Pressão, pressão, pressão! Não, meus amigos, esse não é mais um refrão de baile funk! Nem quer dizer que mudei meu projeto de aspirado para turbo-alimentado! Essa é aquela sensação de querer terminar um projeto e você então percebe que faltam os meios, sejam eles financeiros (principalmente), sejam eles de mão de obra disponível e, principalmente, bem disposta.
É o sentimento de todo entusiasta que vê seu sonho ali parado, bem diante dos seus olhos, mas tem seus ouvidos bombardeados constantemente pela cobrança: “E aí, fica pronto pra quando?”. Com esse desabafo, começo mais um post do meu Project Car # 16.
No nosso último encontro, há mais de seis meses atrás, segundo a cobrança contagem dos nossos editores do Flatout, falei sobre minhas dúvidas a respeito da cor e do visual que pretendia adotar no carro. Nesse meio tempo, após pesar bem os prós e os contras, levando também em consideração as sugestões dos leitores, as dúvidas finalmente se dissiparam.
O carro permanecerá legalizado para as ruas, com visual do Kadett GSi, composto por parachoques dianteiro e traseiro pintados na cor do veículo, spoiler lateral e capô com saídas de ar originais. A cor escolhida será o Azul Grafite, do Nissan March. Embora tenha praticamente tudo resolvido nessa parte, não é ela a mais adiantada atualmente. Ao contrário disso, a etapa que hoje está mais avançada é a mecânica. E é sobre ela que falaremos agora:
Upgrades em andamento
No post #4, eu já havia mostrado a vocês meu estoque de maldades peças de performance que estavam guardadas para o upgrade na mecânica.
Pois bem, em julho desse ano eu aproveitei uma viagem para Campos do Jordão – SP e levei meu motor no porta-malas, com tudo o que tinha direito, e o deixei nas mãos de um amigo preparador na capital paulista.
Lá na oficina do Daniel — a — o motor seria totalmente desmontado, retificado e receberia as peças novas.
Enquanto eu estava curtindo o friozinho em família, o bloco do motor foi para a retífica, onde sofreu um banho químico e teve suas medidas conferidas e adequadas para os novos pistões IAPEL de 88mm.
Aproveitando o fino trato dispensado pelo Daniel, o bloco também foi pré-montado e buretado, onde foi medido o squish. Para quem não sabe (eu também desconhecida), o squish é um efeito comum em motores de combustão interna que gera turbulência repentina da mistura ar-combustível quando o pistão se aproxima do ponto morto superior ou PMS. Basicamente, um squish correto permite que se use taxas de compressão mais elevadas, diminuindo o risco de pré-detonação. A estratégia aqui consiste em medir a distância entre a face da câmara de combustão e a face do pistão, e então plainar a face superior do bloco, evitando-se retirada de material do cabeçote.
Segundo o preparador, o squish ideal é em torno de 1mm. O do meu carro ficou em 1.4mm, enquanto que o original normalmente fica na casa dos 2mm, mantendo-se um equilíbrio entre a plaina que já havia sido feita no cabeçote, o que resultou numa taxa de compressão estática de 13,5:1.
Alívio de peso
No pacote de montagem desse novo estágio do motor, aproveitei para incluir um alívio mais extremo no volante do motor. Anteriormente, a peça original já tinha recebido um pequeno retrabalho, bem de leve mesmo, já que concentrei o alívio no virabequim, conforme contei no Post #1. Do jeito que estava, o volante do motor pesava 9kg. Depois do retrabalho, o volante – ou o que sobrou dele, emagreceu 3kg, ficando agora com exatos 6kg.
Confesso que fiquei bem impressionado com o resultado visual da peça. Mas o preparador garante de pé junto que os volantes gringos da SBDev para Opel/Vauxhall recebem alívio muito mais extremo que esse. Oremos!
Equilibrando a equação, a outra ponta do virabrequim, onde vai a polia do alternador, também recebeu atenção. Na montagem anterior, eu usava a polia original do Kadett 1.8, que é do tipo V. Engraçado que desde o primeiro minuto eu tive problemas com essa polia, que não perdia uma oportunidade de escapulir e me deixar na mão. Quando não se soltava na pista, me obrigando a parar para trocar, ela ficava cantando uma musiquinha bem chata. Nem preciso ilustrar.
