O Golf GTI não inventou o esportivo compacto, leve e barato que acostumamos a chamar de “hot hatch”, mas foi, sem dúvida o mais popular deles — tanto que já tem oito gerações e praticamente 50 anos — e também um dos mais influentes de todos. Ele levou a esportividade para as massas e conseguiu provar que um esportivo de rua não precisa de muito mais que um bom motor, um bom conjunto dinâmico e uma pitada de decoração para fazer sucesso.
Esta última parte – o estilo – foi o que ajudou a transformar o Golf GTI em um ícone. Um hatchback básico, com linhas limpas, elegantes e harmônicas (trabalho de Giorgetto Giugiaro), com modificações simples como um spoiler dianteiro, um friso vermelho ao redor da grade, para-lamas alargados nas laterais e, por dentro, um belo revestimento xadrez no tecido dos bancos que se tornou uma de suas maiores marcas.
É claro que não foi o GTI quem inventou o revestimento xadrez nos bancos. É um visual clássico que já foi adotado pela Mercedes-Benz no 300SL Gullwing da década de 50 e em outros esportivos da marca na época (e também em alguns caminhões); pelo Dart SE, versão barata de apelo esportivo vendida pela Dodge no Brasil; e até mesmo pelos Porsche.
Mas, novamente, embora não tenha inventado o negócio, o Golf GTI foi quem popularizou esse padrão de revestimento. Seria fácil dizer que a Volkswagen foi inspirada pela Mercedes e pela Porsche na hora de fazer um esportivo de rua. Algo como “vamos colocar uns bancos xadrez igual dos Porsche para o pessoal fazer essa associação”. Mas aí a história seria chata.
E também seria falsa. Porque a Volkswagen decidiu usar esse padrão xadrez nos bancos do GTI por causa de uma simpática senhorinha chamada Gunhild Liljequist.
Ela foi a primeira mulher a trabalhar no departamento de design da Volkswagen, contratada em 1964. Antes disso, ela era pintora de porcelanas e, talvez, por ser uma artista com boa percepção estética, ela acabou contratada para o departamento de design, onde trabalhou até 1991.
Em 2016, quando o Golf GTI completou 40 anos, a Volkswagen publicou uma pequena entrevista com Gunhild, na qual ela conta como foi que teve a ideia de usar xadrez no interior do Golf:
“Me inspirei muito nas viagens que fiz pela Grã-Bretanha e sempre me encantava pelos tecidos de alta qualidade com estampa xadrez. A missão era a seguinte: estamos fazendo um Golf esportivo, mas ninguém sabe disso ainda. Então eu abordei a tarefa de um ponto de vista esportivo. Preto era esportivo, mas eu também queria cor e qualidade. Portanto, dá para dizer que há um toque de esportividade britânica no GTI.”
Faz sentido: tecido xadrez é algo tradicional do Reino Unido: os diferentes padrões de tartan representam os clãs, casas nobiliárquicas e famílias antigas escocesas. Jackie Stewart, por exemplo, utilizava a clássica estampa do Clã Real dos Stuart em seu capacete, e até hoje não aparece sem ao menos uma peça de vestuário xadrez à mostra. O piloto Alan McNish é outro que, inspirado por Jackie Stewart, adotou o tartan de sua família no capacete — no caso, o tartan dos MacIness (McNish é uma variação ortográfica).
Naturalmente, o xadrez não era a única padronagem disponível para o Golf GTI de primeira geração, mas foi uma das mais populares. Não foi à toa que algumas variações foram adotadas em modelos da VW que vieram depois, como o Scirocco e o Polo GTI. Também foram sendo feitas reinterpretações do xadrez nas gerações subsequentes do Golf GTI.
Por falar nisso, Gunhild também teve a ideia de colocar uma bola de golfe na alavanca de câmbio do Golf GTI – afinal, golfe é um esporte e o GTI era um Golf esportivo. No início, a ideia foi ridicularizada pela equipe, mas acabou se tornando outra das marcas registradas do Golf GTI.
E como aconteceu com outros Volkswagen, as referências estéticas europeias acabaram vindo parar no Brasil. É por isso que o Gol GT, mesmo sem o “f’ no fim do nome, tem a manopla do câmbio em forma de bola de golfe. E também é por isso que o Gol Copa 1982 tem a manopla em forma de bola de futebol.
E sobre o padrão xadrez, bem, ele não era exatamente como um tartan escocês, mas ele veio parar no Brasil nos anos 1990, quando a Volkswagen renovou o Gol GTS e lançou o Voyage Sport: os dois tiveram a opção de revestimento em seus bancos Recaro LS.