O Príncipe Philip, Duque de Edimburgo e marido da Rainha Elizabeth II, morreu no começo deste mês aos 99 anos de idade – dois meses antes de se tornar centenário. Nascido nas Grécia em 10 de junho de 1921, ele conheceu a Rainha em 1939 durante uma visita ao Colégio Naval de Dartmouth, no Reino Unido. Os dois começaram a namorar pouco depois e, em 1946, Philip pediu a mão de Elizabeth a seu pai, o Rei George VI. O casamento foi anunciado em 1947, quando o Príncipe Philip abandonou seus títulos de nobreza gregos e se tornou membro da Família Real Britânica, tornando-se o Duque de Edimburgo.
Ainda não é assinante do FlatOut? Considere fazê-lo: além de nos ajudar a manter o site e o nosso canal funcionando, você terá acesso a uma série de matérias exclusivas para assinantes – como , , e muito mais!
Philip e Elizabeth se casaram no mesmo ano, e o Príncipe passou a ser o consorte real da Rainha – título que manteve até sua morte. Com isto, ele foi o consorte mais longevo na história da Inglaterra, o homem mais velho da Família Real, e o terceiro membro mais velho da realeza (superado apenas por sua sogra, Elizabeth I, que morreu aos 101 anos; e pela Princesa Alice, Duquesa de Gloucester, que viveu até os 102).
Sendo assim, o Príncipe Philip testemunhou muita coisa ao longo da vida. Ele nasceu dois antes da primeira edição das 24 Horas de Le Mans, cinco anos antes da construção de Nürburgring Nordschleife; e já tinha seus 26 anos de idade quando o Land Rover Defender, seu veículo favorito, foi criado em 1947. Sim – como bom monarca britânico (nascido na Grécia, mas tudo bem), o Príncipe Philip nutria um apreço enorme pela Land Rover, ao ponto de ter escolhido pessoalmente um Defender para ser seu carro funerário. E ele até ajudou a projetá-lo há alguns anos, sabendo que não teria muito mais tempo nesse mundo.
Não há dúvida de que o Príncipe Philip era entusiasta, ou ao menos gostava bastante de carros e de dirigir. Ele só abandonou o volante – por vontade própria – em fevereiro 2019, aos 97 anos de idade, depois de envolver-se um acidente que deixou seu Land Rover Freelander capotado após bater em um Kia. Segundo nota oficial do Palácio de Buckingham na época, o príncipe entregou sua carteira de motorista voluntariamente “após cuidadosas considerações.”
Ao menos o Príncipe Philip não podia se queixar de ter dirigido pouco ao longo da vida. Bem ao contrário, na verdade: ele dirigiu muito – por cerca de oito décadas. E ainda deu umas escapulidas depois de entregar o documento.
Se quiser saber quando o Duque de Edimburgo começou a dirigir, boa sorte tentando descobrir – quando ele fez 18 anos, idade considerada padrão para tirar a carteira de motorista no mundo todo, a Segunda Guerra Mundial estava prestes a começar e ele logo foi servir como oficial da Marinha Real, defedendo a Coroa com honras e promovido a lugar-tenente em 1942. Quando o conflito acabou, Philip provavelmente já sabia se virar ao volante de qualquer coisa.
Ao longo da vida, o Duque de Edimburgo foi visto ao comando dos mais variados veículos. Ele foi o primeiro membro da Família Real em toda a história a conduzir um helicóptero – e o fez na cerimônia de coroação de sua esposa, inclusive, para dar boas vindas à nova Rainha e saudar as tropas que participaram do evento. Ao longo dos anos, o príncipe participou de diversas cerimônias militares e sempre dava um jeito de dar uma voltinha nos veículos – talvez até para relembrar seus tempos na Marinha.
