Olá, amigos! Hoje estou retornando com a segunda parte da história da minha F100 V8.
Logo após ter colocado os documentos em meu nome ela saiu direto da vistoria no pátio do Detran para a oficina para ser desmontada. Quando a comprei o objetivo era ir restaurando aos poucos, mas devido a ansiedade não consegui aguardar e assim começou a saga da F100 V8.
Como não fazia a mínima idéia de em qual estado se encontraria realmente a parte mecânica devido à falta de histórico de manutenção, resolvi desmontar tudo. Eu sabia que teria muito trabalho a fazer para deixar ela do jeito que eu imaginava e também sabia que haveria muitos reparos a serem feitos. Além disso haviam algumas melhorias que gostaria de fazer para deixar a condução mais prazerosa, pois no momento ela estava bem judiada, fazendo todo tipo de barulho na suspensão e completamente sem freios, sem contar o fato de toda a lataria estar bem detonada.
Apesar de muitas pessoas condenarem o jateamento de areia, acabei optando por fazer e não tive problemas com as chapas devido a maior espessura do aço usado nos anos 60, mas também pedi que o profissional fizesse com a pistola bem inclinada para não ondular o metal.
Jateei toda a lataria e também o chassi para ver o real estado de ambos. Caso tivesse algum problema mais sério poder fazer o conserto de forma correta para maior segurança, mas ainda bem que o que se revelou foram apenas alguns consertos de baixo custo e péssima qualidade na lataria devido a pequenas colisões, além de problemas de corrosão que depois descobri que são característicos desse modelo de cabine. Após o jateamento foi feito um tratamento para evitar corrosão em todas as chapas e chassi para fazer uma restauração de boa qualidade e não me incomodar posteriormente. Durante esse processo descobri a cor original dela que estava encoberta pelo motor do limpador de para-brisa.
Na parte mecânica, como o motor estava em boas condições e no início eu queria um projeto para obtenção de placa preta, a única modificação escolhida seria a colocação de ignição eletrônica para melhorar o funcionamento e ganhar alguns cavalos, mas sem alterar as caraterísticas visuais para a vistoria, que não pode ter alterações nas características do carro e um mínimo de 80% de originalidade (mas como no Brasil tudo se dá um jeito e vi cada aberração com placa preta que acabei desistindo da idéia). Pesquisei vários kits completos da Pertronix nos Estados Unidos para comprar, mas devido à possível incompatibilidade com o distribuídor Wapsa original, acabei colocando meu distribuidor adaptado para acionamento eletrônico, feito aqui mesmo no Brasil e que atendeu bem as minhas expectativas.
Como a suspensão teria que ser totalmente refeita, os amortecedores deviam ser originais pois já não tinham mais nenhuma ação. Fui procurar para comprar e no Brasil não achei nada parecido pois os dianteiros eram com hastes nas duas pontas. Além disso, como os batentes não tinham sido trocados ocorreu até um desgaste no chassi. A solução foi o preenchimento e modificação no suporte do eixo para a utilização de amortecedores de F-1000 modelo até 1992, os quais também foram utilizados no eixo traseiro, sendo que esse eixo também precisou de reparos. Acredito que por excesso de peso ocorreu uma trinca e havia sido muito mal soldado.
Nessa parte entra a famosa “Jaque”: “já que” desmontei tudo revisei também o diferencial fazendo a troca de todos os rolamentos. Pesquisando descobri que ela usa um modelo licenciado feito pela Braseixos que não passa de um Ford 9” que é usado até hoje nos dragsters por incrível que pareça. Ele tem fama de ser indestrutível, mas como a relação é muito curta por ser utilitário e ela nunca mais vai carregar peso vou importar uma relação mais longa para diminuir ruído e aumentar um pouco a velocidade final. Além disso, pra minha surpresa, havia uma mola quebrada que tinha sido soldada, coisa que eu nunca tinha visto na vida, então apelei novamente para as F-1000 1992 e sua mola mestre, que tem as mesmas medidas.
Com relação aos freios também tive alguns problemas para encontrar peças. Mantive os quatro tambores, mas comprei algumas peças de estoque antigo, incluindo as lonas ainda fabricadas com amianto. A única modificação que fiz para melhorar a eficiência foi colocar duas sapatas nos dianteiros que originalmente possuíam apenas uma e que eu julguei serem pouco eficientes para segurar um veículo com bastante peso e motor V8. Apesar de não ser um carro de corridas, às vezes posso me empolgar um pouco e não quero sofrer com falta de freios.
