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Project Cars Project Cars #305

Project Cars #305: a história do meu Fusca 1961

Olá, pessoal! Meu nome é Gustavo, tenho 23 anos, moro em uma cidade satélite de Brasília, sou aficionado por carros e doente pelos motores boxer aircooled praticamente desde sempre. Minha missão aqui é contar a história do Project Cars #305, o meu Fusca.

Como a maioria de vocês, eu tenho sérios problemas em relação aos carros. Acredito que minha vida teria sido mais fácil se tivesse sido incentivado a gostar de coisas mais simples, como futebol de botão, mas com certeza ela seria menos divertida. Como ja foi dito aqui várias vezes, as pessoas começam a gostar de carros por motivos diferentes, alguns são influenciados pelos pais desde o berço, outros por tios, ou por aquele vizinho que tem um carro barulhento e fica desfilando com ele pela quadra nos domingos de manhã. Enfim, comigo não foi muito diferente…

Mas e o gosto por um carro específico, de onde vem? Não sei exatamente, mas sei que algumas lembranças do passado, como aparência, sons, cheiros e momentos que nos marcaram podem fazer com que um carro seja amado ou odiado. Lembro de quando meu pai tinha comprado um Voyage Sport. Eu gostava muito daquele carro, da sua aparência, o som do motor, aquele interior xadrez e o cheiro de um VW da década de 90… como não gostar disso? Até que um belo dia meu pai me diz que tinha trocado de carro, tinha vendido o Voyage e comprado algo bem melhor… fiquei empolgado, porque afinal, o que poderia ser melhor do que isso? Até chegar em casa e me deparar com um Palio. Até hoje tenho vontade de tacar fogo em algum Palio. Outra vez que isso aconteceu foi quando meu pai comprou uma Chevy 500 com motor fundido… eu era criança, não sabia o que era isso, meu pai tentou me explicar e acabei entendendo que o motor tinha se derretido completamente. Quando ele me mostrou o motor eu vi essa cena:

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Que me lembrou muito isso:

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Eu era criança, então pensei que eram motores quase iguais (por causa do filtro grande e vermelho) e em seguida meu pai chamou eu e minha irmã para darmos uma volta no estacionamento. Eu ja imaginei: nossa, esse motor realmente é incrível! Por que mesmo todo derretido ele ainda anda? Já estava eufórico e ainda ele nos colocou na caçamba do carro para dar a tal volta. Para uma criança pequena foi muita emoção para um dia só. Com o mesmo carro ainda ouvi comentários de primos dizendo que não podia acelerar ela na curva porque provavelmente derraparia. Pronto, estava ali um carro para nunca mais ser vendido. Até que foi subistituida por uma Pampa. Acredito que chorei nesse dia e até hoje tenho raiva de Pampa, Delrey e Belina. Por isso acredito que as coisas que vivemos podem servir de motivação para gostarmos ou odiarmos muito um carro específico.

Tudo bem, esse Project Cars é sobre um Fusca e até agora só falei de Voyage, Palio, Chevy e Pampa. Aonde os Boxers entram nessa história? Bem, minha paixão por esses carros não veio de um carro específico do meu pai. Ele até teve uma Variant branca quando eu tinha uns três anos de idade, mas ele não teve boas experiências com ela, pois o carro praticamente não tinha assoalho e por onde passava, deixava uma nuvem de fumaça branca para trás:

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O carro que começou a minha paixão pelos Boxers da Vw provavelmente foi esse:

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Quando eu e minha irmã éramos novos, meu tio nos buscava na escola. Teve uma época em que ele tinha uma Variant vermelha. Me lembro de sentar no banco traseiro com aquela textura, cor e cheiro característicos de um VW da década de 70. A melhor parte era que meu tio sempre teve o pé pesado, então além das lembranças do cheiro e da aparência do interior do carro, me lembro daquela sinfonia vindo logo atrás do banco traseiro. Aquele som compassado vindo do Boxer 1.6 com dupla carburação subindo de giro… Nossa, não tem coisa mais incrível que esse som. A Variant era praticamente original, tinha apenas alguns acessórios de época, como a clássica bola de cambio de siri. Quando meu tio mudou de cidade, um amigo do meu pai passou a levar a gente para casa. Ele tinha um Fusca branco, roda pequena na frente e grande atrás, volante estilo “registro de torneira” (minúsculos volantes de época, a comparação é do meu amigo Clebão rsrs) e um escapamento modificado. Foram mais alguns meses andando nesse carro, bons tempos aqueles. Esses dois foram os que me fizeram olhar com outros olhos para os Vw aircooled. Depois deles, veio o Herbie (pedia para matar aula quando passava na sessão da tarde ou cinema em casa), vi meu tio restaurar um Fusca e as caixas com peças para o carro que eu ficava olhando nos fins de semana, cheguei a um ponto de ficar hipnotizado com o som da Kombi da igreja. Realmente isso deve ser doença.

