Na autoescola – ou centro de formação de condutores, que seja –, os instrutores te ensinaram a posição “10 para as 2” como a adequada, segurando na parte superior do aro, separadas por um ângulo de cerca de 25º. Você que é entusiasta, sabe que a melhor posição para dirigir, seja na cidade, na estrada ou no track day, é a “15 para as 3”, com os polegares posicionados na junção entre o aro e os raios, com as mãos separadas por 180º na horizontal. E sente calafrios toda vez que vê seu tio ou aquele seu camarada ordenhando o volante para esterçar o veículo, ou segurando a direção com as duas mãos para o alto e avante, como o super-man…
Mas quais seriam as limitações da “10 para as 2” e as vantagens reais do “15 para as 3”? E mais ainda, quais as posições equivocadas mais típicas e quais os problemas de controle e de ergonomia que elas trazem?
Foi pensando nisto que o pessoal da Team O’Neill Rally School, escola de pilotagem que fica em Neil Hampshire, nos EUA, decidiu fazer este vídeo demonstrando e explicando as diferentes posições das mãos no volante. E nós destrinchamos o vídeo abaixo e adicionamos alguns comentários a seguir.
Uma mão só no volante – Toretto Style
Apoiar uma das mãos na parte superior do aro pode ser razoavelmente confortável pra um passeio na cidade e te fazer remeter a um certa certa franquia cinematográfica de destruição em massa que ocasionalmente se recorda de falar de carros. Nosso CTB estabelece que é preciso usar as duas mãos, então de cara essa postura já pode render uma dolorosa – ou, no caso da tela abaixo, ao menos três: sem cinto, com rádio/celular às mãos e uma mão ao volante.
Mas em termos de controles, essa posição é uma catástrofe. Você consegue esterçar o volante apenas 90º para cada um dos lados, sem a mesma velocidade que utilizando as duas mãos e, principalmente, sem o mesmo controle e sensibilidade: você não terá praticamente nenhum feedback de aderência dos pneus e ainda tenderá a fazer pêndulo com o automóvel. Seu braço também fica esticado, o que significa que é o seu ombro que fará o esforço para esterçamento, não os músculos do seu braço.
“Espalmar” o volante
Muitas vezes, numa manobra de baliza ou ao dobrar a esquina, os motoristas esterçam com a palma da mão, manipulando o volante meio que como em um discador de telefone (entregamos a idade aqui). Para esse tipo de situação específica, pode ser mais confortável, principalmente com direção assistida, mas em qualquer coisa que seja acima de 10 ou 15 km/h, dirigir assim é uma ideia terrível. E o problema de assumir isso como hábito para velocidades lentas é justamente o hábito: vira um vício.
Na cidade, você nunca vai conseguir desviar de um buraco ou de um pedestre com a mesma velocidade e controle esterçando dessa forma. Quando você precisar fazer a manobra com rapidez, vai perceber que sua mão desliza sobre o volante. Pior do que isso, nesse cenário de agilidade necessária você não terá controle exato do esterçamento, principalmente na hora de parar o movimento e de alinhar o volante.
Em velocidades mais altas, é uma catástrofe anunciada: qualquer irregularidade, mudança na superfície do asfalto ou mesmo o torque vindo dos pneus durante a curva pode alterar subitamente a posição do volante. Como você não está o segurando, mas sim o espalmando, a direção corre sob sua palma. E mesmo sem este cenário adverso, você não terá o mesmo tipo de controle sensível da direção: os movimentos ficam mais exagerados.
10 para as 2
Ao contrário do que se diz, a clássica posição ensinada nas autoescolas não é a melhor que a “15 para as 3” em nenhum cenário – ainda que ela não chegue a ser inapropriada. Você tem as duas mãos no volante, firmeza na pegada e um bom nível de controle. Mas há limitações que surgem rapidamente: o primeiro é que, com as mãos assim, você só consegue virar 90º para cada um dos lados. Neste ponto, os músculos dos seus ombros já estão totalmente tensionados.
Mais do que isso, com pouco esterçamento seu braço já estará sobre o volante, o que pode ser um problema no caso de uma colisão em um automóvel com airbag. Seu braço pode ser arremessado contra o seu rosto: esse tipo de cenário é difícil de se evitar, mas o fato é que na posição “10 para as 2” seu braço fica nessa posição de risco a todo tempo.
