Saudações a todos! Antes de nos aprofundarmos no universo da preparação, gostaria de bater um papo e recordar a minha primeira viagem com o Eclipse GST.
Como eu havia prometido em meu primeiro post, irei abordar esse assunto com a finalidade de passar a minha experiência, com o objetivo de estimular aqueles que hesitam em comprar seu carro dos sonhos porque eles estão a uma distância muito grande de sua casa. Então aperte os cintos e vamos nessa galera!
A preparação
Parece “murro em ponta de faca” mas vou repetir novamente que fazemos muito menos se não nos prepararmos adequadamente.
No caso de uma compra de um carro fora de seu estado, há algumas coisas que você tem que se certificar caso pretenda voltar para casa dirigindo.
A primeira coisa parece óbvia mas é a documentação.
Certifique-se que o documento de compra e venda esteja corretamente preenchido, que o carro não esteja alienado e que o Detran de seu estado não exija a baixa do CRLV no estado de origem, bem como a comunicação prévia de venda. Infelizmente nosso pais é muito burocrático e há muitas diferenças entre dos detrans de cada estado, então cada caso deve ser analisado separadamente.
Esta etapa preferencialmente deve estar adiantada o máximo possível antes mesmo de você viajar rumo a cidade de origem da sua compra, para que você não perca tempo e dinheiro extra. Além disso não se esqueça que algumas etapas do processo de documentação podem ser obrigatoriamente presenciais e é ai que você deve reservar um dia útil para o inicio de sua viagem, visto que esses orgãos públicos não funcionam nos fins de semana.
A segunda coisa importante a fazer: certifique-se de que o carro possa fazer a viagem de volta.
Isso envolve combustível, oléo, água, pneus, freios etc. Porque isso é importante? Bem, porque nem todos os proprietários de carros estão ligando muito se o tanque de combustível está cheio, ou se óleo do motor está recém trocado quando estão na eminência de vender o carro. Veremos mais disso a seguir, pois alguns dos medos que passei nessa viagem foram causados justamente por causa disso.
Terceiro assunto importante: tenha tempo disponível.
Nessa minha história veremos que a distancia que me separava do meu carro era aproximadamente 1.400km. Muita gente consegue cobrir essa distância em doi dias ou até menos sem problema algum. Mas não justifica você tentar fazer isso em um final de semana apertado, tendo que trabalhar no dia seguinte. Primeiro porque sempre há a chande de alguma coisa dar errado e segundo porque assim como o seu carro, você também é uma “máquina” que possui limitações baseadas no metabolismo.
Quarto: Planeje sua rota!
Tá e ai? Você comprou aquele carro dos seus sonhos, porém se esqueceu que ele é baixo demais para rodar em ruas não pavimentadas, de uma cidadezinha que você nem sabia que existia? Ou então você deixou de se alimentar porque se esqueceu que a estrada de volta para sua casa é repleta de pedágios? Ou teve que dormir na estrada ou correr algum risco desnecessário porque você não contava com algum desvio na estrada onde pretendia retornar para casa?
Cinco: esteja sempre acompanhado
Me recordo que no primeiro post eu fiz um agradecimento a minha mãe por insistir em ir comigo. Por causa disso aprendi que isso é muito importante para reduzir o risco e o estresse dessa “primeira viagem” com seu bólido recém comprado. A razão disso é simples: duas pessoas podem mais que uma.
A essa altura vocês devem estar se perguntando se eu já tinha tudo isso em mente antes de fazer essa viagem. A resposta é não.
A vida é aprendizado, algumas coisas aprendemos na prática. Porém é muito melhor aprender com a experiência dos outros, e por isso achei que seria interessante transmitir essa experiência aos senhores.
Coloquem seus assentos em posição vertical e recolham as mesas. Iremos decolar com destino a Brasília
Tudo começou no dia 14 de dezembro de 2010, uma terça-feira, quando eu e minha mãe pegamos o avião no aeroporto do Galeão. Após uma breve ligação, informei ao sr. Fernando (dono do carro) que eu estava chegando na capital federal dentro de três horas e que no dia seguinte pela manhã, nos encontraríamos no local combinado.
