Por Luca Franco Belgo, Project Cars #33
Fala, pessoal, tudo certo? Me chamo Luca Belga e sou o novo proprietário do Project Cars #33. Como devem saber o projeto ficou parado desde 2015 quando no começo de 2018 ele foi redescoberto por um amigo meu antes de passar para as minhas mãos. Para embalar melhor essa história de como esse carro foi parar na minha mão, vou contá-la para vocês, então tirem um tempo para a prática da leitura!
Em 2016 eu tinha acabado de vender minha moto, uma Triumph Street Triple 675, que apelidei carinhosamente de Fiona, pois era verde e bruta como um ogro mas era tratada como uma dama como a princesa do filme, e posso dizer que foi o melhor veículo que já tive o privilégio de possuir.
Sem comentários para ela. Porém, os jogos olímpicos no Rio de Janeiro haviam acabado e todo aquele esquema de segurança ‘padrão FIFA’ que estávamos acostumados acabou junto, nisso veio uma onda de violência avassaladora para a cidade e o fato de possuir uma moto desse gabarito, me fez desfazer do bem em prol de preservar a minha vida nessa cidade que ainda vive tempos difíceis, apesar de melhores.
O que tem uma moto a ver com toda essa história? Bom, a Fiona era o meu luxo, meu algo a mais que me divertia nos fins de semana pela Rodovia BR-040 e eu queria que seu legado permanecesse vivo (pelo menos na teoria) no veículo que seria seu substituto. estava decidido, seria um carro; mas que carro conseguiria comprar com uma quantidade limitada de dinheiro e que me proporcionasse o que a Triumph proporcionava pra mim?
Analisei vários candidatos, inclusive meu finado Fiat Uno CSL 1.6, praticamente um Uno 1.6 R com 4 portas. Analisei os Renault Clio 1.6, Gol 1.8, Nissan March 1.6 e outros compactos, mas sempre pensava que eram carros muito básicos e espartanos, queria aliar um bom conforto, acabamento e performance e numa faixa de preço de R$20mil. Quem seria um bom candidato?
Um Fiat Marea Turbo, lógico!
É um underdog total da sociedade automotiva, um carro muito à frente do seu tempo e por isso (e também por culpa da Fiat) sofreu muito na mão de donos e mecânicos despreparados para aquela tecnologia que, apesar de hoje nos ser comum, era algo raro a época. Afinal, quantos carros nacionais da década de 90 você conhece que tinha injeção e ignição sequencial, bobinas individuais, sensores de fase, rotação, detonação, fluxo de ar e outros mais? Eram poucos!
Um carro com uma bagagem eletrônica tão complexa, um cofre de motor não exatamente pensado para serem realizadas manutenções futuras, um plano de manutenção do fabricante que não passou por sua `tropicalização` e peças quase que na sua exclusividade importadas não poderia ser visto com bons olhos por mecânicos tão acostumados a motores mais simples, carburados ou alguns monoponto que utilizavam debímetro para coletar parâmetros para a central eletrônica. Mas essa história, nós entusiastas já sabemos.
Bom, depois de muita pesquisa na internet, só achei duas Mareas disponíveis em todo o estado do RJ, um sedan cinza vinci 2003 com 225.000km originais e uma prata bari 2004 com kit GNV, automaticamente o carro equipado com GNV estava descartado por motivos, para mim, óbvios.
À primeira vista a Marea cinza vinci estava em perfeito estado de conservação, o antigo dono tinha todo o histórico do modelo, incluindo a nota fiscal de compra, manuais, chaves reservas e histórico de manutenção. E eu sou do tipo de pessoa que, se vejo um carro bem mantido, não me importo com a quilometragem do painel. Porém aquele ditado de BMW baratas se aplica às Mareas Turbo também. Nada mais caro que uma Marea Turbo barata!
Mas entre o GNV e o baixo preço, fiquei com o baixo preço e a Marea Turbo de 225.000km era minha! Meu primeiro carro turbo, o famigerado Marea Turbo, o terror dos mecânicos! Eu como curioso e adepto do `faça você mesmo`, resolvi aprender na marra como era ter e manter, em casa, um Fiat Turbo.
O primeiro passo foi trocar a turbina, uma Masterpower 80222, a famosa UPTA, uma turbina de reposição bem comum entre as Marea Turbo por ser acessível e ser levemente maior que a original. Essa já bem cansada e com folga foi a primeira a sair para dar vez a uma Borgwarner K16 comprada da Pardal Racing (guardem esse nome, ele foi um enorme divisor de águas ao longo dessa novela).
Depois, continuando os upgrades, resolvi passar o carro para o álcool (famoso etanóis) e para isso, troquei os bicos originais por bicos Green Giant de 42lb; a bomba de combustível foi trocada por uma Dinamica de 12bar interna ao tanque e colocado o dosador de Tempra Turbo. Fiz o escapamento inteiro em 2,5 polegadas com apenas dois abafadores e instalei a obrigatória sonda de banda larga para monitorar o comportamento da usina. A reprogramação eletrônica ficou por conta do Hermes, um excelente profissional diga-se de passagem.
