus faróis circulares; dianteira sem grade; cores vibrantes na carroceria (como o amarelo “Pumpkin Yellow” e o vermelho “Tomato Red”) e seu tamanho diminuto (3,63 m de comprimento, 1,58 m de largura e 2,3 m de entre-eixos), o Be-1 era vendido através da rede de concessionárias Nissan Cherry Store, e originalmente não trazia a marca Nissan na carroceria.
Mecanicamente, ele era idêntico ao March – ou seja, tinha um motor 1.0 de 52 cv e câmbio manual de cinco marchas (ou automático de três). A suspensão era do tipo MacPherson na dianteira, com um arranjo four-link na traseira.
O Be-1 foi um sucesso – a demanda era tanta que a Nissan teve de fazer um sorteio para escolher os compradores, pois oferta era de um único carro para cada dez interessados. No total, foram feitas cerca de 10.000 unidades do Be-1 em 1987 e 1988.
A Nissan, porém, já estava com novas cartas na manga. Em 1989 foi lançado o Nissan Pao, cuja base mecânica era idêntica à do Be-1. Seu visual, no entanto, era ainda mais retrô.
É possível identificar influências do primeiro Mini na área envidraçada, e também dos antigos Citroën no aço corrugado da carroceria. Para-choques, grade, molduras dos faróis e rack de teto tinham acabamento em cromo acetinado, e as lanternas traseiras eram compostas de três peças circulares separadas em cada lado.
O interior era espartano como o de um utilitário antigo, com a parte interna das portas e o painel de instrumentos feitos em chapa de metal, na cor da carroceria. Quando via este carro em Gran Turismo 4, eu ignorava completamente a época em que ele foi lançado – pensava se tratar de algum projeto da década de 1960.
O Nissan Pao é bem mais comum que o Be-1 – a Nissan aprendeu a lição e produziu 50.000 exemplares entre 1989 e 1991. Todos eles foram vendidos facilmente e, agora que completam 25 anos, estão começando a ser importados com certa frequência para os EUA. No Brasil, quem quiser um destes já pode trazer os modelos do primeiro ano de produção.
De qualquer forma, ainda houve outros dois carros projetados por Sakai. A Nissan S-Cargo é um dos mais inusitados: uma minivan feita sobre a plataforma do March, e inspirada pela versão furgão do Citroën 2CV – a Fourgonette.
O nome S-Cargo é um trocadilho com smart cargo e escargot, por conta do formato do carro, que realmente lembrava o caramujo comestível muito popular na França. Diferentemente dos outros carros, a S-Cargo tinha um motor 1.5 de 85 cv e era vendida apenas com câmbio automático de três marchas. Só 8.000 exemplares foram fabricados.
O mais interessante de todos os quatro carros talvez fosse o Nissan Figaro, de 1991. Ele também usava a plataforma do March, porém era um roadster retrô inspirado nos carros norte-americanos da década de 1950, com carroceria em tons pastéis e capota rígida pintada de branco.
Além disso, o Nissan Figaro era o único a contar com motor sobrealimentado – um 1.0 turbo de 76 cv acoplado a uma caixa automática de três marchas. Sua proposta, afinal, não era a de um esportivo, e sim a de um carro urbano descolado para casais jovens.
Inicialmente foram fabricados 8.000 exemplares, mas depois a Nissan teve de fazer mais 12.000 para, novamente, atender à altíssima demanda. Havia quatro cores disponíveis, uma para cada estação do ano: bege “Topaz Mist” (outono), verde “Emerald Green” (primavera), azul “Pale Aqua” (verão) e cinza “Lapis Grey”(inverno).
O Nissan Figaro tornou-se um importado popular no Reino Unido, onde hoje em dia existem cerca de 3.000 exemplares. Entre seus donos famosos estão Amy Winehouse e Eric Clapton.
Os quatro carros ficaram conhecido como os Pike Factory cars da Nissan – e, por algum tempo, especulou-se onde ficava a tal fábrica de Pike da Nissan. Depois, descobriu-se que o nome da linha era apenas uma jogada de marketing – inventado para dar um caráter mais exclusivo aos modelos.
Não que fosse necessário, visto que todos os carros foram um sucesso absoluto e cumpriram sua missão. De lá para cá, como dissemos no início deste texto, várias outras fabricantes apostaram em carros retrô, com diferentes níveis de êxito.