Então, jovens…. agora que vocês já perceberam que realmente eu tenho problemas, vamos ao que definitivamente interessa aqui, a execução propriamente dita do swap.
Sempre digo que: swap é uma treta sem tamanho(jamais caia no conto do plug and play), que incomoda, que tira o sono mas assim que você liga o carro pela primeira vez, tudo o que você quer é fazer outro! Sim, isso é doentio, eu sei.
Tudo conspira!
O correto seria abrir o 1.4, retificar, subir as peças novas e pronto, mas todo mundo tem um amigo pilha ruim né? Assim, efetivamente me rendi ao swap quando esse meu amigo pilha ruim apareceu, convenientemente, com um TU5JP4 (1.6 16v PSA de um Xsara 2002) por um preço irrecusável, ou seja, não tinha nem opção para pensar mais de uma vez. Fechei com ele e marquei para ir buscar o mais rápido possível.
Peguei o primeiro fim de semana disponível, juntei os outros dois NonSenses, Bruno e Denner, e rumamos para Florianópolis. Acima o registro do fatídico dia, eu, Bressix (o pilha ruim), Bruno (já passou por aqui com um 306 Rallye) e o Denner (ué, cade? Ah, ele some as vezes).
Bora para a UTI!
Então, era chegada a hora legal, tirar o motor antigo e abrir espaço para o novo. Avaliar tudo o que vai ser necessário para o swap e o que não vai. Na foto eu, Macarrão (outro doido da galera), Bruno e Denner, que dessa vez não sumiu.
Tirar um motor fora do cofre é um trabalho legal e relativamente fácil, tendo as ferramentas corretas obviamente, então estávamos animados para isso. Estruturalmente o motor original do 205 e o TU5 novo não tem diferenças expressivas, então o trabalho de montagem depois seria também simples.
As premissas do swap seriam as seguintes:
– Usaria o câmbio do 1.6, mesmo sendo mais longo. Ambos os motores compartilham a mesma família de câmbios, MA5 tecnicamente falando. Há duas diferenças apenas, os acionadores(apenas a posição de encaixe das bieletas é diferente) e as relações, de resto é o mesmo cambio;
– Subiria o motor sem modificações de performance(já é um daily swapado, está ótimo já né jovem?), único ponto alterado foi o coletor de escape que optei por um 4×1, mas só porque o original é uma porcaria e gigante, não caberia na minha idéia hahaha
– A injeção também seria original. Os 1.6 16v antigos da PSA usam uma central Bosch que facilita as coisas pois não é tão dependente da famosa e odiada BSI dos PSAs, a ME 7.4.4 e não por menos meu motor já veio com ela. Como eu queria, o motor é só a gasolina também;
– e por último mas não menos importante, queria manter o máximo possível de coisas originais do próprio 205, primeiro por facilidade e segundo pra manter o custo baixo desse projeto;
Bom, dito isso o swap foi definido e feito em tempo recorde, vejam:
É… doses industriais de cerveja
O novo motor velho
Depois de tirar o Tu3M do cofre do 205, passei para o novo motor, desmontar ele, avaliar tudo e deixar no jeito para a pancadaria. Avaliar também o chicote que veio com ele, porque teria que usar muitos dos conectores, então o trabalho seria grande.
As impressões gerais foram as seguintes:
– O motor estava muito bom no conjunto, mais uma sorte né?
– cabeçote bem assentado, sem marcas nas câmaras e válvulas, comandos e tuchos intactos;
– a sujeira nos pistões assustou, parece que usavam barro junto no combustível, mas depois de um talento ficou 100%;
– os cilindros estavam ótimos também, sem marcas e o topo sem vestígios de problemas na queima;
– no cárter a sujeira era bem modesta também, sem aquelas borras feias;
– a parte debaixo do bloco também estava muito bom. Desmontei os mancais para avaliar as bronzinas e estavam perfeitas. Então nem desmontei o conjunto, mantive bronzinas, anéis e retentores originais;
O cabeçote seguiu para a retífica, para o processo padrão – banho químico, troca de retentores, assentamento de válvulas e revisão dos dutos. Comecei a montagem logo na sequência, para ganhar tempo, já que iria fazer tudo na garagem de casa(?), não poderia me dar ao luxo de demorar uma eternidade.
