Minha paixão por carros sempre existiu desde que me entendo por gente. As primeiras serenatas foram para as siglas GT da Volkswagen. Sim, meu sonho era ter um Gol quadrado turbinado. Fui crescendo e a paixão permanecia, apenas mudando de galho: GT, GTS… quem sabe um dia consigo um Gol GTI, sonhava. A cor não tinha importância alguma, a sigla sim.
Quando arranjei meu primeiro emprego, aos 16 anos, as condições financeiras me fizeram esquecer as siglas e pensar nas coisas que realmente caberiam no meu bolso. Nessa questão de graxa, tudo estava por minha conta, sem um único centavo da família. E assim surgiram minhas primeiras histórias sobre quatro rodas – com um Ford Corcel I.
Na verdade, fiquei pouco tempo com o carro. Só que foi tempo suficiente para muitas histórias, pai e mãe naquele bololô todo e aquela tristeza que bate quando o filho não consegue atender as expectativas do tipo ser médico, advogado, sabe? E os amigos, então! “Cara, você é louco, vai pegar tétano ai!”, “Pedala Fred Flintstone, assoalho não tem…”, “Pizza de quê?”, “CHTriste”… e por aí vai…
Até que um belo dia, chego em casa e grito: “MÃE, TROQUEI DE CARRO!”. E ela me responde, também gritando:
– Graças a Deus, tomou vergonha na cara! E qual é o carro, filho?
– Um Fiat Oggi, mãe!
(silêncio predominante e princípio de enxaqueca por parte dela)
Detalhe, ela não tinha visto o carro ainda. Agora fica a critério da imaginação de vocês para visualizar a felicidade da minha família quando viram essa belezura aqui:
É. Não tinha para-choques, lanternas e o vigia era representado por um plástico transparente. Sim, ele tinha o interior monocromático – na medida do possível, claro. E eu digo: de alguma forma, neste momento, nasceu a paixão fieteira. Prestando curso técnico em automobilística no Senai, e sempre junto do clube do qual faço parte (um abraço a todos os membros do Quebra Cabeça Clube), o círculo de amigos só fez crescer mais a paixão. Muitos Apzeiros, GmLovers, Fordistas, Subaristas e até quem não sabia me zoam até hoje pelo Oggi! Bons tempos…
Eis que em uma noite formidável, lendo coisas sobre a famiglia 147, Uno e afins, e caçando mimos pro “amanhã não é Oggi” (ok, péssima essa), dou de cara com o dito cujo que me fez estar aqui no FlatOut, meu Neguinho !
Essa foi a foto que me chamou a atenção pelo Facebook do Luiz Carlos, o ex-dono. No mesmo momento entrei em contato com ele, pois estava embasbacado – eu só queria colocar um “kit pirulito” no meu 1300 e o cara tinha enfiado logo um 16V naquele cofre do Fiat 147!
Esse era o kit que tinha adquirido pro Oggi: 2E, intercooler…
Depois de parabenizá-lo, tive várias dúvidas respondidas – até o momento em que ele disse “pode ser seu”. Daí os olhos brilharam e um faniquito tomou conta de mim. Os pensamentos se embaralharam:
– Onde vou arrumar dinheiro?
– Como vou buscá-lo? O carro estava em Taubaté…
– Será que viria com a mecânica?
– Mas logo agora que eu ia emplacar meu projeto no Oggi?
Como vocês imaginam, eu aceitei começar outro desafio. Nessa altura do campeonato, minha mãe já havia me deserdado. Abri uma Auto Peças espalhada na casa, no quarto, na sala, no quintal… fico imaginando como seria se tivesse uma garagem. Seria pior ou melhor? Dei o Oggi como entrada, assumi um carnê com o Luizão e o carro veio sem mecânica, de guincho – a mecânica foi montada em uma Fiorino Pick-up, top!
Bem. A princípio, minha ideia era montar um aspirado, desde sempre usando o motor Sevel 8v, com coletor dimensionado 4×1 básico e um carburador Weber alimentando a usina, sem muito lero-lero por causa do pouco dinheiro. Mas a vida, ah… A vida é uma caixinha de surpresas, não é mesmo, Joseph Climber?
Pois é. No meio do caminho, em busca de up’s básicos para o Neguinho aconteceram algumas reviravoltas e o projeto tomou outro caminho. É o que vocês verão nos próximos capítulos, neste mesmo canal, neste mesmo horário!
Por Artur Moreira, Project Cars #32