Dando continuidade, chegou a segunda-feira, dia planejado para retirada do carro depois de um final de semana de grande ansiedade, fui ao banco e após todo tramite fui buscar o carro.
Ao chegar o carro estava guardado e várias peças originais estavam junto com o carro — escapamento, coletor e mais algumas partes que foram substituídas. Ligamos o carro e começamos a conversar enquanto ele esquentava, o dono me deu algumas informações complementares e até este momento estava tudo dentro do planejado, eu não via a hora de sair com o carro.
Foi justamente na hora de sair que começaram os problemas, tirei o carro da garagem e ele… morreu! Será que eu ainda não acostumei com a embreagem? Preferi acreditar que sim, mas eu não consegui andar 20 metros com o carro antes de ele apagar novamente. O carro começou a falhar e praticamente não saía do lugar. Por sugestão do dono levamos o carro naquele mesmo momento para a oficina que fez o acerto do carro, fomos praticamente se arrastando, o carro não tinha força e falhava muito.
Chegando na oficina o mecânico olho e identificou que um dos cabos de vela tinha encostado na turbina e tinha derretido. Parecia que o problema tinha sido solucionado. O mecânico deu uma volta, mas o carro ainda estava estranho. O problema se apresentava intermitente. Passamos horas na oficina (tá bom para o meu primeiro dia de carro turbo…) e então comecei a aprender alguns detalhes do carro que até então eu não tinha conhecimento. A fueltech havia sido instalada antes mesmo do carro receber a preparação no motor, a instalação havia sido realizada por um parente do dono do carro que, como vamos descobrir mais adiante frente, não era gabaritado para fazer esse serviço.
Mexe daqui, mexe dali o carro parecia estar estável, fui embora e consegui curtir um pouco o carro, coisa de 15 minutos e algumas falhadas e o problema continuava intermitente. Confesso que não tive coragem e nem cara de levar minha esposa dar uma volta com o carro. No dia seguinte o carro piorou e tive que voltar a oficina, o mecânico andou, tentou entender e não achou o defeito.
Lembram no primeiro capítulo da história quando rapidamente comentei que o carro tinha uma fiação que seria retirada no final de semana? As suspeitas iniciais eram que, ao retirar a fiação, algo na parte de injeção poderia ter sido desligado ou danificado, então marcamos de deixar o carro no dia seguinte para o mecânico verificar o que poderia estar ocorrendo.
Meu terceiro dia de carro turbo começou deixando o carro na oficina. O mecânico ficou de fazer testes e identificar alguma possível falha elétrica na instalação da Fueltech. O dia passou e no final da tarde fui buscar o carro. Segundo o mecânico, o problema realmente estava na parte elétrica, mais precisamente em um conector da roda fônica que estava soltando e possivelmente mal isolado em uma das suas emendas.
Ao ligar o carro para ir embora da oficina achei o barulho do carro um pouco diferente, mas por estar pouco tempo com ele achei que era coisa da minha cabeça. Era de noite e horário de pico, peguei trânsito intenso na volta para casa. Se me lembro bem, consegui dar uma acelerada (muito de leve). Depois de alguns instantes parado no trânsito percebi uma fumaça vindo da frente do carro. Parei o carro e abri o capô: a mangueira do respiro estava soltando uma fumaça esbranquiçada.
Mandei mensagem para o mecânico e ele adiantou que o sintoma apresentado era de canaleta do pistão quebrada. Não consigo descrever aqui minha frustração, era um sentimento que misturava arrependimento, raiva e desgosto, confesso que poucas vezes na vida fiquei neste estado. Parei o carro em um posto de gasolina e fiquei refletindo por alguns momentos sem forças para sequer sair do carro. Tive vários pensamentos, eu não conseguia acreditar que um sonho de tanto tempo estava se transformando em um enorme pesadelo, daqueles que você tenta acordar e não consegue.
No dia seguinte levei o carro até a oficina mecânica, onde o mecânico, com uma análise visual, confirmou que aquilo era realmente sintoma de canaleta de pistão quebrada. Conversamos e ele disse que eu poderia colocar um jogo de pistão original, mas que por “segurança” ele iria diminuir a pressão do turbo, aquilo entrou na minha cabeça muito atravessado, eu não conseguia crer que um carro não aguentava 0.6 bar de pressão, segundo ele iria ficar em um limite de segurança até 0.5 bar. Deixei o carro lá e fiquei de pensar a respeito, nesse momento comecei a pesquisar e falar com pessoas, que em grande parte me aconselhavam a levar o carro para outro mecânico.
Pensei sobre o assunto, tentei ser o mais racional possível. Acredito que se levasse o carro em outra oficina e desse problema novamente iria piorar a situação, seria muito fácil uma ficar jogando a culpa na outra e assim por diante. Cheguei a cotar com uma oficina bem-conceituada em São Paulo e eles disseram que só pegariam meu carro se fosse para fazer do zero, entendi perfeitamente a condição e achei a posição deles extremamente profissional. A questão é que eu tinha comprado um carro que já tinha extrapolado meu orçamento e refazer o carro do zero em outra oficina era algo que fugia das minhas condições financeiras.
Cheguei à conclusão que iria fazer na oficina atual, e dessa vez o carro seria sim praticamente todo refeito, pois o motor seria aberto e por sua vez o mecânico poderia garantir o serviço de ponta a ponta. A ideia de rodar com 0.5 bar de pressão não me deixou contente e fui em busca de pistões que me permitissem rodar com pouca coisa mais de pressão sem grandes perigos de quebra.
Pesquisei marcas e possibilidades e adquiri os pistões forjados da IASA. Me avisaram sobre bater saia, que era normal em motores com pistões forjados. Levei os pistões para o mecânico, ele ficou de abrir o motor, mandar o cabeçote para retífica e brunir as camisas para acertar a folga dos novos pistões forjados, além de providenciar a abertura das bielas para 18mm, permitindo a instalação dos novos pistões que possuíam prisioneiros maiores. Ele me deu o prazo de duas semanas para entregar o carro.
A oficina não era tão perto de casa e não consegui acompanhar tão de perto o trabalho, também não me senti à vontade para ficar indo lá a todo momento – fui uma ou duas vezes antes da entrega do carro. A vida não é tão bela em alguns momentos e o que era para levar duas semanas levou quase quatro.
Até então eu já estava com o carro fazia mais de um mês e tinha rodado somente uns três dias. E foram três dias nos quais não tinha conseguido aproveitar o carro.
No próximo capítulo irei falar sobre a retirada do carro da oficina, acreditem ainda tem muita coisa para rolar!
Peço desculpas pela ausência de fotos nesse capitulo, acredito que essa fase foi a mais desgostosa, fiquei longe do carro e sem tesão nenhum em tirar fotos, a próxima fase terá muitas fotos para compensar.
Até a próxima!
Por Kleber Mazzei, Project Cars #387