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Project Cars Project Cars #337

Project Cars #337: comprando a Honda CB500 que se tornará uma Café Racer

Olá a todos, Flatouters. Dessa vez eu gostaria de, antes de tudo, agradecer pelo retorno e repercussão que o primeiro post teve. Fiquei bem feliz com isso! Realmente não esperava. Muito obrigado! Agora vamos ao que interessa.

Como disse no post anterior, estava resolvido. Seria uma 500 Four K1(até procurava também uma 550, mas nenhuma estava nas condições que eu queria/podia). Então, vamos à busca.

Era começo de 2015, nem sequer havia vendido a 450 Cafe ainda, mas já estava procurando uma 500.
Olhava todos os dias em todos os sites de venda, procurando algo acessível e razoavelmente em bom estado.
 Não queria pegar uma moto imaculada. Como iria modificar praticamente tudo, acho sacanagem pegar uma moto impecável pra cortar. O principal seria que ela estivesse com a mecânica boa. Já que para fazer (direito) um motor desses, sai caro. Bem caro.

Alguns pensam que é uma sacanagem fazer o que eu faço, pegar uma moto clássica dessas, cortar o quadro, modificar isso e aquilo. Mas eu vejo mais como um resgate.
 Como disse, aquelas motos perfeitas, imaculadas, totalmente originais, placa preta e com aparência de que acabaram de chegar diretamente dos anos 70, eu prefiro deixar como estão. Não só pelo preço, mas acho que essas coisas devem ser preservadas. São parte da história.

Eu tinha poucos pré-requisitos para encontrar uma moto. Como já disse, deveria ser uma 500 Four K1, com motor bom e rodas raiadas. Que me desculpem os que gostam, mas acho aquelas rodas de liga que usavam na época, da Scorro, terríveis. E não combinam com o projeto.

Rodas Scorro

Sobre a cor, era indiferente. Eu já tinha em mente que de qualquer forma, faria ela em Candy Blue.
 Passaram alguns meses, já tinha olhado algumas motos e na maioria delas me decepcionando pela falta de cuidado dos donos. Nenhuma me interessou. E ainda bem, porque não tinha vendido a 450 ainda, e nem tinha dinheiro pra comprar.

O que eu faço, é pegar aquela moto judiada e esquecida, que acaba saindo mais caro pra voltar ela pra forma original e impecável do que customizar.

Então, final de maio de 2015 a CB450 foi vendida. E vendi muito bem. Com o dinheiro dela daria para comprar a 500 e ainda pagar quase a metade do projeto todo (doce ilusão).

Por coincidência, logo após a venda, apareceu em um grupo do Facebook uma 500 Four 1974 K1 a venda. Mas espera, K1 74? É, existem algumas aqui no Brasil. Foram fabricadas de 71 a 73 no Japão, mas até algumas chegarem e serem vendidas por aqui, já era 1974. E foram vendidas assim.

Foto Anúncio

Pelas fotos, a moto parecia estar em ordem. Era verde, cor bonita até. Praticamente toda original, exceto pelo escapamento 4×1. O original é 4×4, um novo (réplica) hoje em dia não sai por menos de 5.000 Impeachments.  Outra coisa que me chamou a atenção foi que essa moto tinha freio a disco duplo na frente. Algo não original de fábrica, mas que era um acessório comum na época, já que os freios originais nunca tiveram um desempenho bom de fato (lembre-se de que era 1974, a tecnologia não era das melhores. E estamos falando de uma das primeiras motos a vir com freio a disco).

Originalmente, a 500 tem somente um disco na frente, do lado esquerdo. Mas essa moto tinha a bengala de suspensão direita espelhada, com a furação para a instalação da pinça (que é a mesma do lado esquerdo e usa o mesmo suporte). Outro disco exatamente igual ao do lado esquerdo, preso ao cubo pelos mesmos parafusos. Tudo feito com peças originais. Achei isso bem legal, ponto pra essa moto.

Foto Freio
 Ela estava em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Como meu irmão mora no Rj, podia aproveitar para fazer uma visita, e ver a moto. Já que Duque de Caxias e Rio são mais ou menos como Guarulhos e São Paulo.

Entrei em contato com o dono e conversamos bastante. A moto era do pai dele a 15 anos, toda original. Já tinha até aparecido como objeto de cena naquela novela recente que se passava anos 70, da Globo. Documento em ordem e tinha até o manual! Só estava meio judiada pelo tempo, cromo cansado, pintura de algumas peças estava descascada, mas isso era indiferente pra mim. Ele até mandou um vídeo dela funcionando, motor redondinho. Enfim, só boas notícias. Estava animado pra ir vê-la.

Enfim veio o final de semana, e fui para o Rj. Cheguei no sábado bem cedo, encontrei meu irmão e fomos juntos até Duque de Caxias. Chegando lá, na loja do Ralf, muitos de vocês que curtem motos antigas devem conhecer, o cara tem de tudo. O dono da moto trabalhava lá.

Fomos bem recebidos por ele e pelo filho, com quem eu tive contato antes. Olhando a moto, percebi que de fato, ela estava bem judiada visualmente. Algo como se tivessem tirado o tanque e o motor e largado a moto no tempo por 30 anos.

