Buenas, Flatouters! Primeiramente meu muito obrigado aos leitores pela eleição do Gol como Project Car e me permitir contar um pouco de sua história! Danke Shön!
É impossível começar a história do PC#333 sem deixar de falar destes caras ai debaixo.
Foto espontânea de família, em 2012. Não houve combinação na escolha das camisetas.
Me chamo Max Loeffler, culpado! Sou irmão do Gus, à esquerda, dos PCs #43 (MothaFocus) e #200 (Passat Pointer) e do Bruno, à direita, Peugeot Lover inveterado. Vocês lerão muito sobre os dois durante este PC. Meus irmãos serviram tanto como inspiração quanto como suporte ao projeto e muitas das ideias passaram pelo crivo da família antes de serem realizadas. Em boa parte da última fase do projeto, rolou um incondicional apoio do Bruno nas projeções realizadas em Photoshop antes da decisão e execução de algumas ideias mais “radicais”, sempre procurando como resultado final a harmonia do conjunto, evitando exageros.
Desde que me conheço por gente gosto de carros, com uma certa queda por preparações e customizações. A história com carros começou cedo, desde os pequenos matchbox e kits de montar da Revell na infância até chegar aos de escala 1:1. Com o passar do tempo os carros apenas cresceram – e ficaram pouco a pouco mais caros – mas sempre fizeram parte da minha vida pessoal e profissional. Graças aos carros, trabalho hoje no departamento de Design da Renault do Brasil, já há seis anos. E trabalho ligado à indústria automotiva, quase sempre ligado à Renault há quase 17 anos, na maioria do tempo com a concepção de produtos em 3D, utilizando CatiaV4 (base Unix), CatiaV5 e, atualmente, na organização de atividades de Classe-A em IcemSURF – superfície 3D design final de um carro – além de atividades ligadas à Qualidade Industrial Design.
O gosto por carros fez com que hoje, além do Gol deste PC, eu tenha também outros projetos em paralelo: uma kombi ’65, a Valdirene, com motor torque injetado (abaixo), motor este sendo reconstruído minuciosamente devido à uma biela quebrada e meu carro de uso civil, um divertido Smart Fortwo Cabrio Turbo, o T1000, com o qual cogito um upgrade eletrônico para pular dos atuais 84cv para 109cv. Quem sabe futuros PC aqui no FlatOut.
Valdirene posando no AIC em abril de 2014
T1000 dando bug no sistema do estacionamento do shopping – luz verde, vaga livre, #sqn. =)
Antes de falar do Gol, contudo, vou contar como começou minha odisséia automotiva. Meu primeiro carro “em escala” foi um VW Passat Village ’87 1.6 bielão, carro que foi do meu pai, passou pela minha mãe, meu irmão e finalmente foi herdado por mim aos meus 20 anos.
VW Passat Village ’87, o primeiro carro
Muito antes disso é importante frisar que o vírus sobre carros preparados já havia me contaminado, numa noite de carona em uma Marajó de um amigo com motor de Maverick 4 cilindros turbo, durante uma disputa com um Voyage igualmente turbo, nas ruas de Curitiba. A sensação de aceleração infinita, o barulho, o cheiro, os discos incandescentes acesos à noite, o risco, a adrenalina… tarde demais. Pra complementar, anos mais tarde, um dos primeiros carros que dirigi na vida foi um Voyage Sport 1.8 turbo de um sócio do Gus, com 1.8 bar de pressão e booster pra 2.4!! Era o fim, estava contaminado!
O resultado destas experiências foi que, ainda em meu primeiro emprego, já havia comprado uma turbina Garrett com meus primeiros salários – que acabou nunca usada – antes mesmo de ter alguma coisa com rodas para instalá-la. Ficava admirando-a dentro do guarda-roupas, sonhando. Então no final de ’96 eu herdei o Passat, mas eu era um quebrado que mal pagava a faculdade então só consegui turbina-lo dois anos depois, no fim de ’98.