Frente a isso, é um erro esterçar o volante no estilo “andar de caranguejo”, com movimentos rápidos das duas mãos, apalpando o volante (aos 3:10 do vídeo). É uma derivação do “ordenhar vaca”, que é uma das primeiras coisas que os instrutores de autoescola corrigem (ou deveriam corrigir). Feito desta forma, o esterçamento acontece em pequenos trancos, algo extremamente perigoso numa velocidade de estrada, aumentando muito as chances de perda de controle dinâmico. E na cidade isso jamais lhe dará agilidade suficiente para qualquer desvio emergencial, mesmo se você for o melhor piloto do mundo. É fisicamente impossível.
Aos 4:35, o instrutor ainda comenta outro cenário, de pré-posicionar as mãos antes de uma curva. Isso era relativamente comum até a década de 1970, quando os carros tinham caixas de direção bastante pesadas e relações desmultiplicadas. Hoje em dia isso é desnecessário e desorienta o motorista em relação ao ângulo real em que as rodas estão esterçadas, o que pode ser um grande problema numa necessidade de contraesterço – que pode surgir numa poça de óleo ou num cenário de aquaplanagem, por exemplo.
15 para as 3
Você é entusiasta, então certamente já viu centenas de onboards com pilotos profissionais e reparou que eles sempre estão com as duas mãos no volante. Mas em vez de “10 para as 2”, eles costumam deixar as mãos na posição “15 para as 3”. Em um primeiro momento, parece que deixar as mãos mais distantes entre si torna o ato de controlar o carro mais difícil, mas é o exato oposto disso. Como nós dissemos neste post (no qual criticamos uma das posições mais absurdas ao volante já vistas na história deste planeta):
A posição que sempre permitiu o máximo de agilidade, precisão e torque com o mínimo de deslocamento do corpo e que induz a menos movimentos involuntários na direção sempre foi a “15 para as 3” (mãos separadas por 180 graus na horizontal), pois a contraposição simétrica das mãos combina as ações de se puxar com uma mão e empurrar com a outra no ato do esterçamento – além de se alavancar melhor as articulações e sobrecarregar menos os ombros. Usa-se melhor o corpo. (…) É por esta razão que o aro do volante de quase todos os carros possui uma cavidade para o encaixe do seu polegar.”
Pelo uso inteligente do corpo e por razões ergonômicas, esta posição não é só a melhor para controle dinâmico em altas velocidades ou para reduzir a fadiga na estrada. Para a cidade, é a posição que permite o maior ângulo ao esterçar: você consegue chegar em até 180º de esterçamento – ainda que o ideal seja você fazer a rotação de mãos a partir de cerca de 135º na cidade (veja aos 7:30 do vídeo).
Nós sugerimos que você faça esse movimento de rotação de mãos mesmo ao fazer manobras de esquina ou de estacionamento por um excelente motivo: memória muscular. Na hora em que o seu carro deslizar de lado e você precisar fazer um contra-esterço radical, com mais de 120º de esterçamento, a manobra vai ser instintiva. Seu corpo vai reagir instantaneamente, sem que você precise pensar em fazer a rotação de mãos: ela simplesmente vai ser feita.
Além do melhor uso do corpo, mais ergonômica e ágil, a posição 15 para as 3 ainda oferece mais uma vantagem: sensibilidade dinâmica. Veja a foto acima. Numa curva para a esquerda, a sua mão direita (a que “empurra” o volante) estará na melhor posição possível para sentir as reações de torque do volante frente ao limite de aderência dos pneus ou de textura do asfalto. Nesse caso, a mão esquerda ajuda a esterçar, mas seu esforço é mais marginal – a mágica surge justamente na hora de retornar o volante ou de esterçar rapidamente para o outro lado, como num trecho sinuoso. A mão que estava quase passiva repentinamente é a força de alavanca para esterçar o volante. A divisão de tarefas fica perfeitamente dividida.
Por tudo isso, a posição 15 para as 3 é imbatível, seja na cidade, na estrada ou no track day. Seja para o entusiasta hardcore, seja para o pai ou mãe levando os filhos para escola.