Sempre fui aficionado por carros, passei pela fase de falar todos os modelos de carro que via na rua, fase Velozes e Furiosos, fase de babar no Gol da Magaof (quem nunca né?). Mas teve uma fase que comecei a tocar guitarra, participei de uma banda e acabei esfriando um pouco em relação aos carros. A doença não foi curada, só ficou um pouco adormecida. Quando chegou próximo da época de tirar a tão sonhada CNH, botei na cabeça que iria comprar meu primeiro carro. Não queria um carro comum, porque afinal, seria meu primeiro carro, aquele que eu vinha sonhando desde criança, aquele que eu lembraria para sempre. Decidi então que ele deveria ser diferente do comum, ter carisma, ter peças baratas e fáceis de encontrar e que qualquer pessoa saiba mexer. Fiz uma lista de alguns carros que atendiam essas exigências, mas o Fusca estava no topo da lista. Na época eu tinha um professor de física que tinha um Fusca (quem é de Brasília já deve ter tido aula com ele, o professor Girão) e eu achava tão divertido ele com o Fusca e as histórias que ele tinha com ele. Cortei os outros carros e decidi: vai ser um Fusca!

Só sabia que queria um Fusca, mas não entendia nada sobre eles. Lembro que quando era criança, via vários Fuscas na rua e apesar de todos serem Fuscas, alguns eram mais bonitos que os outros. Um dia estava indo trabalhar e vi um Fusca desse modelo parado em uma oficina. No horário do almoço fui ver o carro e … ele estava horrível! Mesmo assim gostei e pedi para que o meu pai fosse olhar ele comigo. Vamos lá: o assoalho era um retalho de chapa rebitada no que sobrava do assoalho antigo, os pedais ficavam suspensos e presos por um fio de chuveiro (faltou arame), os forros de porta eram de fibra e tinha vestígios que o carro teve aquele famoso forro de porta lotado de som. Meu pai viu o carro de longe e já não gostou. Perguntamos o ano e o vendedor nos informou que era um 1978, mas o cara tinha transformado ele em um “Fusca 69”. Não fiquei com ele, mas entendi que o modelo que queria era um Fusca 69, então oficialmente começou a caçada.

Foto de capa

Este é um legítimo Fusca da década de 60

Quando passava por alguma revenda de automóveis, já ficava atento vendo se tinha algum Fusca do ano que eu queria. Um dia, estava passando com o meu pai perto da Cidade do Automóvel (setor famoso em Brasília por conter várias lojas de revenda de carros) pedi para que a gente pudesse passar pelas lojas para tentar achar algo. Na última rua, vi um para-choque de um Fusca da década de 60 no fundo de uma loja. Paramos um pouco mais a frente e quando chegamos a loja vimos isso:

Era um Fusca 1969, estava bonito, tinha o “kit relíquia”, faixas brancas, pestana no farol e principalmente: tinha cheiro de Fusca. Pra quem não conhece Fusca, saiba: estes carros tem cheiro! É um cheiro inconfundível e quando sentei no banco do motorista me lembrei instantaneamente da época em que voltava da escola dentro da Variant. Enfim, em comparação com o ultimo, estava perfeito. Meu pai cochichou: Vou fazer uma proposta indecente, se ele aceitar a gente leva ele. Ele fez a proposta e o vendedor aceitou. Ficamos de voltar no fim de semana com um amigo que entendia bastante sobre Fuscas.

Quando voltamos eu estava ansioso para levar o meu sonhado Fusca para casa. Quando o amigo dele viu o carro já torceu o nariz. Ligou o motor e ele fez um barulho estranho (hoje sei que a ventoinha estava pegando na capela, era coisa fácil de resolver e ele nem se importou muito com isso) quando ele olhou embaixo do carro, percebeu que quem reformou o carro, fez um trabalho muito ruim, botando massa entre a carroceria e os para-lamas (???) e deixou um grande buraco no assoalho em baixo do banco traseiro. Nada feito, não valeria a pena consertar pelo preço que pagaríamos no carro. Saímos de lá e ele foi nos mostrar dois Fuscas que ele conhecia. Um deles era esse:

Fusca advogado

Estavam ótimos, mas muito caros para o que eu poderia pagar.