Chegamos em Brasília com o tempo chuvoso. Tomamos o rumo do hotel reservado pelos próximos dois dias: check-in 14/12 e check out 16/12. Conosco apenas uma mochila com duas mudas de roupas, notebook com modem para conectar a internet e itens de higiene pessoal. Naquela noite ainda ligamos mais uma vez para confirmar nossa chegada.
No dia seguinte nos encontramos com o Fernando no local marcado. Ele não estava com o carro, na ocasião. Após conversar para “confirmar a identidade” de cada um, ele nos levou até a garagem de sua casa onde estava o Eclipse GST, escondido sob uma capa. O carro estava empoeirado e parecia fazer algum tempo que não era utilizado.
Neste momento ele nos convidou para entrar no carro para uma breve demonstração e também para levá-lo ao posto de gasolina para que pudéssemos ficar mais à vontade e também checar a mecânica. Aceitamos o convite e me sentei no banco do carona ao lado. O sr. Fernando bateu a chave e o carro deu partida imediatamente, sem restrição alguma.
A partir daí, fiquei reparando no comportamento do carro e nos barulhos, como o da suspensão traseira, que estava avariada. O sr. Fernando foi me relatando o que o carro tinha por fazer à medida em que eu apresentava minhas dúvidas.
Chegando ao posto, colocamos o carro no lava-rápido dar um banho no carro, e nesta oportunidade pude me certificar que a vedação estava em dia. Em seguida, fomos checar a mecânica.
Logo ao abrir o capô, tudo ali estava consideravelmente sujo. Faltava o defletor da turbina e por isso podíamos ver o coletor de escape bastante avermelhado (apesar disso, não era realmente um problema, visto que essas peças costumam a ficar assim com o tempo). Minha preocupação naquele momento foi checar as mangueiras do radiador, chicotes do alternador e bateria e verificar se havia algum tipo de vazamento de óleo em algum ponto do motor. Depois disso, luzes de freio, piscas e de ré. Foi como se eu estivesse fazendo uma vistoria do Detran. Todos esses itens estavam ok.
Em seguida reparei nos pneus, que como já haviam me antecipado, estavam no fim de sua vida útil. Realmente estavam bem “lisos” principalmente os pneus traseiros. Isso me forçou a ter ainda mais cautela na volta. Por isso também chequei o estepe, para o caso de uma troca inesperada de pneu. E foi aí que eu descobri algo que eu não sabia sobre o Eclipse:a existência de um estepe temporário, mais fino que as rodas originais do carro, e que só pode ser utilizado com o carro andando a 80km/h no máximo.
Quando nos satisfizemos com a mecânica, percorremos a cidade em um test drive mais apurado. Sempre que possível observando a temperatura e pressão de óleo do carro para checar se estava tudo ok. O sr. Fernando deu as primeiras puxadas com o carro para que sentíssemos melhor o desempenho. Depois disso trocamos de lugar e eu e minha mãe tivemos a oportunidade de experimentar a condução.
A primeira coisa que reparei foi a diferença de potência em relação a tudo o que eu havia dirigido antes e os engates secos e muito precisos daquele câmbio. Era praticamente a confirmação de que eu iria mesmo comprar aquele carro — imediatamente um sorriso enorme se estampou no meu rosto! Eu estava naquele momento dirigindo um verdadeiro esportivo!
Passamos a manhã inteira conhecendo o carro. Assim antes do almoço eu já havia confirmado que levaria o carro para casa e fui proceder o pagamento. Após o pagamento tiramos uma das poucas fotos dessa viagem para servir de registro desse evento.
Em seguida fomos ao Detran, onde o Fernando faria a comunicação formal de venda. Precisei apenas assinar uns documentos, e pronto! Eu já era o novo dono do Eclipse.
Depois disso levei o sr. Fernando para casa e no caminho pedi a ele que me levasse até o posto de gasolina para encher o tanque com gasolina Pódium. Durante o test drive ele havia me dito que o carro só funcionava corretamente se abastecido com pódium, uma vez que já tinha algumas modificações citadas no primeiro post.