Tentei ser o mais criterioso possível na avaliação da moto. Vi que já tinha levado uma queda. Farol não era original, suporte de para-lama ralado, tampa do platinado ralada. Mas nada muito sério. A moto pegava fácil e estava alinhada. Toda elétrica funcionava e andava muito bem, apesar da embreagem extremamente pesada.
 Não tinha vazamentos de óleo, motor não batia, não fazia barulho nem fumava. Mas notei muita carbonização dentro do escapamento, que pensei ser por ela estar com um acerto de carburação bem gordo. Dava pra sentir o cheiro de gasolina com ela ligada.

De resto, apenas o velocímetro e conta giros estavam sem os cabos. Mas me garantiram que funcionavam.

Conversei com o pai, proprietário da moto. Contou toda sua história com ela, e que estava vendendo por ter um problema na coluna e não poder usar mais. Disse também que havia trocado recentemente os anéis do motor. O que achei bom, e normal para uma moto com esse tipo de motor e 40 anos de idade.

Outra coisa que ele me disse, foi que a 500 tem um problema na embreagem. Coisa que eu já sabia. Na verdade, o cambio e a embreagem dessa moto, são praticamente os mesmos da Cb 350 twin. Ou seja, são subdimensionados para o motor. Sendo assim, é “normal” ter um desgaste mais rápido da embreagem nessa moto. E o que ele fez? Colocou mais um disco de embreagem, algo que era normal segundo ele para aumentar a pressão no conjunto, e por isso ela era tão pesada (sim, eu também fiz um facepalm).

Fui embora sem fechar negócio. Precisava pensar e ter certeza se valia a pena ou não pegar aquela moto.
 Tinha muita coisa pra fazer. Mas teoricamente, coisas simples. No resto, como pintura e acabamentos, eu já iria mexer de qualquer jeito, então era indiferente. E já que o motor estava bom, esse gasto eu não teria. Voltei pra São Paulo e conversei com meu pai. Na década de 70 ele teve uma 500. Na verdade, antes teve uma Cb 350, com guidão Tomazelli e banco com rabeta. Customização normal da época. Praticamente uma Cafe Racer.

350 pai

 Depois dela ele teve uma 500, que tinha sido do meu tio, irmão dele. Essa ficou original, exceto pela pintura que era customizada.

500 four pai

Já tinha essa vantagem, meu pai teve uma. Então conhecia bem sobre a moto. E até rolou uma nostalgia, ele curtiu a ideia de pegar essa moto. Mas disse desconhecer o problema da embreagem.

Durante alguns dias pensamos, conversamos. E pensei de novo sobre o que queria fazer com a moto. Olhei peças e mais peças no ebay pra ter uma ideia de custo. E resolvi fechar negócio.

Conversei novamente com o filho do dono e acertamos um valor. Paguei um sinal para ele segurar a moto pra mim e combinamos que iria busca-la no dia 11 de julho, um sábado.

Um detalhe importante na história desse projeto, é que eu queria muito participar com ela do Distinguished Gentleman’s Ride de 2015. Que aconteceu no dia 27 de Setembro. Sendo assim, eu teria 2 meses e meio para finalizar o projeto. Ou seja, tinha pressa. Muita pressa.

Convenci dois amigos a irem comigo. Seria legal ter companhia na estrada nas quase 10 horas de viagem. Mas principalmente, seria bom ter ajuda pra colocar os quase 200kg de moto em cima de uma pick-up grande. Mesmo com uma rampa, seria perigoso sozinho. Muito obrigado por isso!

Saí de São Paulo de madrugada. Fizemos uma viagem rápida e chegamos à porta da loja cerca de 9 da manhã. Tudo acertado. Moto paga, doc de transferência em mãos. E ainda tinha o manual de manutenção!
 Colocamos e moto na pick-up e começamos a voltar.

Logo no começo da viagem, o Tiago, um dos que estavam comigo, perguntou porque nem sequer liguei a moto. E me dei conta de que deveria ter feito isso. Paramos num posto, fui ligar e… nada. Aparentemente, era só bateria descarregada. Não pegou na partida elétrica, mas no kick, pegou de primeira.

Com a consciência mais tranquila, retomamos viagem.

500 na hilux

À tarde, chegamos em Sp. Depois de almoçar e levar os amigos nas respectivas casas, e com a ansiedade me corroendo, fui ver a moto com mais tempo e atenção. Aparentemente, nenhuma surpresa. Então era hora de dar uma volta.

Ignição ok, gasolina ok, partida elétrica não-ok, mas pegou no kick. Dei uma volta, algumas aceleradas e percebi que os freios eram bem ruins. E a embreagem dura chegava a doer o braço. Mas ok, estava andando bem.

Fui pra casa, já querendo começar a mexer. E pra minha surpresa, a moto não ligava mais. De jeito nenhum. Tinha gasolina, bateria tinha 12v, luzes acendiam, motor girava no kick, mas não ligava por nada.

500 em casa

Em casa. Amando e odiando ao mesmo tempo

Aí já fiquei desesperado. Achando que já tinha dado algum problema sério no motor. E já pensei de tudo. Medo de ter sido feito de trouxa, de ter comprado coisa bichada. Tudo aquilo que você pensa quando te passam a perna, passou pela minha cabeça. Mas, a continuação dessa história fica para a próxima parte. Até lá!

Por Guilherme Marchetti, Project Cars #337

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