Olá a todos. Antes de dar prosseguimento ao meu Project Car, tenho uma triste notícia. No mesmo dia em que a segunda parte da história do Gol foi publicada, 16/09, o preparador responsável pelos ajustes e fechamento do meu motor infelizmente veio a falecer em um acidente com seu Gol bi turbo (sim, você leu certo, era um kit protótipo da Borg, empresa onde ele trabalhou alguns anos e mantinha um excelente relacionamento) com aproximados 650cv, que nasceu na mesma época da preparação do Gol, 2006/2007. Bam Bam: você cumpriu sua missão nesse plano material e hoje está livre para buscar sua evolução. Esteja em Paz.
Quebrando a cabeça
Estamos em 2010 e como dito anteriormente, chegara a hora do meu carro sofrer uma mudança considerável. Uma manhã de sábado puxei uma cadeira, abri o capô e comecei a visualizar como seriam as mudanças. Há algum tempo buscava informações sobre como fazer o Wiretuck (técnica de se esconder fios e periféricos do motor) e em um fórum encontrei o Argentino Jorge Cabrera. Paralelo a isso o meu amigo Pitoco estava começando a mexer em seu Voyage turbo com a intenção de realizar modificações no cofre também, e assim começamos a nos falar e trocar figurinhas.
Com fita crepe marquei tudo que deveria sair, identifiquei cada um dos fios com a ajuda do vizinho da minha mãe que é eletricista e com meu Pai auxiliando, comecei a desmontar. Logo após a fiação, comecei a mexer nos reservatórios e tive uma ideia de como ficaria tudo depois de pronto. Percebi que seria necessária a retirada do painel de instrumentos para que grande parte do chicote elétrico fosse “escondido” e algumas horas depois, dei dois passos para trás, respirei fundo e disse: f****, agora vai ficar difícil para remontar tudo!
Plano A
A ideia inicial era pintar o compartimento do motor, remontar toda a fiação e rodar novamente, porém o meu TOC me fez reparar alguns detalhes na pintura, coisas que hora ou outra viriam incomodar. Foi então que decidi radicalizar: vamos fazer de cabo-a-rabo. Busquei alguns funileiros e expus a minha ideia, pesquisei sobre métodos de preparação da lataria, medidas de alinhamento do monobloco, marcas de primer, fundo PU, shade, tinta, verniz e demais produtos, enfim encontrei dois irmãos que já haviam feito serviços anteriormente em meus carros e que se propuseram a encarar o desafio, desde que não houvesse pressa para a conclusão.
Plano A foi pro saco, vamos pro planoB
O monobloco junto com as suspensões foi levado à oficina e enquanto era trabalhado, comecei a definir como seria o acabamento das peças. Me recordei de um acabamento chamado bi cromatizado, além da opção pela dupla preto fosco e preto brilhante, e o clássico cromo.
O trabalho na carroceria começou pelo cofre, marquei os furos a serem tapados, os suportes a serem removidos e acompanhei todo o processo de perto. Não tive coragem para assistir a lixadeira funcionando, tenho um apego imenso pelo carro e confesso que fiquei angustiado, no final da semana o funileiro me ligou e disse: dá uma passada aqui pra ver como está, mas não se assuste com o que vai ver. Parece fácil, mas só de funilaria foi 1 ano (lembrem-se que eles só aceitaram o serviço se não houvesse pressa).
Pesquisei, perguntei, atormentei e fiz peça a peça a personalização. O primeiro passo foi o motor: as polias de comando, intermediária, de virabrequim foram trocadas e cromadas, o alternador sofreu a desmontagem completa para revisão, tendo sua carcaça cromada e a polia recebendo o banho bi cromatizado, juntamente com seu suporte e parafusos.
O coletor de escape recebeu uma limpeza e revestimento com manta isolante térmica, além da troca da sonda lambda por uma da marca Bosch. Semieixos foram pintados e tiveram seus reparos trocados, buchas de quadro foram trocadas por itens semelhantes aos originais, optei por não utilizar peças em nylon para evitar vibrações e ruídos desnecessários, o mesmo caso se aplica as buchas de bandeja e suportes do motor, com exceção do coxim direito, para evitar que as cornetas da Weber batessem no capô. Prevendo as mudanças no sistema de refrigeração decorrentes da eliminação do reservatório de expansão, optei pela troca da bomba d’agua e válvula termostática, além das mangueiras. O radiador original foi para a troca da tampa superior pela tampa dos modelos anteriores a 1987.
A caixa de direção foi enviada para revisão. Troca de buchas, amortecedor e posterior pintura e banho, ambos os braços oferecem possibilidade de regulagem e foram montados invertidos (terminal entrando por baixo).
O próximo passo foi a definição do set up de suspensão a ser adotado. Entre infinitas opções no mercado nacional e externo, busquei confiabilidade e principalmente custo, foi então que entrei em contato com a Fênix para maiores informações. Entre as opções disponíveis na época, me ofereceram um chamado kit -3, com amortecedores de dupla ação e regulagem de dureza. Passei todas as especificações de motor e altura que pretendiam andar, além do tamanha das rodas e pneus. Em 20 dias o kit chegou, acompanhado das especificações de montagem.
