Até poucos anos atrás, os carros a diesel eram vistos como a opção econômica e “verde” no mercado. Hoje em dia, a indústria voltou-se totalmente para os híbridos e elétricos. E as motocicletas estão ensaiando, ainda de leve, seguir pelo mesmo caminho. Exceto que, diferentemente dos automóveis, quase não existiram motocicletas a diesel. Mas por quê?
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Motores a diesel são conhecidos pela alta eficiência energética – eles consomem menos combustível para produzir mais força. Eles também giram pouco, privilegiando o torque em baixas rotações. Por outro lado, com relação peso-potência inferior, os motores a diesel geralmente não são apropriados para motocicletas – que, via de regra, procuram oferecer baixo peso, tamanho compacto e aceleração rápida em alto giro.
É claro que, em teoria, uma moto com alto torque em giro baixo seria interessante – ou mesmo com uma faixa útil de rotações estreita (que os digam os fãs das motos de dois tempos). Mas há o outro lado da moeda: em geral, motores a diesel são mais pesados, com componentes mais robustos e, com isto, ficariam restritos a motos maiores e mais caras – que já são bem servidas pelos motores a gasolina que utilizam.
Além disso, motores a diesel são mais propensos ao superaquecimento e têm um nível de vibração mais alto, o que pode causar desconforto na condução de uma moto e até mesmo prejudicar sua estabilidade. É uma conta que simplesmente não fecha direito.
Colocando de outra forma: quando se trata de motocicletas, motores a diesel são simplesmente desnecessários.
Apesar disto, não quer dizer que não existiam motocicletas a diesel. Na virada da década de 1990, a Royal Enfield introduziu aquela que é considerada a única moto a diesel produzida em massa.
A Bullet Diesel, também conhecida como Royal Enfield Taurus, foi feita especificamente para o mercado indiano, onde na época o diesel era bem mais barato que a gasolina. A fabricante não desenvolveu um motor a diesel especificamente para a moto, porém: em vez disso, adaptou-se um motor monocilíndrico industrial de 325 cm³ fabricado pela Greaves Lombardini. Incidentalmente, também foi o menor motor já empregado pela Royal Enfield.
O motor entregava 6,5 cv a 3.600 rpm e 1,52 kgfm de torque a 2.300 rpm, o que era pouco mesmo para a época. Para efeito de comparação, uma Honda CG 125 contemporânea tinha 11 cv a 9.000 rpm e 0,94 kgfm a 7.500 rpm. Além disso, a Royal Enfield tinha seus 196 kg – o que acabava atrapalhando ainda mais sua performance: a velocidade máxima da moto era de ridículos 65 km/h.
Mas a Bullet Diesel tinha um trunfo: a economia de combustível – a fabricante prometia até 85 km/l. Para colocar as coisas em perspectiva novamente, uma CG 160 atual fica nos 30 a 35 km/l. E, graças à pouca sede, Bullet Diesel foi produzida por 11 anos – e só deixou de ser oferecida por conta das normas para emissões de poluentes cada vez mais rígidas.
Ela também inspirou muitos proprietários indianos a realizarem suas próprias conversões com motores a diesel industriais mais modernos, atraídos pelo baixo consumo, usando motores sobrealimentados e com o dobro ou mesmo o triplo da potência.
Acontece que a Royal Enfield Bullet Diesel foi um animal endêmico, que só existiu porque as condições do mercado indiano da época favoreciam. No mais, as motocicletas a diesel podem ser consideradas uma solução para um problema que não existia fora da Índia.
Apenas empresas menores, de nicho e com produção limitada, investiram nos motores a diesel para motos de rua. Uma destas empresas foi a Track Diesel, companhia holandesa especializada em máquinas agrícolas e motores a diesel estacionários. Em meados dos anos 2000, a Track começou a desenvolver uma motocicleta a diesel, colocando-a no mercado em 2009.
Chamada Track T-800 CDI, a moto reaproveita o motor três-cilindros de 50 cv e 10,2 kgfm que a Mercedes-Benz desenvolveu para uso no Smart. Componentes de outras fabricantes também foram aproveitados, como a transmissão CVT utilizade pelos side-by-side da Polaris ATV e o cardã das motos estradeiras da BMW. Apenas 50 unidades foram produzidas entre 2009 e 2012.
Considerando o cerco fechado em volta dos motores a diesel nos últimos anos, motivado pelo escândalo do Dieselgate, é extremamente improvável que a indústria motociclística os adote no futuro. O que, colocando na balança os prós e contras, não deve entristecer tanta gente.