O kit utilizado na época foi um ISHI que adquiri com um amigo, vindo um Voyage 1.6 CHT. O kit veio com coletores Ford CHT e também com coletores VW AP, o que possibilitou a instalação no Passat. A instalação foi feita na garagem de casa por mim mesmo com a ajuda de um vizinho, durante uma janela de 1 semana de viagem dos meus pais e 1 semana igualmente enforcada na faculdade, pois era o tempo que eu tinha disponível para instalar – e sem que meus pais soubessem. Porém, a alegria durou pouco…
KIT ISHI para Ford CHT. Nos anos 80 era instalado pela concessionária com garantia de fábrica!
Coletor de Admissão com passagem de água
Sem muita experiência, carro com o escapamento aberto, avanço de ponto sem restrição e um tanque de álcool queimado na sexta-feira à noite na primeira volta, meu primeiro motor quebrado aconteceu já ali, antes mesmo do sol raiar e esta foi apenas a primeira quebra de pistão. Este carro ganhou um motor AP 2.0 posteriormente, colecionou diversas outras quebras de pistão, mas me deu algum aprendizado sobre avanço de ponto, temperatura de vela, pressão de turbo versus taxa de compressão alta, entre outras.
Motor AP2.0 Turbo ISHI à 0.8bar, 13:1 de taxa, alimentação mecânica. Colecionador de ossos
Em 2001 tive este passat roubado e nunca mais recuperado, desapareceu completamente, me deixando a pé novamente.
Último registro do Passat no final de 2000, antes de mais uma viagem à praia
Nesta mesma época, eu fiz um grande amigo de faculdade que fez um clone do meu carro; um VW Passat Village ’87 igualmente branco e igualmente turbinado no sistema ISHI. A única coisa que os diferenciava era o jogo de rodas. Nossa diversão era desfilar com os carros iguais e de vez em quando acelerar, obviamente. Acontece que um tempo depois do roubo, meu amigo acabou vendendo também o Passat dele, porém sem o turbo. E por coincidência do destino, antes de vender o carro, ele me pergunta se eu não teria um jogo de rodas sobrando para ele vender com o carro, furação VW – a única coisa que me tinha sobrado do Passat era um jogo de rodas LeMans 14″ que eu usava vez ou outra. Não deu outra, trocamos o jogo de rodas pelo Kit ISHI. Pela segunda vez eu tinha um turbo nas mãos sem ter um carro para usar.
Em paralelo à esta história existia um Gol 1000 ’95, adquirido em fevereiro de ’97 pelo Gus por conta do acidente com o Passat que era, nesta época, o seu carro de uso. O Gol chegou magrinho, feinho, fraquinho…
VW Gol 1000 1995 durante seus 15 minutos de originalidade
Os dois primeiros problemas foram resolvidos logo no primeiro dia, enquanto o problema de falta de força foi resolvido um tempo depois.
Tratamento de beleza Loeffler, três horas depois. Melhor que botox…
O Gus ficou com o carro por um ano mas, irritado com a falta de força do CHT 1000, ele acabou sendo vendido pra um “amigo” dele em fevereiro de 98 — num dilema entre trocar o motor do Gol ou comprar o Passat que seria futuramente o PC#200, tenho a impressão que foi feita a escolha certa. Mas o Gol ainda estava financiado e o novo comprador, por ser amigo, pediu pra que meu irmão não assinasse o DUT nem transferisse o financiamento, pois ele não poderia transferir o carro naquele momento – em função de outras tretas de família. Ainda assim, o amigo assumiria o financiamento a partir dali. Negócio feito no fio do bigode e o carro foi embora.