A essa altura a funilaria estava quase pronta, seguindo para a fase de acabamento e preparação para a pintura. Foi então que busquei upgrade para os freios, as pinças dianteiras foram trocadas por modelos do Santana, tendo seus reparos mandados para a troca, flexíveis, canos e cilindro mestre novos, tambores traseiros e cilindros de roda da Saveiro e mais uma etapa realizada.
TOC, sempre ele
Entre a entrada da carroceira na funilaria e todo o processo pronto, foi mais de 1 ano e meio. Eu tinha todas a peças prontas para serem instaladas, só faltava a carroceria, foi então que comecei a pesquisar qual seria a cor. Sempre adorei a cor do Gol, Verde Angra, mas confesso que pesquisei outras opções, mas finalmente a cor original acabou prevalecendo. No ano de 1993 haviam duas variações do Verde Angra, uma puxada para o Azul e outra para o Amarelo, minha carroceria veio de fábrica com o fundo Azul e foi essa a minha opção. Quando fiz o pedido ao revendedor solicitei que fizesse a formulação ligeiramente mais carregada com flocos metálicos e o resultado não poderia ter ficado melhor.
O grande desafio foi a escolha do conjunto Rodas/Pneus, onde a ideia original era um jogo de BBS RS 3 pieces originais, porem a enxurrada de réplicas acompanhada dos termos “raro” e “exclusivo” usado para qualquer réplica vinda da China me fez procurar algo fora da caixa. Em conversa com alguns conhecidos surgiu a ideia de utilizar Rodas de Mercedes, um desafio pois utilizam furação 5×112 e o Gol 4×100. Encontrei um jogo de rodas Ronal, utilizadas nas Classe A Elegance, que o vendedor tinha trazido na caixa da Europa.
Com o preço acordado, parti para são Paulo para buscá-las juntamente com um jogo de pneus 165/50/15 para que ficassem com o perfil ideal para as minhas caixas de roda. Para adaptar as rodas aos cubos, corrigindo a diferença de offset de 17mm, providenciei junto a SG Adaptadores, de Diadema, um conjunto de adaptadores de 20mm de espessura, com parafusos cônicos específicos para as rodas de Mercedes (as danadas tem até o perfil cônico diferente para assentamento dos parafusos).
Conjunto pronto para ser instalado, foi para debaixo da cama aguardando o momento de ir para o carro.
Pedras no caminho, parte 2
Tudo estava caminhando bem no projeto, quando no Dia dos Pais de 2011 estava no mercado e minha mãe me liga pedindo para voltar logo pois meu pai havia caído na cozinha. Acabara de ter um AVC, o terceiro em sua vida. Corremos para o hospital e providenciamos os devidos cuidados, as prioridades mudaram e o projeto sofreu sua primeira pausa. Foram quatro meses até a retomada, quando consegui dar prosseguimento e em dezembro do mesmo ano ele finalmente foi pintado.
Carroceria pintada, mecânica no lugar e a essa altura eu havia feito uma limpa na garagem (vendi Vectra, Fazer, Srad, velotrol, carrinho de rolimã) e na conta bancária para comprar minha casa, e foi pra lá que o Gol seguiu durante as minha férias do trabalho.
Chegou a hora de fazer toda a fiação voltar para o cofre, porém escondida. O vizinho da minha mãe me conseguiu um chicote dianteiro original e completo de um Gol1992, levei para casa e comecei a estudar por onde passariam os fios. Depois de alguns dias visualizando, comecei a picotar. Meu amigo Pitoco me enviou o esquema elétrico completo, liguei o multímetro e comecei as medições.
Tirei os fios dos chicotes, estiquei-os por onde passariam, comprei espaguete termo retrátil e vim passando a fiação começando pelas extremidades e vindo em sentido à caixa de fusíveis. Como mudou o percurso, a maioria dos fios precisou ser aumentada, foi aí que entrou em cena o antigo chicote, tomando cuidado para manter as cores originais da VW nos respectivos fios. Os relês do farol alto, baixo e milha ficaram embaixo da capa do para-lama esquerdo, além do rele da buzina.
O chicote do motor passou por baixo do painel, o modulo da ignição eletrônica ficou do lado de dentro, atrás do porta-luvas, juntamente com a fiação dos sensores, alternador e demais.
Fui a um colega serralheiro e pedi para cortar uma placa de metal, nela fixei o filtro de combustível, bomba elétrica e a dosadora e fixei logo à frente do eixo traseiro. Com a mecânica no lugar retirei as velas, espirrei óleo em spray nos cilindros, liguei a bateria e girei o motor até subir a pressão do óleo. Coloquei novamente a velas, enchi a cuba com gasolina e tentei a primeira partida, com o motor funcionando de primeira, obviamente sem acerto algum, mas funcionou.
A próxima etapa seria o sistema de arrefecimento, comprei uma ventoinha slim e a instalei na frente do radiador, conectei as mangueiras, desta vez com álcool no tanque e funcionei novamente buscando um primeiro acerta de alimentação e ponto de ignição até atingir a temperatura de funcionamento em que a ventoinha acionou. Enfim estava vivo !!!.
Motor funcionando, carro com as quatro rodas no chão, freios operando, o próximo passo foi a montagem do painel e encaminhar à montagem de vidros, tapeçaria, partes moveis da carroceria, e demais acabamentos.
Na próxima parte da história falarei sobre como é complicado o progresso quando se tem pessoas pouco comprometidas trabalhando em seu carro.
Por Fernando Gorks, Project Cars #383