Se você nos acompanha há algum tempo, sabe que de vez em quando procuramos respostas para algumas curiosidades que todo mundo tem – ou já teve – a respeito dos nossos adorados automóveis. Já explicamos por que os pneus são pretos; por que as barras de proteção se chamam Santo Antônio; a origem dos faróis amarelos dos carros franceses; a razão para os carros norte-americanos usarem setas vermelhas na traseira… e hoje vamos a mais uma explicação. E ela também tem a ver com as luzes do seu carro: afinal, por que as lanternas traseiras são vermelhas?
Dia desses, viajando pela SP-300 à noite – uma rodovia de pista dupla, bem sinalizada e conservada – tive a impressão de que um carro vinha pela contramão. Instantes depois, porém, notei que as lanternas traseiras estavam desbotadas, e por isso a luz emitida por elas era branca, e não vermelha. A resposta óbvia, portanto: para diferenciá-las dos faróis à noite, permitindo que você saiba se o carro da frente está indo ou vindo.
Mas isto não explica uma coisa: por que exatamente a cor vermelha, e não roxo, azul ou verde? Há algumas razões, na verdade.
A cor vermelha é associada ao perigo há muito, muito tempo – desde os primórdios da humanidade. Nossos ancestrais, que viviam na natureza, sabiam que certas frutas vermelhas eram venenosas. O sangue vermelho de alguém ferido por um animal selvagem ou em uma luta contra uma tribo rival. Está praticamente gravado em nosso genoma que precisamos ficar alertas quando nos deparamos com a cor vermelha. Até mesmo certas expressões idiomáticas refletem isto: um empresa em situação financeira crítica está “no vermelho”, por exemplo.
Um sapo venenoso da Costa Rica. A cor vermelha da sua pele (onde fica concentrado todo o veneno) indica que ele é letal, e faz os predadores pensarem mais que duas vezes antes de comê-lo
As lanternas traseiras têm exatamente este propósito: elas não iluminam a traseira do carro para que você possa enxergar o que vem por trás, e sim tornar você visível para o veículo que te segue. Uma luz vermelha à sua frente instintivamente vai te deixar mais atento e preparado para uma possível frenagem de emergência, por exemplo.
Agora, os primeiros automóveis não tinham lanternas traseiras. Quando tinham luzes na dianteira, usavam as mesmas lâmpadas a combustão empregadas nas carruagens, e no fim do século 19 passaram a usar lâmpadas elétricas. Alguns carros tinham apenas um farol, e nenhum deles tinha lanternas traseiras – simplesmente não existiam tantos carros a ponto de justificar sua utilização.
No entanto, outro tipo de veículo bem mais antigo já tinha lanternas traseiras antes dos carros: o trem. As primeiras locomotivas a vapor surgiram no início do século 19, e a primeira ferrovia foi inaugurada oficialmente em 1825, no Reino Unido. E assim surgiu a necessidade de comunicação rápida e intuitiva entre os veículos – luzes nas extremidades dos vagões, indicando onde eles começavam e onde terminavam.
Também havia um sistema de sinalização nas ferrovias, com luzes vermelhas indicando que era preciso parar, e um sistema de luzes brancas e verdes que acendiam e piscavam de forma intermitente para sinalizar diferentes mensagens para os operadores dos trens, como “reduza a velocidade”, “vá com cuidado” ou… pare. Aliás é por esta mesma razão que, nos semáforos, vermelho quer dizer “pare”, amarelo quer dizer “atenção” e verde quer dizer “siga”.
Seguindo a mesma lógica, a regulamentação ferroviária estipulava que uma luz vermelha deveria ser usada para sinalizar o fim de um trem, enquanto a locomotiva tinha lâmpadas brancas para iluminar o caminho. Quando os automóveis começaram a se popularizar, o esquema foi implementado para eles, também. O consenso geral é que isto aconteceu nos anos 30, quando também começaram a aparecer os primeiros carros com duas lanternas em vez de uma só.
Existe, ainda, uma razão biológica: a luz vermelha é a que menos interfere na visão do motorista à noite. Luzes amarelas, brancas ou azuladas nos ofuscam. Luzes vermelhas, não – o que as torna facilmente identificáveis e seguras para ficar apontadas na direção de quem segue um carro.