Detalhe legal nesse momento é que a “garagem de casa” não era da minha casa efetivamente, e sim dos meus sogros, quando falei que ia ter que fazer esse trabalho e estava sem local com espaço, eles prontamente organizaram um espaço na casa deles que estava em reforma, fizeram até uma porta pra eu poder guardar as coisas hahaha deu um gás para fazer o trabalho, e como!
Bom, fechei a parte debaixo do bloco, dei um talento no cambio, comprei buchas e guias novas pro garfo, rolamento novo pra embreagem e mantive o volante, platô e embreagem do 1.4, por ser mais leve, o que depois eu descobriria que não da certo, a diferença de torque faz o conjunto todo patinar demais, infelizmente. E usar só o volante não é uma opção porque a pista é bem diferente;
Cambio montado depois de uma pequena adaptação em um dos parafusos, que comprei novos e um deles ficou pouca coisa maior. Não façam isso em casa, usem sempre equipamento de proteção, na foto o ângulo não ajuda, mas eu estava com a visão bem afastada das faíscas, mesmo assim não justifica né?
E montado o suporte inferior do bloco também, no detalhe da foto abaixo, é o do 1.4 que ainda estava ótimo e não queria gastar, até porque essa porcaria custa 380 reais hahaha
Cabeçote ficou pronto em poucos dias, mesmo sendo feito no açougue(lembram do 306? hahaha) ficou um bom serviço considerando um contexto geral.
Nesse ponto fiquei aguardando o coletor de escape, alternador, bomba de direção hidráulica e bicos, que não vieram no motor.
Mais detalhes!
Bom, pra quem quer vislumbrar melhor o que precisa para fazer um swap desse, seja em 205 ou 106 por exemplo, as premissas gerais são essas:
– para o 205, como disse acima, estruturalmente o motor original e um TU5 ou EC5(1.6 16v) são bem parecidos, então os motores cabem sim no cofre, apesar de não parecer;
– os câmbios são os mesmos, com relações diferentes, como eu disse também, então não precisa de adaptação em acionamento das marchas, os semi eixos podem ser do 205 mesmo. Embreagem e volante que precisa ser do 1.6 impreterivelmente, tentei usar o setup do 1.4, pelo volante ser BEM mais leve, mas não deu muito certo, patina demais;
– coxins do cambio, do motor superior e inferior dos semi eixos também se usa os originais;
– no caso do 106, é necessário usar o braço de suporte do 1.0 original, porque só ele vai encaixar no coxim. Os semi eixos precisam ser feitos sob medida, porque o do 106 é mais simples e oco;
– O sistema de arrefecimento pode ou ser substituído por completo por um de 1.6, para ambos os carros, ou pode ser usado o original com pequenas adaptações, se atentando ao fluxo correto da agua. E para o 106 só a ressalva de uma ventoinha decente, porque a original é deprimente hahaha
– a elétrica se for pra ser com central original, basta equalizar os principais sinais do chicote original com o chicote da central do 1.6(bobinas, bicos, map, tbi, temperatura e rotação basicamente). O arranque vem direto da chave, o restante é controlado por dois relés apenas. Isso usando da mesma central que comentei, ME 7.4.4;
– se for pra usar uma stand alone por exemplo, solte a imaginação, céu é o limite né;
– na parte de alimentação, o 205 e 106 são monoponto então trabalham com pressão linear de 1.5bar, sem pressurização, num swap desse tipo é preciso trocar a bomba de combustível, trocar as mangueiras pra aguentar a pressão, e pressurizar o sistema. Eu usei um regulador de pressão de Tempra, tem entrada, saída pressurizada e retorno, e é avulso o que ajuda na adaptação;
Basicamente é isso, não é tão complexo quanto parece.
É, dá trabalho!
Então, nesse ponto parei por alguns dias o trabalho por conta de uma viagem a trabalho, mas quando voltei as coisas caminharam mais rapidamente.
Volto no próximo com os detalhes da montagem do cabeçote no bloco, a subida do motor pro cofre, e o início das adaptações para viabilizar o swap, os estudos para determinar o que era mais fácil e assertivo à ser feito, etc.
Abraços galera!
Por Eurípedes Marley, Project Cars #236