Na parte elétrica também decidi fazer tudo novo, pois haviam muitos fios emendados e poderia causar alguma pane. Por isso decidi comprar um chicote original de estoque antigo, pois como seria uma restauração, nada melhor do que fazer bem feito, sem a popular gambiarra. Como ela não possui direção hidráulica e nem ar-condicionado (se bem que morando no Mato Grosso se torna um item necessário) optei por deixar o dínamo original. Talvez coloque um alternador se for colocar esses equipamentos, pois a direção dela é bem pesada para fazer manobras de estacionamento com o V8 na frente e pneus um pouco mais largos que os originais.
Acabei fazendo a mudança por pneus sem câmara e radiais por questão de segurança. Mas deixei as rodas aro 16 e coloquei apenas calotas e sobre aro de inox, pretendo mudar para aro 15 mantendo a aparência original, mas colocando pneus largos. Isso se eu importar os kits plug-and-play de ar e direção. Mas isso vai ficar para o futuro próximo se tudo der certo, com criança pequena em casa agora as prioridades são outras.
Como esse modelo foi fabricado em baixo volume devido ao mercado brasileiro da época ser bem pequeno, e além de que também tem o fato de ser um utilitário, geralmente sofrendo uso severo, aqui no Brasil não se acha absolutamente nada de peças e quando se encontra é tudo importado e com preço bem salgado. Por sorte nos Estados Unidos foram fabricadas muitas e lá esse é o modelo 1956, existem muitas peças de reposição devido ao aftermarket ser gigantesco, então decidi eu mesmo importar praticamente todos os acabamentos, emblemas, borrachas, guarnições, calotas, lanternas etc.
Pesquisei algumas lojas e acabei encontrando a Midfifty que é especializada em F100, acabei importando tudo o que precisava, apesar de pagar muitos impostos ainda saiu mais barato que comprar nas lojas daqui e sem falar da qualidade das peças e no comprometimento dos vendedores. Aqui no Brasil acabei comprando uma carroceria stepside nova e os para-lamas traseiros para substituir a carroceria de madeira que veio instalada quando comprei, não sei se a minha caminhonete saiu de fabrica com a carroceria de metal reta, que era a certa para o ano de fabricação, mas como eu gosto do visual da stepside ela foi a escolhida.
Após toda a desmontagem e verificação de peças que seriam necessárias começou a parte mais legal, que na minha opinião é pesquisar mais ainda sobre o veículo, procurar e comprar tudo o que seria necessário, tentando evitar a compra peças erradas. Mesmo assim acontece de comprar algo que não dá certo, faz parte do jogo. Vai um conselho a quem for restaurar um carro: antes de comprar, pesquise muito sobre o modelo e faça um bom planejamento, pois senão gastará muito dinheiro à toa.
Após a finalização da cabine e dos outros painéis foi feita a montagem de suspensão, freios, motor e câmbio para ser feito o alinhamento das peças, nesse momento ela deixou de ser um amontoado de peças e começou a tomar forma de caminhonete novamente. Depois do trabalho de funilaria para substituir painéis com corrosão e conserto de reparos mal feitos e evitar ao máximo o uso de massa plástica, sendo essa usada apenas para alisar algumas áreas e dar acabamento.
Muitos me questionam o motivo da escolha da cor que foi usada, pesquisei bastante sobre as cores usadas pela Ford na época, acabei comprando uma palheta de cores de F100 1956 no Ebay para ver quais eram as originais, pois aqui no Brasil, nem com a Ford consegui informações. Essa tonalidade foi a mais parecida que encontrei com a cor original sem precisar alterar os documentos que constam azul, assim decidi voltar um pouco as raízes, escolhi um azul turquesa que conforme a luz fica meio esverdeado, além de ser uma cor viva que se destaca em meio ao marasmo de preto, prata e branco dos dias de hoje.
Terminada pintura fui transferido de estado pela empresa que trabalho, ainda faltavam alguns detalhes como regulagem de motor e toda a tapeçaria.
Mas essa parte deixo pra o próximo capítulo, muito obrigado por acompanharem e até mais pessoal.
Por Marco Aurélio G. Peres, Project Cars #409