Foto de despedida antes da venda
Meses depois, quatro ou cinco meses para ser exato, bate em casa um oficial de justiça com um mandado de busca e apreensão do Gol. Oi? O motivo? Falta de pagamento do financiamento. O fio do bigode era curto! Surpresa geral em casa, o desafio era entender o que poderia ter acontecido. Meu irmão tentou entrar em contato com o “amigo” sem nenhum sucesso. O cara tinha desaparecido e o carro também! E a treta estava instaurada…
Foi então que começou uma busca por Curitiba em oficinas de amigos e possíveis locais onde o carro poderia estar. Após alguma procura o carro acabou sendo encontrado na oficina Transauto, do outro lado da cidade, abandonado, pois até lá o cara não tinha dado mais as caras. Treta resolvida, carro recuperado, conta paga na oficina, carro de volta à família — meu pai resolveu assumir a dívida e ficar com o Gol, que acabou sendo um segundo carro de uso até ser dado para o Bruno, meu irmão mais novo, que logo faria 18 anos. Quando recuperado, porém, o terceiro problema havia sido resolvido! O Gol voltou pra casa com mecânica e caixa VW, 1.8, no lugar do CHT original, um trabalho de cabeçote, uma taxinha, um belo escapamento dimensionado e rodas de liga do Gol GL aro 13″. O carro era bem espertinho…
Foi então que durante o período de uso pelo meu pai e pelo Bruno, o Gol acabou sofrendo um pequeno acidente que danificou o para-lama direito, o bico do capô, para-choque e pisca. Foi realizado um conserto bem meia boca no capô, para-lamas e pisca de segunda linha instalados, para-choque ainda ralado e o carro voltou à labuta. Logo depois aconteceu um problema que o imobilizou por um bom tempo…
Uma curta viagem até o litoral feita pelo Gus, para acompanhar o Rally de Antonina e no dia seguinte o Bruno percebe um ruído estranho no motor e perda de força em uma rua íngreme. Igualmente sem experiência, sua reação foi subir o giro para o carro ganhar força. Foi então que o ruído aumentou até o motor morrer. Foi tentada uma nova partida, o carro pegou e foi reacelerado novamente, agora parado. Então um pistão subindo rápido encontra com uma válvula possivelmente empenada dentro do cabeçote e a colisão inevitável acontece. O resultado foi uma biela em S, fragmentos do que um dia foi um pistão, cabeçote e bloco condenados e um guincho pra voltar pra casa! A única dúvida que restou foi a quem atribuir os créditos da quebra. =)
Oferta aos Deuses da velocidade, biela ainda guardada (!) do Gol (esq) e da Kombi (dir).
O Bruno não trabalhava, era estudante ainda, tão ou mais quebrado do que eu na época da faculdade. Meu pai já havia gastado o suficiente para nos tirar das enrascadas, então, o destino do Gol era virar jardineira no pátio de casa. E assim foi, até que em 2001 meu Passat foi roubado…. e as duas histórias se encontram.
Um dos raros registros fotográficos dos dois carros juntos
Eu já estava guardando um dinheiro pra comprar outro carro, um karmann guia que o pai do meu amigo Anderson tinha, quando minha mãe faz a proposta.
Mãe:“Por que tu não compras o carro do teu irmão que está ali apodrecendo no pátio? Pecado…”
Eu: “Porque eu não tenho dinheiro suficiente, mãe. E o carro nem motor tem, tem lata pra fazer, não tenho condições.”
Mãe: “Mas tu vai comprar outro carro velho! Pega este dinheiro e arruma este e depois tu paga teu irmão como puder.”
Eu: “Tá bom.”
E foi assim que voltei a ter um carro. No início de 2002 comprei bloco, cabeçote, pistões, tudo e finalmente pus o carro pra andar. Com o resto do dinheiro comprei um para-lama original, pisca, capa de para-choque dianteira e o carro foi inteiramente repintado (by Narcizo, da Zongara) e voltou ao mundo. Meu irmão acabou sendo ressarcido somente 1 ano e meio depois. Infelizmente não tenho fotos desta época.
Mas eu ainda tinha o kit turbo “na gaveta” mas queria primeiro quitar a dívida com a família. Acabei instalando o kit somente no fim de 2003. Tinha de novo um carro turbo, de novo um sistema ishi mas vou deixar esta história pra o próximo post!
Por Max Loeffler, Project Cars #333