Ele disse que conhecia um mais barato… e aqui vai uma história que vale a pena ser contada:

Esse carro era de um sujeito que tinha uma amante. Ele morreu e o Fusca estava estacionado no prédio da amante quando isso aconteceu – provavelmente passou mal na casa dela, foi para o hospital e morreu lá. A mulher não poderia ir na casa da família devolver o Fusca, pois ninguém sabia que ele tinha uma amante. E assim o Fusca ficou vários anos esquecido na garagem dela. A mulher decidiu vender o carro, mas o novo dono teria que se entender com os documentos e a família. Apesar da história curiosa eu gostei muito do Fusca, tinha o estilo dos Fusquinhas envenenados de época: rodas pequenas e taludas, escapamento sem abafadores e volante estilo registro de torneira. Mas não tive coragem de tentar resolver o os documentos dele.

Depois desse Fusca, começamos a olhar os classificados. Vimos mais um Fusca barato e do ano que eu queria:

O vendedor pegou o carro em uma dívida e o deixou esquecido em baixo de um pé de manga. O carro estava cheio de manga podre por dentro, o motor estava fora do carro com a clássica gambiarra de usar dois alternadores, interior todo desmontado, vários podres em peças que são difíceis de encontrar. Nos despedimos e nunca mais voltamos lá.

Nessa altura da história eu já estava cansado de olhar carro e não achar o meu. A sensação é que eu já tinha olhado todos os Fuscas de Brasília (sabe de nada…). Um dia, fui com o meu pai em uma loja de tintas, ele estava demorando e tinha um jornal de anúncios por lá. Para passar o tempo, fui ler os anúncios e teve um que me chamou a atenção: Vende-se Fusca 1961. Fiquei curioso e decidi ligar. Acho que peguei o vendedor em uma hora ruim, ele foi um idiota pelo telefone, encerrei a ligação e apaguei o telefone. Na outra semana ele comprou um jornal e eu fiquei com os classificados. Vi os Fuscas, nenhum novo que eu já não tinha visto e o tal Fusca 1961 estava lá de novo. Como nem sabia como um Fusca 1961 se parecia, pesquisei um pouco e gostei muito do que descobri:

Foto traseira fusca 1969 Foto traseira fusca 1961Lanternas diferentes, nariz de placa diferente e o vigia traseiro menor

O curioso “saco de bode”

O modelo primeira série saiu com essa peça curiosa

Achei ele bem interessante. O Fusca começou a ser fabricado aqui no Brasil em 1959, e teve poucas alterações até 1961. Liguei para o vendedor e ele estava com o humor melhor, marcamos com ele e com o amigo do meu pai para irmos olhar o carro.

Estava bonito, as peças difíceis de encontrar estavam no lugar, o preço estava excelente (com esse valor não dava para comprar nem um Fusca em mal estado) o único problema dele era um “pequeno buraco no assoalho” e que estava parado havia uns quatro anos. Fizemos uma proposta indecente e torcemos para ele aceitar. Ele disse que iria pensar e ligava para a gente durante a semana. A semana não passou, não dormi direito e ele não ligou. Na quinta ligamos e ele tinha esquecido da gente! Ficamos desesperados dissemos: o carro é nosso, vamos buscar pela manhã!

Não pude ir porque estava trabalhando no dia, meu pai foi junto com uma plataforma e levou ele… para a oficina!

Quem tem ou teve um Fusca sabe do que digo: o carrinho é valente e não tem frescura! Chegando na oficina do meu tio, desceram o carro da plataforma, ele deu uma olhada e disse: esse motor vai ligar agora! Botou uma bateria no lugar, colocou um pouco de gasolina no carburador e mais nada! Não trocamos a gasolina velha, não trocou o óleo, velas nem nada. Girou a chave e ele acordou:

Depois poucos segundos, uma marcha lenta estabilizada

Quando cheguei em casa, meu pai me mostrou os vídeos e foi aquela coisa, eu com ansiedade para o carro chegar logo da oficina, meu pai feliz e minha mãe emocionada porque eu consegui comprar meu primeiro carro e que ele havia nascido primeiro que eles dois.

O Fusca ficou algumas semanas na oficina, foram reparados os freios, suspensão e uma revisão no motor. Depois de um tempo fomos buscar o carro e como ainda não tinha CNH, então o meu pai veio dirigindo o carro e eu fui no banco de trás, por causa do pequeno problema no carro:

Continua no próximo post…

Por Gustavo Oliveira, Project Cars #305

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