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Sessão da manhã

Por que o McLaren F1 é tão sensacional? Gordon Murray responde

Andamos falando bastante do McLaren F1 aqui no FlatOut nos últimos tempos — da reunião dos F1 GTR em Goodwood, da vitória em Le Mans, dos detalhes que o tornam um carro de rua surpreendentemente prático, de como ele se compara ao P1 e até do último F1 GTR fabricado, que esteve à venda. Vamos falar dele novamente agora — ou melhor, vamos deixar que Gordon Murray, o pai do McLaren F1, conte como nasceu um dos supercarros mais incríveis do planeta.

Ian Gordon Murray nasceu e cresceu na África do Sul em 1946. Seu pai era piloto de motocicletas e preparador de carros de competição, portanto já dá para ter uma ideia do que inspirou Murray a cursar engenharia mecânica — e a construir seu próprio carro de corrida em 1966, aos 20 anos de idade. Era o IGM Ford, batizado com as iniciais de Gordon e equipado com o quatro-cilindros de um litro do Ford Anglia, alimentado por um carburador Weber 40DCOE. Tanto a estrutura quanto a carroceria usavam diversos componentes do Lotus 7, e por isso o IGM Ford era assim:

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Em 1969 Murray mudou-se para a Inglaterra, em busca de um emprego na Lotus. Em vez disso, acabou convidado para trabalhar na equipe Brabham de Fórmula 1 ainda naquele ano, depois de conhecer Ron Tauranac, que na época era o dono da equipe. Quando Bernie Ecclestone assumiu a Brabham em 1971, indicou Murray como designer-chefe — uma carreira que teve como frutos carros históricos, como o icônico BT46B com suas ventoinhas de efeito solo, e os vencedores BT49 e BT52.

Murray passou boa parte de sua carreira trabalhando na Brabham e estava pronto para se aposentar em 1986, quando recebeu um convite de Ron Dennis para juntar-se à McLaren. Como o próprio Murray conta no vídeo abaixo, feito pela própria McLaren como parte das comemorações dos 20 anos da vitória do F1 GTR em Le Mans (leia toda a história aqui), ele aceitou, com uma condição: seria um contrato de apenas três anos, sem qualquer possibilidade de extensão, e então Murray poderia se aposentar.

Sabemos que não foi o que aconteceu, claro. Os três anos de Murray na McLaren marcaram uma das melhores fases da equipe, culminando com o impressionante MP4/4 que deu a Senna seu primeiro título em 1988 e era imbatível na pista – sem falar que Murray já havia trabalhado com Nelson Piquet e José Carlos Pace. Àquela altura, Murray já havia meio que desistido da ideia de se aposentar.

“É muito fácil dizer [que você vai se aposentar], mas a verdade é que é um trabalho muito empolgante, então quando eu estava chegando na metade daquele período de três anos, comecei a pensar no que faria depois”, ele conta. “Para minha sorte, Ron [Dennis] estava pensando em expandir a divisão de engenharia”.

A ideia de fazer um carro de rua surgiu em uma conversa entre Murray e Dennis enquanto estavam presos em um aeroporto, esperando por um voo atrasado. A ideia de abrir uma companhia para produzir carros de rua surgiu naturalmente. “Era a coisa óbvia a se fazer”, comenta Murray.

Aquilo representava uma oportunidade única — a de fundar uma companhia do zero, escolhendo o prédio, o pessoal, definir o que cada um faria e começar a projetar um carro partindo de uma folha de papel em branco.

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Os primeiros protótipos do McLaren F1

A conversa com Ron aconteceu por volta de 1988, e a companhia — a McLaren Automotive — foi fundada em 1989. Isto deu a Murray uma boa janela de tempo para imaginar como seria o primeiro carro de rua da McLaren e ter uma boa ideia de como o carro deveria ser. Não esteticamente, claro, mas as proporções do carro, o tipo de motor (em V, naturalmente aspirado, hell yeah) e o propósito do design estavam bem definidos em sua mente. “Eu guardei tudo para mim, esperando o momento em que tivesse toda a equipe a postos para me ajudar com o projeto. Então, quando a equipe chegou, fiz uma reunião de dez horas e meia explicando todos os detalhes de como queria o carro”.

Foi ali que Murray decidiu que tentaria, ao máximo, afastar sua mente da ideia de fazer um carro de corrida. “Eu não queria comprometer o carro de rua. Quando me propus a fazer o melhor carro de rua eu não pensei apenas na engenharia por trás dele — pensei no aproveitamento de espaço, no porta-malas, no ar-condicionado que deveria funcionar direito esse tipo de coisa. Por isso, não queria que o carro fosse influenciado por ideias vindas dos carros de corrida.”

Foi inevitável, contudo. “Eu era um projetista de carros de corrida, então inconscientemente fiz tudo certo — distribuição de peso, geometria da suspensão, esse tipo de coisa… de um jeito de outro, era tudo típico dos carros de competição. E ainda havia o efeito solo — o McLaren F1 foi o primeiro esportivo de rua a aplicar o efeito solo”.

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Falando assim, fica até difícil acreditar que Gordon Murray não queria que o F1 se tornasse um carro de competição. E, no fim das contas, talvez ele quisesse, mas recusava-se a admitir. Porque não foi preciso muita insistência por parte do piloto Ray Bellm para convencer Murray a falar com Ron Dennis e dar início a transformação do F1 em um bólido — trabalho que, como já explicamos aqui, ficou por conta do engenheiro Jeff Hazell.

A partir daí, o que Murray conta é a história que já conhecemos — ele fala sobre como a versão de corrida foi montada e começou os primeiros testes em apenas um dia, recebendo uma asa traseira, alguns reforços estruturais e a gaiola de proteção no interior, além de restritores de potência. Conta como  fato de o carro de corrida ser, essencialmente, um McLaren F1 de rua com algumas modificações — tinha portas normais e retrovisores elétricos, por exemplo — tornava a vida dos pilotos e mecânicos mais fácil.

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Conta que o carro que correu em Le Mans ainda recebeu modificações na suspensão e freios de carbono-cerâmica, e que o fato de ele ter suportado “como um trem” a corrida de 24 horas surpreendeu a todos os envolvidos no projeto.

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A vitória nas 24 Horas de Le Mans ainda levou Gordon Murray a bolar uma série especial — o McLaren F1 LM, que era basicamente um F1 de rua 60 kg mais leve, com todas as modificações dos carros de corrida porém legalizado para rodar normalmente nas ruas. E, mais importante, sem os restritores de potência, permitindo que todos os 636 cv do V12 BMW de 6,1 litros liberem sua fúria.

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Murray decidiu que seriam cinco carros, porque foram cinco os F1 GTR que competiram em Le Mans em 1995. E todos seriam pintados de laranja, como os carros de corrida de Bruce McLaren — Murray até brinca, dizendo que “você poderia comprar seu F1 LM na cor que quisesse, desde que fosse laranja”.

Gordon Murray acredita que foi o fato de ter acompanhado pessoalmente toda a “vida” do McLaren F1, da concepção à suas conquistas no automobilismo é o que torna o carro tão especial. É um carro “de um homem só”, em suas próprias palavras — todos os carros feitos por um homem só acabam se tornando ícones, de certa forma. Quem somos nós para discutir?

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