Por sugestão do mecânico, resolvemos substituir a polia V simples pelo modelo Poly-V, que teoricamente trará menos dor de cabeça. Mas ao invés de usar uma peça de linha de montagem, resolvemos mandar usinar outra idêntica em alumínio dural. E a perda de peso também foi significativa: enquanto a original tem 1,5kg, a de alumínio pesa apenas 730g. É o que vocês podem conferir nas fotos abaixo:
Por causa das mudanças, o balanceamento do conjunto também sofreu alterações, o que me introduz no próximo assunto:
Balanceamento do motor
Uma das coisas que aprendi a duras penas nessa vida de entusiasta foi sempre fazer (ou encomendar) coisas bem-feitas. Economizar com gambiarra é prejuízo na certa. Por isso, em função das mudanças no volante e na polia do alternador, foi necessário balancear todas as peças móveis do motor.
Começamos pelo balanceamento estático, que consiste em pesar pistões, bielas, pinos e anéis em uma balança de precisão para garantir que os 4 conjuntos tenham o mesmo peso. Isso assegura que, ao serem conectadas ao virabrequim, elimine-se a vibração do motor por desequilíbrio de peso entre tais peças.
Aliado a isso, também fizemos novo balanceamento do virabrequim, juntamente com o volante recém-aliviado e com a nova polia do alternador. E tem videozinho para galera que nunca viu isso rolando ao vivo antes:
E tem mais: conforme prometido, a bomba de óleo original do motor 2.4 recebeu novas engrenagens da SBDev, mais o kit da válvula by-pass, novas molas e arruelas para garantir a pressão correta.
Motor na bancada
Com tudo em mãos, a última atualização que eu tenho do motor é essa foto de todas as peças organizadas na bancada de montagem da oficina. O Daniel – da Home Garage – é um preparador muito estudioso e bastante capacitado, tendo adquirido sua experiência como mecânico da GT3 Brasil. Hoje ele presta serviços de preparação e acerto de motores, inclusive suspensão para trackdays e demais aplicações de uso soviético.
Nesse exato momento, estou aguardando o motor ser fechado para decidir se farei a montagem do powertrain aqui em Goiânia ou se mando o carro para SP a fim de finalizá-lo por lá mesmo.
Bônus 1: volante Momo Champion
Na árdua tarefa de esperar sentado tudo isso acontecer, num belo dia me deparo com o anúncio de um amigo vendendo essa preciosidade: um volante Momo Champion, das antigas, em ótimo estado de conservação. Sem titubear, arrematei o bendito e cá está comigo, também aguardando a conclusão da funilaria para ocupar o seu lugar no Kadettão.
Bônus 2: painel digital
Todo mundo conhece aquele ditado: “Mente vazia, oficina do diabo”. Mas no Lizarb, a reversal seria “Oficina vazia, mente …” Bom deixa pra lá. O fato é que com bastante tempo vago e pouco progresso, decidi trocar meu painel, que era uma gambiarra total, pelo sonho de consumo de todo Kadetteiro/Monzeiro: o painel digital. Pensei assim: já que vou dar uma levantada geral no carro, porque não colocar um painel desses? Tá aí, então. Só a foto que é emprestada, mas o meu é igualzinho:
Saída para a funilaria
At last, but not least, enquanto isso, aqui na terra do pequi, o carro finalmente seguirá para a funilaria. Nesses vários meses de espera, meu plano era enviar o carro completamente desmontado para a pintura. Isso porque eu queria garantir que tudo fosse cuidadosamente desmontado: forros de porta, presilhas, faróis, acabamentos etc. Foi o que eu fiz.
O desmanche começou em maio/2015 e fiz questão de registrar tudo em fotos para depois transformar em um vídeo bacana, daqueles do tipo time lapse.
Diante da pressão convocação para atualizar o projeto, não tive tempo de concluir todo o processo de desmontagem. Eu queria que o vídeo capturasse tudo desde o início até a conclusão da pintura e montagem do motor.
Por enquanto, é isso! Um abraço, e mãos à graxa!
Por Weiler Júnior, Project Cars #16