Como o carro estava abastecido somente com o que era necessário para o test drive (entenda-se, quase na reserva) completamos o tanque, que tem aproximadamente 63 litros de capacidade.
Em seguida voltamos para o hotel, onde passei a tarde ocupado com uma preocupação que havia surgido assim que terminamos de abastecer o carro: a qualidade do combustível!
A rota e o problema com combustível
Eu havia planejado a rota, porém por erro, havia esquecido completamente da necessidade de abastecer esse carro com gasolina Pódium. Mas nem tudo estaria perdido, eu ainda podia contar com os recursos disponíveis na internet que me ajudariam a encontrar os postos certos.
Para isso recorri a este site:
E por fim, descobri algo que me preocupou bastante: nessa época, não haviam postos que comercializavam pódium em lugar algum, na rota traçada de Brasilia até as imediações de Belo Horizonte, ou seja uma distância de aproximadamente 730km! Para fazer o percurso, meu carro teria que ter média de consumo melhor que 12 km/l.
O que fazer agora? Uma vez que com muita sorte o consumo desse carro 2.0L turbo fosse na faixa de 10km/l?
Minha decisão foi de viajar até que meu tanque esvasiasse cerca de 1/3 após isso eu recompletaria com gasolina aditivada e continuaria até chegar em Belo Horizonte, com a esperança de que “diluída” a gasolina de menor octanagem causasse um efeito colateral menor.
Considerando 10km/l como média de consumo do carro isso me daria uma autonomia de cerca de 850km. Neste trecho eu também teria que moderar com o acelerador, ainda que a vontade pisar fundo fosse grande.
Início da viagem de volta.
Em seguida, colocamos em prática a rota que tínhamos planejado apenas adaptando essas restrições que o uso da gasolina Pódium nos impôs.
A rota a ser seguida se estendia de Brasilia até o Rio de Janeiro pela BR-040, onde iríamos buscar o carro da minha mãe, estacionado no aeroporto do Galeão, e depois seguiríamos para Resende pela BR-116 (Dutra) totalizando 1.326 km, sem considerar desvios dentro de cidades no percurso.
Também ficou decidido que faríamos paradas a cada 200 km para trocar o condutor. Assim, não nos cansariamos muito.
Trecho 1 – Brasília x Belo Horizonte… ou melhor, Sete Lagoas
Saindo as nove da manha de Brasilia, era de se esperar que pelo início da noite estaríamos chegando em Belo Horizonte, mas não foi bem assim. Tomamos o trecho duplicado da rodovia que tem inicio na Asa Sul (DF-002 e DF-003) normalmente, mas assim que saímos de Brasilia, chegando nas imediações de um local chamado Valparaíso de Goiás, pegamos um trânsito pesado em virtude de obras no local. Assim perdemos muito tempo.
Desta maneira só conseguimos um trânsito mais livre praticamente quando ultrapassamos o ponto onde a BR-040 torna-se de mão dupla. Reparem na foto abaixo como o sol já está bem no alto. Já era quase meio dia!
A ficha caiu! O dono orgulhoso posando com seu “bólido” recém adquirido
Naquele trecho pegamos uma estrada de mão dupla, em estado de conservação razoável boa de dirigir e rodeada por uma vegetação de cerrado. Agradável, se não fossem as eventuais filas de carros criadas por algum caminhão lento.
Em seguida, quando chegamos nas imediações de Paracatu (MG), parei em um posto e abasteci com gasolina aditivada, como planejado. E de fato, comprovamos que o carro “parecia reclamar” quando não era abastecido com Pódium.
Imediatamente após dar a partida e acelerar pra sair do posto, a luz de “check engine” acendeu. Indicando uma provável falha em algum componente no motor do carro. A partir daí fiquei com um pouco de medo de ter algum tipo de pane durante o caminho que me restava até BH.
Para quem não sabe, carros turbo antigos tendem a ser um pouco “frescos” na hora de acender a luzinha do check engine
Felizmente, nada demais grave aconteceu, fui moderando no acelerador, até mesmo para evitar a forçar a mecanica, uma vez que não estava usando combustível ideal.