Acertada para rodar com 1,2 bar de pressão, o carro estava uma delícia. Num desses dias vi que a mulher que me acompanha até hoje é daquelas pra casar! Em uma viagem para Juiz de Fora – Minas Gerais, dei uma acelerada daquelas na rodovia, eis que ela vira pra mim e fala ‘Nossa! Até que enfim ouvi essa turbina encher!!’ Isso não é o tipo de coisa que, normalmente, se ouve de uma mulher! Ainda achou ruim que não pisei mais vezes, mas afinal, ainda estava pegando intimidade com a máquina! Tudo estava uma delícia, até que….
Bom, o bichinho do carro turbo havia me picado e já não tinha mais volta. Maldito o dia onde aprendi a regular a válvula Wastegate! Em um dos intervalos de almoço no trabalho, resolvi brincar de mexer nesse parafusinho do capeta e aumentei a pressão para 1,8 bar, vamos relembrar que esse carro tem 225.000 km em um motor onde o limite de giros é 7.200 rpm que já havia sido aberto, trocado três pistões e sabe-se lá a qualidade de serviço e das peças utilizadas nessa intervenção, mas só de ter trocado três pistões e deixado dois originais, já podia imaginar que não foi um bom mecânico que colocou as mãos nesse carro.
Acertada a pressão de turbo, aquele tapa no dosador para jogar mais comida para dentro e partiu aquela voltinha. Nos três primeiros dias, o carro era um canhão, andava muito e o ronco do motor era algo realmente sedutor e te estimulava a acelerar.
Num domingo a noite, voltando de um encontro de Marea aqui no RJ, numa avenida deserta, resolvo dar aquela sapatada pra limpar a garganta do bichão. No meio do processo, sinto uma engasgada e só, nada acendeu, a luz de óleo, injeção, os valores de sonda, todos permaneceram normais. Parei no sinal e a marcha lenta estável, pensei logo no acerto do chip, mas isso durou apenas alguns segundos, pois uma nuvem de fumaça tão densa quanto as que os motores Detroit Diesel fazem, abraçou o carro e por alguns segundos fiquei invisível no meio de uma neblina de vapor de óleo. Sim meus amigos, o motor da Marea fez Xablau! O Fivetech do alto dos seus já 235.000 km disse não para meus abusos e pôs-se a descansar. Mas sem perder a pose, consegui chegar em casa sem nenhuma dificuldade apesar de proporcionar, gratuitamente, o serviço de fumacê contra o mosquito da dengue pelas ruas onde o carro passou.
Em casa, começo a desmontagem, para tentar descobrir onde foi o último suspiro de vida do motor, resolvo desmontar parcialmente o motor e analisar no geral como era o cofre, meu primeiro contato intimo com um motor de Marea, passando a mão por todas as suas intimidades metálicas e descubro um motor praticamente intocado ao longo de seus 14 anos de vida, sensores originais, juntas, presilhas, guarnições, tudo datado do longínquo ano de 2002 (quando o carro foi montado). Sofri um pouco com o parafuso do tipo Ribe do cabeçote, mas consegui depenar a parte de cima do carro sem grandes dificuldades e fui, aos poucos percebendo que a Marea não era um bicho de sete cabeças como tanta gente falava, era um carro relativamente tranquilo de se mexer…talvez há 20 anos atrás não, mas o aproveitamento cada vez maior do compartimento do motor nos carros atuais, isso não assuste tanto.
Mas percebendo quer seria necessária uma intervenção maior, decidi que seria necessária a ajuda, espaço e ferramental de um especialista no assunto, e falando em Marea, não poderia ser qualquer mecânico.
E aonde a Marea Weekend azul aparece nessa história? Bem vou esclarecer isso agora.
Como a fama da complexidade mecânica do motor Pratola Serra, conhecido por nós como Fivetech, era grande, resolvi recorrer aos mecânicos especializados nesse tipo de motor e nesse ponto eu tive a grandiosíssima infelicidade de colocar o meu carro na mão de um sujeito que se dizia especialista em Marea mas nada mais era que um curioso que deixou meu carro pior do que estava quando ele entrou. Sim, é possível você deixar um carro com pistão derretido em um mecânico e ele sair de lá pior do que entrou, e eu descobri isso na dor dessa péssima experiencia. Não vou falar nomes, mas posso dizer que o serviço foi feito à Bangu, de qualquer jeito, nas coxas.
Ainda sem saber o que me aguardava, comecei a construir o escopo do projeto. Procurei maneiras de deixar meu projeto mais robusto e confiável, então decidi forjar o motor.
A sedan já estava desmontada, sem motor quando meu amigo Paulinho (Cujo o antigo dono da Marea Weekend azul também era dono de uma Marea Weekend preta), me contou sobre a MWT azul que estava parada há tempos num galpão no interior do Rio de Janeiro, recheada de equipamentos bem sofisticados de performance e que a intenção dele era comprar o carro, colocar todas as peças de performance, incluindo o motor, freios, suspensão etc no carro dele e vender a carroceria para o ferro velho ou para um desmanche. E nesse momento o Project Cars #33 entrou na minha vida.
Então, em conversa com o Paulinho, decidimos que eu ficaria com a carroceria da perua e ele ficaria com a carroceria do sedan. Mais tarde fiquei sabendo que essa perua que caira nas minhas mãos era o finado Project Cars #33 aqui do Flatout. Mas confesso que essa foi a última das minhas preocupações. Era necessário concluir o projeto.
Nesse post inicial, quis dar um embasamento de como tudo aconteceu e a continuação dessa nova chance de vida dessa Marea, ficará para o próximo post.