Quanto aos carros mesmo, não há tantos registros “oficiais”. Existem, contudo, relatos que demonstram o gosto do príncipe pelos automóveis. Em uma carta datada de 1939, a Rainha Elizabeth II (que ainda era uma princesa), escreveu:
O Príncipe Philip gosta de dirigir, e dirigir rápido! Ele tem um MG pequenininho do qual tem muito orgulho – ele me levou para dar uma volta nele uma vez, e nós fomos até Londres. Foi bem divertido, mas parecia que eu estava sentada direto no asfalto, e as rodas ficam quase na altura da sua cabeça!
Podemos ver que quem entende, entende – e quem não entende, estranha. O MG em questão era um clássico T-Type, o clássico que ajudou a transformar a MG em uma fabricante de esportivos icônica (inspirou o MP Lafer brasileiro, claro).
Depois da coroação, o Príncipe Philip teve outros automóveis para uso pessoal. Há registros do monarca dirigindo um Alvis TD21 Series II Drophead Coupe, conversível esportivo fabricado entre 1958 e 1963 com carroceria Park Ward e motor seis-em-linha de três litros; e um Lagonda 3-Litre – que como o nome diz, também tinha três litros e foi produzido pela Aston Martin entre 1953 e 1958, sendo parte da linha Lagonda da era David Brown.
O espelho no para-lama esquerdo foi uma adição especial para que a Rainha pudesse ajeitar seus famosos chapéus enquanto passeava com o marido. O carro também tinha um telefone no painel, e o sempre bem-humorado Duque de Edimburgo passava trotes nos filhos Charles e Anne (para imenso desgosto de ambos).
Em 1966, o príncipe comprou um Reliang Scimitar, shooting brake com pegada esportiva e janelas laterais traseiras que iam até o teto – e também comprou um para sua filha, a Princesa Anne, porém com carroceria cupê.
O Scimitar foi um dos últimos carros que o Príncipe Philip comprou para seu próprio uso. Depois dele, na maior parte do tempo ele utilizava veículos oficiais, que pertenciam à Coroa – e quase sempre eram modelos da Land Rover. Isto porque, ao lado da Jaguar, a lendária fabricante de utilitários recebeu a chamada Royal Warrant of Appointment – algo como “Garantia de Indicação Real”, documento emitido a empresas ou organizações que simboliza a confiança e o usufruto de produtos ou serviços pela Coroa. Ele também garante aos contemplados o direito de anunciar o fato publicamente.
A única exceção, nos anos mais recentes, foi um táxi Austin FL2, também conhecido como Metrocab. O príncipe comprou um exemplar para poder dirigir “disfarçado” pelas ruas de Londres – embora fosse quase sempre reconhecido pelos súditos (afinal, muitos deles são verdadeiramente obcecados por tudo o que os membros da Família Real fazem). Em 2017 ele entregou as chaves do carro porque já não se sentia muito bem para dirigir, e o táxi foi levado ao Museu de Sandringham para exposição.
É por isso que, na contracapa dos carros da Jaguar e da Land Rover/Range Rover, há um vistoso certificado Foi o Rei George VI, sogro do Príncipe, quem emitiu o Royal Warrant à JLR – apenas os três membros de mais alta hierarquia na Família Real podem fazê-lo. (A Aston Martin, graças ao Lagonda 3-Litre, também possui o Royal Warrant.)
Foi por causa disso que o Príncipe Philip passou a admirar cada vez mais os Land Rover ao longo da vida – ele tinha acesso irrestrito a qualquer carro da frota real, afinal. E também foi por esta razão que ele decidiu, poucos anos antes de morrer, colaborar no projeto de seu próprio carro funerário.
Just stick me in the back of a Land Rover and drive me to Windsor – “Só me coloquem atrás de um Land Rover e me leve para Windsor” – era a frase que Philip costumava dizer à Rainha quando falava de seu funeral. E é exatamente isto que vai acontecer: o Defender picape customizado com uma tampa na caçamba para acomodar o ataúde. O funeral do príncipe acontecerá no próximo sábado, dia 15 de abril, e mais de 30 pessoas, entre membros da realeza de outros países e representantes das Forças Armadas, foram convidadas a prestar as últimas homenagens ao Príncipe Philip.