Então como consequência já estava ficando tarde e não haviamos chegado em BH, portanto fizemos uma parada forçada em Sete Lagoas antes do sol se pôr.
Hora do descanso!
Encontramos um hotel bem legal na margem deste Lago. Infelizmente não me lembro do nome
Fato Curioso: naquela noite, recebemos uma ligação inesperada.
Era o Fernando, que estava propondo recomprar o carro! Isso mesmo! Aparentemente ele ficou com pena de vender e tentou comprar novamente o carro que havia vendido para mim no dia anterior. Inclusive ele ofereceu 10% a mais do que eu havia pago (R$ 3.000 a mais) para cobrir os custos da minha viagem até Brasilia e hospedagens.
Entretanto o fato já estava consumado. Eu já tinha adquirido gosto pelo Eclipse e neguei imediatamente a proposta oferecida.
Trecho 2: Sete Lagoas x Belo Horizonte: Abastecendo com Pódium
Faltava pouco até o Rio de Janeiro
Era manhã do dia 17, e acontece que naquele momento a gasolina do carro estava acabando novamente. Após tomar o café da manhã no hotel e pagar a hospedagem, reiniciei minha viagem pensando somente em chegar no posto BR mais próximo com gasolina Pódium disponível para saciar a sede do Eclipse. De Sete Lagoas a BH foi bastante rápido, mas quando entramos em BH pegamos um pouco de trânsito.
Após completar o tanque com gasolina Pódium a R$3 (quem dera se custasse isso hoje) estávamos pronto para fazer a corrida final até o Rio de Janeiro. Para a minha alegria a luz do “Check Engine” voltou a apagar com o combustível correto, e portanto me vi motivado a acelerar mais com o carro.
Trecho 3: Belo horizonte x Rio de Janeiro
Continuamos portanto a seguir pela BR-040 já duplicada, uma rodovia bastante bonita, e fizemos nossa próxima parada em Juiz de Fora para um almoço rápido. E batemos em retirada em direção ao rio de Janeiro.
Imediações de Petrópolis
Para quem não conhece, este trecho da Washington Luís na minha opinião é um dos trechos mais bonitos desta estrada. Trata-se da Serra de Petrópolis cercada por florestas. A estrada tem um declive considerável com diversas curvas, algumas delas com túneis.
Porém de bonito, ele também é perigoso. Há trânsito intenso de caminhões, sempre acompanhado do característico cheiro de lona de freio queimada, além disso neste local já ocorreram graves acidentes fatais — com membros do fórum Mitsumania, inclusive.
Chegando à Baixada Fluminense pegamos um trânsito mais intenso — o que nos atrasou mais uma vez. Assim chegaríamos ao aeroporto do Galeão por volta das 17 horas para que a minha mãe pegasse o carro dela.
Aproveitei para abastecer num posto BR nas imediações e então em vez de voltarmos para casa em Resende pela BR-116, preferimos passar a noite na casa da minha avó no Rio de Janeiro.
O trecho final: Rio de Janeiro x Resende pela BR-116
Fiz questão de sair bem cedinho de casa, pois aquele era o momento para testarmos a performance do carro. Me recordo de ter feito a viagem do Rio de Janeiro a Resende em cerca de 1:15, chegando a velocidade bem… “empolgantes” neste percurso.
Considerações finais
Mesmo planejando é necessário estar atento a imprevistos. Eles ocorrem. Infelizmente não tenho fotos mais detalhadas de todos os momentos da viagem uma vez que tudo isso aconteceu há cerca de três anos e meio e eu não fazia ideia que algum dia eu iria contar esta história em um site automotivo.
Isto encerra a minha história, espero que eu tenha matado a curiosidade de algumas pessoas e ajudado outras a dar aquele passo importante rumo a realização de seus sonhos gearheads!
No próximo tópico irei continuar com a receita de preparação contando sobre o meu setup de cabeçote para o motor 4G63.
Até breve!
Por Leandro Amorim Correa, Project Cars #136